Sea of Solitude: Director's Cut

Review Sea of Solitude: Director’s Cut (Switch) – Uma revisita a eventos passados

Normalmente, tenho um grande problema com jogos que buscam focar demais em suas histórias e narrativas de forma a deixar de lado a jogabilidade, transformando-a em algo secundário ou, até mesmo, passivo. Sea of Solitude me conquistou através de alguns vídeos com sua beleza gráfica, mas me fisgou de verdade mesmo quando pude ter contato com sua excelente jogabilidade, que não foi jogada para escanteio como a maioria dos títulos de seu gênero.

A versão para Switch traz algumas novidades, como uma nova dublagem feita com novos atores, modo foto bastante versátil e um novo roteiro, tudo exclusivamente feito na versão Director’s Cut, lançada até então apenas para o console da Nintendo.

Desenvolvimento: Jo-Mei
Distribuição: Quantic Dream
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação, Plataforma
Classificação: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PS4, Xbox One, PC e Switch
Duração: 3 horas (campanha)/5 horas (100%)

Um passado de muita dor

Revisite o passado de Kay

Em Sea of Solitude: Director’s Cut controlamos Kay, uma garota tomada pela escuridão de seus sentimentos de desespero e solidão, além da culpa e conflitos mal resolvidos de seu passado. A protagonista é perseguida pelos seus problemas, que tomam a forma de monstros feitos de escuridão com aspectos bastante vivos, que a impedem de seguir em frente utilizando frases com negatividade predominante, falas condenatórias e ataques físicos mortais. Sua principal missão aqui é levar Kay até o fim de sua jornada pela paz interior.

A jogabilidade de Sea of Solitude é um misto de plataforma e aventura, com momentos de fuga de criaturas, sucção de corrupção e emissão de projéteis luminosos pelas mãos de Kay – que servem também para apontar o objetivo, tal como em Dead Space. A forma de jogar nunca se mantém a mesma, mas o objetivo geralmente se concentra em vencer os monstros representando os problemas da protagonista através do poder de luz, liberando passagens, escalando locais e nadando para atravessar pequenos trechos alagados.

Fuja de monstros

Kay consegue fundir-se em alguns momentos com sua versão espelhada, que toma a forma de uma personagem chamada apenas de Girl, cujos cabelos são loiros e suas roupas parecem uma espécie de traje para proteger-se da chuva. Nestas partes, precisamos direcionar o jato de luz aos monstros que estão bloqueando passagens e depois repetir o procedimento em alguns locais do cenário, para gerar o máximo de poder possível até que o caminho seja liberado

Já em momentos de fuga, é necessário evitar um gigantesco monstro que nada debaixo das águas do lago causado pelo alagamento. Caso ele se aproxime demais, a tela ganha um tom azulado com cinza, causando a morte de Kay se ela for capturada. Felizmente, o respawn é extremamente rápido, e em menos de 2 segundos já estamos novamente no controle da personagem, algo extremamente importante em games que exigem bastante tentativa e erro. Apesar disso, a morte não é uma constante por aqui.

Pouco a pouco, algumas formas novas de jogar são liberadas, como o uso dos projéteis luminosos de Kay para acender lâmpadas e eliminar inimigos feitos de sombra que a perseguem para atacar; ou então uma habilidade que possibilita que ela derreta blocos imensos de gelo em terras tomadas pela neve, enquanto vai atrás de um gigante lobo branco tomado pela escuridão. Existem outras um pouco mais simples, como a coleta de almas que simbolizam um parente de Kay, que pode coletar itens em locais altos com o apertar de um botão.

Game design bem construído e amarrado à narrativa

Evite seres das sombras

Mesmo com a ausência de batalha ou algo do gênero, consegui me divertir bastante com as formas oferecidas pelo jogo de evitar inimigos e superar obstáculos. Frequentemente são inseridos novos elementos que são utilizados de forma inteligente e variada, que vão se modificando ao longo dos doze capítulos existentes em Sea of Solitude. Os diferentes cenários também fazem parte dessa mudança constante de jogabilidade, e seus próprios elementos podem adicionar uma novidade, como uma simples grelha que sopra vapor e eleva Kay até locais mais altos e impossíveis de serem alcançados com um pulo simples.

Tudo isso é feito de forma bastante contextual e contemplativa, mas sem tirar o controle pleno das mãos do jogador, isso enquanto a história vai adicionando personagens e diálogos para enriquecer o pano de fundo da protagonista. A narrativa é excelente e bastante envolvente, principalmente para pessoas que sofreram por causa de brigas de seus pais no passado que acabaram resultando em um divórcio, com bullying na escola ou por problemas durante um relacionamento amoroso. O mesmo serve para aqueles que têm dificuldade de lidar com seus problemas e passam por um processo constante de negação ou inferiorização de si mesmos por causa disso.

Derreta a neve

A aventura de Kay também é acompanhada de uma trilha sonora excelente, além de sons ambientes muito bem construídos e canções muitas vezes protagonizadas por vocais femininos. A história possui um encerramento emocionante, ao mesmo tempo que deixa algumas perguntas no ar. Porém, é claro o objetivo dos desenvolvedores de criar uma sequência de Sea of Solitude por causa de sua última cena. 

Uma vez finalizado o jogo, é possível retornar aos capítulos através de um seletor no menu principal, para revisitar tudo novamente ou pegar todos os coletáveis presentes. Não existem desbloqueáveis após o final do enredo, o que é uma pena, já que é possível finalizar a história em cerca de 4 ou 5 horas.

Não apenas emotivo, mas também recheado de boas mecânicas

Sea of Solitude Director’s Cut faz tudo muito bem feito: conta uma história profunda, com personagens cativantes e momentos marcantes, tudo isso sem deixar de lado a jogabilidade como muitos games do gênero costumam fazer. Cada segmento é único e muito bem dividido, e é possível se identificar com vários sentimentos e momentos que Kay experiência durante toda sua jornada à redenção de si mesma.

A adição do modo foto mostrou-se algo muito importante de existir, já que a versão original de Sea of Solitude dificulta a captura de momentos tão bacanas. A versão para Nintendo Switch roda em 30 fps e em uma resolução um pouco menor do que em outras plataformas, porém, graças à direção de arte e estilo gráfico puxado para o cartunesco, o console da Nintendo consegue mandar bem ao segurar toda a beleza do jogo. 

Certamente, Sea of Solitude Director’s Cut consegue agradar gregos e troianos, tanto aqueles que buscam por uma boa narrativa quanto outros, assim como eu, que dão extrema importância à jogabilidade.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Sea of Solitude: Director's Cut

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Enredo cativante
  • Personagens carismáticos
  • Mecânicas muito bem aproveitadas
  • Cenários lindíssimos
  • Port muito bem feito

Contras

  • Desafios fáceis
  • Um pouco curto demais