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Review Mortal Shell (Xbox One) – Um divertido soulslike

Num primeiro olhar o jogador mais desatento pode achar que Mortal Shell é apenas mais um game que veio surfar na onda da série Souls. Apesar das semelhanças, o jogo – desenvolvido por um time de apenas quinze pessoas, da Cold Symmetry – além de bonito, tem a sua própria identidade. Publicado pela Playstack, ele desembarcou no último dia 18 de agosto para PC, PS4 e Xbox One. Procurando um soulslike pra se divertir dando, vez ou outra, altos rages no conforto de sua casa? Esse é o jogo!

Desenvolvimento: Cold Symmetry
Distribuição: Playstack
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, RPG
Classificação indicativa: 14 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4 e Xbox One
Duração: 9.5 horas (campanha)/ 25 horas (100%)

O grande diferencial do jogo

Nosso personagem sem face.
Nosso personagem sem face.

Mortal Shell é um RPG de ação, em terceira pessoa, com um sistema de progressão um pouco diferente do habitual. Não há pontos de experiência e níveis para subir. No jogo, precisamos adquirir Tars e Vislumbres que funcionam como moedas para comprarmos itens e melhorarmos nossas habilidades. A evolução do nosso personagem, assim como as armas, são essenciais para ultrapassarmos os desafios do jogo. Neste sentido, a coleta de itens é tão importante quanto o desbloqueio de novas habilidades.

A história é contada através de fragmentos. Iniciamos Mortal Shell sendo apresentados à uma figura misteriosa e sem rosto que precisa desbravar um mundo em ruínas em que a humanidade definhou. Ao longo de nossa jornada temos que encontrar cadáveres de guerreiros perdidos. Nosso personagem consegue ocupar esses corpos, adquirindo seu conhecimento de batalha e sua própria história.

O sistema de carcaças é o grande diferencial do jogo. Ele emula as classes de personagens dos RPGs mais tradicionais. Podemos encontrar quatro carcaças de guerreiros: Harros, o vassalo; Solomon, o erudito; Eredrim, o venerável; e Tiel, o acólito. Cada uma delas possui atributos específicos (durabilidade, vigor e determinação) e uma árvore de habilidades próprias, que modificam levemente o gameplay e exige estratégias diferentes de combate.

Percorrendo por Fallgrim

Fallgrim serve de HUB no jogo.
Fallgrim serve de HUB no jogo.

O mundo de Mortal Shell é demasiadamente pequeno. Começamos o jogo em Fallgrim, que serve como HUB central em nossa jornada. Nessa área temos acesso à uma torre que nos permite acessar as carcaças que adquirimos, negociar com o único comerciante que iremos encontrar em todo jogo (e seu gatinho fofo), trocar nossas armas e por aí vai. Temos à nossa disposição quatro tipos de armas brancas: a Espada Sagrada, a Lâmina do Mártir, a Maça Fumegante, e o Martelo e Cinzel. Com o mercador do game podemos adquirir também – em troca de uma soma considerável de Tar – um arma de fogo que mistura balista com uma bazuca, chamada de “Balistazuca”.

O mercador possui em seu estoque poucos itens, de quantidade muito limitada, para vender, apesar do game apresentar uma variedade bem considerável de insígnias, escrituras, sinos e outros objetos úteis. Não há, por exemplo, um simples item de cura à venda. Para isso temos que coletar um cogumelo que nasce de tempos em tempos em pontos fixos dos cenários para recuperar parte da vitalidade de nosso personagem. O jogo trabalha com o conceito de familiaridade de itens. Só sabemos a sua utilidade quando o usamos pela primeira vez (alguns requerem mais usos). E quanto mais vezes o utilizarmos, mais rápido será o seu efeito.

Pontos de save são criados quando falamos com a irmã Geneesa.
Pontos de save são criados quando falamos com a irmã Geneesa.

Para melhorarmos nossas habilidades e conhecermos parte da história por trás das carcaças que passamos a possuir, precisamos encontrar santuários onde uma espécie de sacerdotisa, chamada de irmã Geneesa, encontra-se adormecida. Nosso primeiro encontro com ela se dá na Torre de Fallgrim. A figura de Geneesa passa a servir de ponto de save, assim como as fogueiras em Dark Souls. Com ela podemos ainda recuperar a vitalidade. Mas a cura de nosso personagem vem acompanhada de um respawn dos inimigos abatidos. Quando adquirimos todas as habilidades de uma carcaça, a irmã Geneesa passa a oferecer também alguns itens, só que em troca de Vislumbres em vez de Tars.

Sem muita explicação ou qualquer questionamento de nosso herói de várias cascas, temos que passar por três santuários: Santuário de Cinzas, Trono do Infinito e Cripta dos Mártires), atrás de glândulas, protegidas por mártires, para entregarmos a um prisioneiro da Torre de Fallgrim, em troca de “selo manchado” e suas infusões (que explicarei sua função mais pra frente). Como de praxe em jogos do gênero, não há um mapa ou um indicador na tela apontando o seu destino. O caminho a seguir é uma escolha sua, não havendo – portanto – uma ordem para avançar na história.

Bonito, mas com alguns deslizes

Precisamos entregar as glândulas para um prisioneiro na Torre de Fallgrim.
Precisamos entregar as glândulas para um prisioneiro na Torre de Fallgrim.

As poucas melodias e os efeitos sonoros casam perfeitamente com o clima sombrio do jogo. Mortal Shell faz uso do bom e velho motor gráfico Unreal Engine 4. O visual em geral é muito bonito, apesar de abusar do efeito de neblina para esconder os chamados pop in no carregamento dos cenários. Existem alguns bugs e problemas de desempenho que vêm sendo corrigidos, pouco a pouco, pela equipe de desenvolvimento. Desde seu lançamento – só a título de curiosidade – já foram disponibilizados dois packs de atualização a fim de arrumá-los.

Os controles são muito parecidos com os jogos da série souls, com trava nos inimigos durante o combate, botões para esquiva, golpes fortes e fracos. Porém, não contamos com um escudo. O sistema de defesa é bem singular, na medida em que temos a capacidade de solidificar nosso corpo, evitando danos por ataque físico. Quando somos atingidos por um golpe nesse estado, a guarda do inimigo se abre ao mesmo tempo que ficamos temporariamente vulneráveis. Essa é uma habilidade extremamente útil quando usada no timing correto.

Temos ainda um sistema de parry através de um objeto chamado de “selo manchado”. Cada defletida bem executada causa um efeito diferente no inimigo, que age de acordo com a infusão atribuída ao selo. As habilidades da infusão, assim como das armas do jogo, dependem da nossa “barra de determinação” (que fica logo acima da barra vermelha de vitalidade), que varia de carcaça para carcaça, já que cada uma possui níveis diferentes de determinação.

Um deleite para os fãs de soulslike

Os gráficos são muito bonitos.
Os gráficos são muito bonitos.

A série Souls e seus similares se tornam muito mais difíceis para aqueles que acham que os combates devem se resumir a um esmagar de botões. Para avançar no jogo temos que traçar uma boa estratégia, ter paciência, gerenciar de forma inteligente os itens, cadenciar bem nossos movimentos e ser mais reativos do que proativos.

Mortal Shell é um jogo difícil e punitivo – principalmente no início – mas que está longe de gerar aquela sensação de frustração e raiva (só um pouquinho, às vezes, confesso). Os desafios, na verdade, nos incentivam a continuar tentando e no fim o jogo se apresenta como uma experiência muito agradável e viciante. Conforme avançamos tudo vai ficando mais orgânico e natural. Um verdadeiro deleite para os fãs de um bom soulslike, que definitivamente irão se sentir em casa aqui.

O game da Cold Symmetry foi uma grata surpresa. É bonito, muito competente e apesar de ter muito de Dark Souls em sua essência (algo que está longe de ser ruim), possui algumas características que o difere da série que o inspirou.

Esta review foi feita com uma cópia cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Mortal Shell

9.5

Nota Final

9.5/10

Prós

  • Belos gráficos
  • Boa ambientação
  • Desafiador
  • Possui identidade

Contras

  • Alguns bugs