Jogos com impostores não são novidade hoje em dia, embora nos videogames seja algo bem mais recente, já que esse gênero é bem mais comum nos Board Games. Com certeza, você deve conhecer, ou ao menos ouviu falar, de Among Us, um jogo desse estilo que se destacou bastante nos últimos tempos. Project Winter, apesar de ter a mesma proposta, em que um grupo deve sobreviver e fugir de onde está e outro deve sabotar os demais – e até matá-los para impedir sua fuga -, é bem mais profundo e complexo.
Desenvolvimento: Other Ocean Group
Distribuição: Other Ocean Group
Jogadores: 5-8 (online)
Gênero: Sobrevivência
Classificação: 10 Anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Xbox One e PC
Duração: Sem Registro
Aprendendo a sobreviver no inverno

Project Winter é um multiplayer online de até 8 jogadores, em que todos se enfrentam e se ajudam em uma partida. Todos começam em uma cabana, e sua base é o único local realmente seguro. Nela, é possível construir ferramentas, armas, cozinhar, armazenar itens e votar em companheiros suspeitos para serem exilados.
A partida funciona com a grande maioria dos participantes constituindo a parcela dos sobreviventes e um grupo menor como os traidores. Os sobreviventes têm a tarefa de consertar alguns equipamentos espalhados pelo cenário para que possam chamar um veículo de resgate, enquanto os traidores precisam matar e sabotar os equipamentos da outra equipe.

Parece simples, né? Mas só parece. Na verdade, existe toda uma complexidade a ser entendida e desvendada em Project Winter. Os jogadores devem conseguir recursos, extraídos das árvores, pedras, plantas e animais que existem pelo cenário, fora armazéns e caixas especiais que apenas os traidores têm acesso. Os recursos, combinados, criam itens novos e essenciais para a sobrevivência de todos.
A comunicação e o trabalho em equipe são essenciais para se dar bem, não importando em qual lado esteja. Como os sobreviventes sempre estão em maior número, os traidores sabem exatamente quem são para terem uma vantagem, enquanto os outros devem jogar “no escuro”, deduzindo e descobrindo quem poderiam ser os impostores. Outro bônus da equipe do “mal” é possuir rádios com uma linha segura, por meio da qual podem se comunicar livremente.

O que deixa tudo mais interessante é que cada um possui uma “classe” concedida aleatoriamente ao iniciar a partida, que lhe fornece uma habilidade diferente, podendo recuperar um aliado caído imediatamente, saber a localização de um depósito cheio de armas, hackear armazéns trancados sem o auxílio de outros jogadores, dentre várias outras ações. Isso torna tudo mais dinâmico e interessante.
Nosso personagem não pode andar “livremente” pela fase também, pois ele sofre com frio e fome, então constantemente precisamos estar aquecidos e alimentados. A cabana fornece aquecimento ilimitado e um lugar para cozinhar os alimentos encontrados para torná-los mais eficientes. Sem os itens e equipamentos certos, você pode e vai morrer na neve se estiver longe demais da base, ou seja, gerenciar seus recursos e saber para onde está indo é essencial.
Procurando os traidores

O jogo duplo e a cautela excessiva dividem uma linha tênue durante a partida, assim como uma estratégia para sobreviver e vencer. Sair por aí sozinho, seja conseguindo recursos e tentando cumprir seus objetivos ou então juntar forças com pessoas sempre suspeitas para progredirem mais rápido, não importa o que escolher, em cada nova missão você irá descobrir um jeito diferente de cumprir ou não seus objetivos.
Geralmente, andar só ou ficar isolado pode levantar suspeitas, ou te transformar em um alvo fácil para ser atacado. Ficar em grupos pode ser bom e ruim ao mesmo tempo, já que todos passam a se acusar e a coisa pode esquentar, mas chega até a ser divertido nesses momentos. Uma pequena faísca pode gerar um grande incêndio se souber como aplicá-la, principalmente jogando como traidor, então saber manipular as palavras irá tornar seu jogo bem mais fácil.
Alguns nuances devem ser observados para encontrar os impostores, como armas incomuns que só eles podem ter, caixas diferenciadas e até alguns “dutos” que os levam de um lado para outro em instantes. Duas coisas podem acontecer quando se suspeita de alguém, fora confrontá-la: antes de uma ação mais radical, como matar, os jogadores podem voltar à cabana e votar em alguém para ser exilado, e essa pessoa não poderá voltar e deve sobreviver na neve até que o deixem voltar, exilando outro em seu lugar.

Só é possível fazer isso com um jogador por vez, e, ocasionalmente, alguma injustiça acaba por acontecer, e isso pode gerar conflito entre alguns ou todos. Nessas horas, confesso que é muito bom ser um traidor, e “ver o circo pegar fogo” sozinho ajuda bastante na missão.
Lembram que falei sobre a importância da comunicação? O foco é praticamente total na comunicação por voz, pois sem ela é bem difícil de prosseguir, já que sempre vão desconfiar de você por ser o “mudinho” da turma. Embora exista um chat de texto, quase ninguém dá importância para ele. Outra jogada muito interessante e brilhante é o fato de ser possível ouvir apenas os outros jogadores que estão por perto. Isso ajuda no fator “realista” e também a formar alianças ou confabular com seus parceiros sem que outros saibam. Claro, isso sem falar dos rádios existentes. Fora os rádios dos traidores, é possível encontrar outros destes que permitem uma comunicação à longa distância, sendo muito útil para os sobreviventes ao se dividirem para completarem objetivos em locais distintos do mapa.

Algo bem interessante é que, após morrer, vagamos livremente pelo mapa e ganhamos algumas habilidades a mais para ajudar nossos aliados. Podemos curá-los, aquecê-los construindo fogueiras, fornecer comida e mais. Elas demoram um tempo para serem restauradas, mas é possível usá-las quantas vezes quiser e der, enquanto a partida estiver rolando.
Um ponto muito positivo é que existem níveis de “dificuldade”, e os modos de jogo são separados conforme o nível de experiência dos jogadores. Então, se você é mais casual ou começou há pouco, existe um modo mais simples com objetivos mais fáceis a serem cumpridos. Se for um jogador com certa experiência, jogue em um modo mais avançado, em que entram as habilidades concedidas a cada um nas partidas. E, por fim, se procura um verdadeiro desafio, existe um modo pra quem é expert, dificultando cada passo que você dará na neve.
Uma boa proposta, mas…

Project Winter traz uma ótima proposta e mecânicas bem interessantes, mas acaba por pecar em alguns aspectos. Uma coisa que me incomodou demais é a falta de um mapa para se guiar, digo, ele existe, mas fica na frente da cabana, e não é um mapa que se possa acessar livremente enquanto joga. Isso é extremamente frustrante, principalmente nas primeiras partidas em que você não sabe nada, onde ficam as coisas e nem como realiza qualquer ação.
Alguns objetivos são distantes da cabana e pode haver muitos empecilhos no caminho, incluindo chegar até o local e/ou voltar de lá, por não fazer ideia de onde exatamente possa estar. Existem objetivos marcados no mapa, geralmente o lugar onde deve-se consertar o equipamento, mas nem sempre as peças e itens necessários estão por perto, o que te força a explorar o cenário, ficando perdido muitas vezes de início. Leva tempo até decorar os lugares cobertos pela neve, e o aborrecimento de morrer perdido pela fase pode te levar a desistir mais rápido do que deveria.
O inventário é outro problema: ele é pequeno demais. Embora seja possível expandi-lo se desejar e, provavelmente, seja proposital, acaba sendo um pouco irritante não conseguir carregar o básico que você precisa às vezes e, principalmente, que se ele estiver cheio e não houver uma arma corpo a corpo armazenada, não é possível se defender ou extrair recursos. O personagem fica com um dos itens na mão e não faz mais nada, vira um completo inútil e é bem chato isso.
Project Winter te obriga a percorrer longas distâncias e com um armazenamento super limitado, muitas vezes tendo que deixar itens pelo caminho e voltar para pegá-los depois, se necessário. Neste momento é importante trabalhar em equipe também, dividir os itens essenciais e prosseguir com o que der, mas isso nem sempre funciona, o que torna tudo ainda mais frustrante principalmente se acabar morrendo de fome e de frio no meio do nada com as peças de reparo.
A comunicação forçada por voz também me gerou um certo incômodo, apesar de que na maioria das vezes os jogadores serem respeitosos e estarem mesmo interessados em jogar de verdade. Porém, sempre tem algum engraçadinho que estraga a partida ou fica só bagunçando a conversa. Deixar o chat por texto mais evidente seria uma boa, pois ele tem pouca relevância durante a partida se alguém precisar usá-lo. Isso pode vir a excluir aqueles mais tímidos que não gostam muito de uma party com desconhecidos, e os que não possuem um headset.
Resgate a caminho

Com certeza, a melhor coisa de Project Winter é o fato dele ter crossplay, pois isso ajuda a encontrar mais fácil e rapidamente as partidas e aos servidores não ficarem vazios.
Felizmente, os servidores funcionam bem, e quase não presenciei problemas de queda de conexão ou com conectividade. Como Project Winter ainda é pouco conhecido e tem uma comunidade relativamente pequena, é raro encontrar jogadores tóxicos, embora vez ou outra acabe por acontecer. A trilha sonora do jogo também é boa, e até me lembra um pouco a de Bastion, não sendo nada irritante ou cansativa durante a jogatina.
Project Winter está repleto de itens de customização para nosso personagem, eventos temáticos e recompensas para eles. Ao fim de cada partida, ganhamos um pouco do dinheiro e podemos trocar por vários itens para deixar nosso personagem cada vez mais fashion.
Missão Cumprida
A experiência em Project Winter é mais bem aproveitada depois que se consegue aprender melhor as mecânicas, isso diminui bastante a sensação de estar sempre perdido nas partidas e não saber o que fazer. Caso consiga amigos para jogar, tudo fica ainda mais legal, e a desconfiança entre eles geralmente são maiores do que com estranhos.
Project Winter proporciona algumas horas de diversão aos novatos desse gênero e mais ainda aos que já aclamam os jogos de impostores. Ele é um pouco complicado de início, de se entender tudo, como funciona cada coisa, etc. Mas, com o tempo e paciência sua experiência, ele pode e será muito mais agradável.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong