Estar presente em 13 plataformas diferentes nunca foi um limite para Resident Evil 4. Após 18 anos, RE4 deixa de ditar tendências e passa a seguir os aprimoramentos feitos em sua fórmula por outros desenvolvedores, resultando em um remake embalado pelo sucesso das revitalizações anteriores que impressiona por sua fidelidade ao material original, ao mesmo tempo em que decepciona pelas mudanças desnecessárias.
Desenvolvimento: Capcom
Distribuição: Capcom
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Tiro, Terror
Classificação: 18 anos
Português: Dublagem, interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox Series S/X
Duração: 14 horas (campanha)/21 horas (100%)
Novo jogo velho
O título original teve um desenvolvimento conturbado, com a narrativa que conhecemos sendo concebida em uma velocidade recorde por Shinji Mikami, depois que o projeto foi reiniciado pela última vez. Ele clamou publicamente para que os responsáveis pelo remake melhorassem a história, e foi isso que a Capcom fez. Resident Evil 4 adapta todos os eventos principais da campanha de forma primorosa, mantendo todos os acontecimentos e expandindo os conceitos por trás dos personagens e do culto dos Los Illuminados.
Situado seis anos depois dos acontecimentos de Raccoon City, RE4 acompanha a saga de Leon, que agora é um agente do governo americano com a missão de encontrar a filha do presidente, mantida em cativeiro em uma região rural da Espanha. A grande diferença está na apresentação, que põe parte da galhofa de lado em favor de uma narrativa sombria e cinematográfica, mas que não casa com a proposta insana e sem sentido da trama. Tanto a dublagem quanto a versão em inglês são incríveis. No entanto, a narrativa está incompleta, já que o modo Separate Ways, que mostra o ponto de vista de Ada, ficou de fora do lançamento inicial.
Gráficos top de linha
RE4 é graficamente impecável, superando tudo que a Capcom já produziu através de sua poderosa RE Engine. O ambiente e a iluminação são excelentes, e os detalhes sonoros receberam uma atenção excepcional, embora a nova trilha sonora não seja tão icônica quanto a original. Atuações sensacionais combinadas com uma excelente captura de movimentos resultaram em expressões caprichadas das emoções do elenco, principalmente o pânico de Ashley.
A otimização no PC é esquisita, apesar da equipe ter disponibilizado várias opções técnicas que fazem o jogo rodar bem em uma ampla gama de hardware diferentes. O título não disfarça o processo de carregamento entre mapas, já que quedas drásticas na taxa de quadros são comuns sempre que Leon está prestes a entrar em uma área nova.
Mapas fiéis combinados com áreas inéditas, mas confusas
O remake recebeu um mapa unificado, com uma escala mais claustrofóbica do que o apresentado pelo jogo original. Apesar do título reciclar parte do desenho do RE4 clássico, quase toda a campanha possui novas áreas, sempre com um design confuso e poluído, além de uma iluminação exageradamente escurecida, que dificulta a visibilidade de tudo. Embora o remake seja tão linear quanto o jogo original, é ótimo ver uma experiência focada na solução de quebra-cabeças e no backtracking.
Algumas partes do castelo e da ilha foram removidas, prejudicando o ritmo da jogatina, que era perfeitamente balanceada no jogo de 2005. Para compensar, os produtores aumentaram o tempo de jogo com missões secundárias, que consistem em encontrar itens escondidos nos cenários. Vários confrontos repetitivos foram excluídos, juntamente com os eventos de ação rápida durante cutscenes. As QTEs continuam presentes em toda a jogabilidade, que tem muito mais ação do que todo o jogo original, contrastando com a ideia de um terror sombrio.
Detrás de tí, imbécil
O loop de gameplay foi modificado para fazer com que Leon possa atirar e andar simultaneamente, gerando uma experiência ligeiramente rápida. O protagonista tem controles pesados e travados, mas a jogabilidade é livre e fluida, com opções furtivas que aumentam o leque de possibilidades de combate. As facas são a principal ferramenta contra os inimigos do jogo, que são extremamente reativos às ações de Leon e da ambientação.
A troca de itens foi completamente dinamizada com a possibilidade de alterar armamentos com o direcional do controle, uma alteração que não funcionou bem no mouse e no teclado. Os desenvolvedores retrabalharam as mecânicas da Ashley, removendo sua barra de vida e incrementando ações inéditas para ela durante a jogatina, facilitando a aventura. O título tem quatro opções de dificuldades, com constantes adversidades ao estilo esponja de bala marcando presença em todos os modos disponíveis.
Um grande acerto
Apesar de imperfeito em aspectos em que o jogo original é primoroso, o remake de Resident Evil 4 é fantástico. Os responsáveis aprenderam com os erros cometidos nas duas reimaginações anteriores e entregaram um título que não deixa de ser um bom jogo, mesmo que não esteja à altura de toda a genialidade vanguardista do RE4 clássico.
Cópia de PC adquirida pelo autor
Revisão: Ailton Bueno