Nos anos 70 e 80 do século passado, estávamos envoltos a um ceticismo gigantesco com o rumo que a sociedade estava tomando. O pessimismo diante daquela realidade, inspirou inúmeros autores de ficção científica, como Philip K Dick, George Orwell, Paul Verhoeven e Masamune Shirow, em diferentes formatos de mídia.
Obras como Blade Runner, 1984, Akira, Ghost in The Shell e Robocop apresentavam um mundo distópico (uma versão corrompida de nossa sociedade, em um futuro caótico, corrupto e violento).
Na exploração dessa visão pessimista sobre o futuro, aliada a construção de um cenário social apoiado na alta tecnologia, é que surgiu o subgênero cyberpunk. Em 2017, a Reikon Games – em associação com a Devolver Digital – entrou de cabeça nesse mundo, nos brindando com um jogo frenético e visceral, inspirado na distopia cyberpunk, de nome Ruiner (lançado para PC, PlayStation 4 e Xbox One). No último dia 18, os donos do Nintendo Switch passaram a poder mergulhar, também, nesse mundo.
Desenvolvimento: Reikon Games
Edição: Devolver Digital
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Tiro, Aventura
Classificação indicativa: 16 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: 6 horas (campanha) / 11 horas (100%)
Enredo simples, mas cativante
Apesar da atmosfera – extremamente – rica dentro da história que os desenvolvedores quiseram contar, o enredo de Ruiner é bem simples. Estamos no ano 2091, numa cidade – de neon avermelhado – chamada Rengkok, uma vasta área urbana localizada no sudeste da Ásia.
Inúmeras empresas trabalham sob o imenso conglomerado corporativo do “Paraíso”. Uma poderosa corporação empresarial que manda na cidade e lucra vendendo a seus clientes experiências e sensações reais em mundos virtuais.
Você começa Ruiner controlando um estiloso personagem, sociopata, que porta um capacete cibernético que fica apresentando imagens e mensagens no seu display. Uma voz está dentro de sua cabeça, mandando-o matar o Chefão do Paraíso. Surge, então, uma hacker misteriosa, chamada de Ela, alertando que o personagem foi invadido e está sendo manipulado.
Ela o ajuda a se libertar, mas o Chefão acaba sequestrando o irmão do protagonista. Agora você deve partir – com o auxílio de Ela, sua “salvadora” – ao resgate do seu irmão.
Um mundo em neon vermelho com batida techno
Os gráficos e toda estética do jogo são de encher os olhos: um Cel Shading com tons fortes de vermelho. Ruiner apresenta cenários high-tech e uma metrópole viva, tomada por gangues e todo tipo de indivíduos mal encarados.
Apesar de se mostrar inferior, em comparação a versão das outras plataformas, no Switch, Ruiner possui uma excelente performance, tanto na dock quanto no modo portátil. Porém, os gráficos perdem definição nesse último.
Apesar dos vários elementos na tela (inimigos, armas, efeitos de luz, sombra, entre outros), quase não há queda de FPS. É coisa rara… existe (numa batalha específica foi algo bem intenso), mas não estraga a experiência como um todo.
Ruiner apresenta algumas poucas cutscenes que ajudam a narrar a trama, porém não passam de estilosas imagens estáticas legendadas. Ruiner, aliás – com a graça dos deuses dos joguinhos eletrônicos e da boa vontade da desenvolvedora – possui legendas em português.
A trilha sonora é uma porrada no ouvido, apresentando uma batida techno que casa perfeitamente com a atmosfera do jogo. O mesmo vale para os efeitos sonoros. Tudo ajuda a criar a imersão necessária para você se sentir, de fato, no mundo cyberpunk.
Mecânica conhecida e controles confusos
Ruiner é um shooter de ação com visão isométrica e alguns elementos de RPG. A cidade de Rengkok serve como uma espécie de hub. É por ela que você seleciona as missões principais e secundárias, através da interação com os vários NPCs.
Durante as missões principais – ou ao completar missões secundárias – você acumula “Carma” (a moeda da cidade). Tais moedas servem para o personagem subir de nível e ganhar pontos de habilidade que melhoram seus atributos.
Nosso querido sociopata sem identidade – chamado pela hacker Ela de “Totó” – possui uma árvore de habilidades que pode ser evoluída conforme você avança em Ruiner, aplicando melhorias como escudos, arremetidas, super ataques, otimizadores de recurso etc.
Além do modo “campanha”, o jogo apresenta outros dois outros modos: o velocidade total e o arena. O primeiro funciona como uma espécie de time attack. A ideia é você terminar Ruiner o mais rápido possível. Já o segundo serve para você testar as habilidades numa arena fechada com hordas de inimigos.
O hud do jogo é bem simples: no canto superior esquerdo temos a barra de vida e energia (para as habilidades), no inferior esquerdo temos a arma que estamos empunhando e no canto inferior direito as habilidades que selecionamos.
Convém mencionar que os pontos de habilidades podem ser desativados e trocados a hora que você quiser.
Ruiner apresenta três níveis de dificuldade. Um quarto surge quando você fecha a campanha principal. O nível é bem alto para os padrões da indústria de games dos dias hoje. Porém, é uma dificuldade que não irá te frustrar.
Pelo contrário, você se sentirá desafiado a avançar e melhorar, combinando diferentes habilidades para vencer. E cada passagem de fase é recompensadora. Quando você completa um nível, lhe é mostrado o tempo, as mortes causadas, o carma obtido, as mortes sofridas e uma classificação medida pela sua performance naquela fase.
Os controles seriam perfeitos, não fosse o uso dos dois stick analógicos: o da esquerda você movimenta o personagem e o da direita você direciona a mira do mesmo.
Uma clara tentativa de emular a dobradinha “Teclado e mouse”, mas que não funciona como deveria no controle do Switch. Na minha opinião, é o principal ponto negativo do game.
Um cyberpunk de respeito
Ruiner é, de longe, um dos melhores jogos do gênero. Com um design estiloso, apresenta uma cidade futurista e caótica. Um mundo onde os grandes conglomerados industriais dominam a vida pública e controlam a política da cidade, onde a corrupção e a violência imperam.
Um verdadeiro cyberpunk, que vai te prender em boas e sanguinárias horas de jogatina. Imperdível!
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores