Serious Sam, jogo que veio a se transformar numa franquia de relativo sucesso, foi lançado no já distante ano de 2001, exclusivamente para PC. A popularidade do game viabilizou um port para os consoles da sexta geração. Ele foi desenvolvido, na época, sem muita pretensão. A ideia da Croteam – desenvolvedora por trás do projeto – era apresentar o poder do motor gráfico com o qual estavam trabalhando. A possibilidade de se obter, num shooter em primeira pessoa, cenários com horizonte amplo e inúmeros inimigos na tela foi algo revolucionário. Nem mesmo os já populares Doom, Quake e Duke Nukem conseguiam fazer tal proeza.
Depois de um longo hiato, a série voltou em abril deste ano numa coletânea, lançada inicialmente para o natimorto Stadia. A missão era preparar o terreno para o quarto jogo da franquia, lançado em setembro. Pegando vácuo no novo título, no último dia 19 de novembro, Serious Sam Collection chegou também ao PS4, Xbox One e Switch. A coletânea contém os dois primeiros jogos remasterizados em alta definição (The First Encounter e The Second Encounter, lançados há mais de dez anos para PC e Xbox 360), o terceiro título da franquia (de 2011) e mais duas expansões (The Legend of the Beast e Jewel of the Nile).
Desenvolvimento: Croteam
Distribuição: Devolver Digital
Jogadores: 1-4 (local) e 1-16 (online)
Gênero: Aventura, Ação, Tiro
Classificação: 16 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, Switch e Xbox One
Duração: Sem registros
Eram os deuses alienígenas?
Uma marca dos primeiros shooters em primeira pessoa, da segunda metade da década de 1990 e início dos anos 2000, era a ausência de uma história complexa e bem trabalhada. Poucos fugiam à regra. Goldeneye 007 e Medal of Honor, por exemplo, são – sem trocadilhos – “tiros fora da curva”. Esses jogos, muito populares nos PCs e nem tanto ainda nos consoles de mesa, focavam numa jogabilidade ágil (através da dobradinha infalível teclado + mouse) e em tiroteios frenéticos. Como um produto desse tempo, Serious Sam não bebe, mas se lambuza nessas águas.
A história é recheada de humor e jamais se leva a sério. Dessa forma, nada de cenas cinematográficas ou retratos quase fiéis de um fato histórico, como os gamers mais jovens ficaram habituados a verem em jogos como Call of Duty e Battlefield. O enredo, na verdade, brinca com o imaginário popular acerca de certos monumentos e construções da Antiguidade. Quem aqui nunca se pegou vendo uma imagem da pirâmide de Gizé, do Egito, e pensando: “não tem como simples pessoas terem erguido isso!”? No mundo de Serious Sam elas são sim frutos da ação inventiva de uma raça alienígena.
Anos atrás, uma antiga civilização tecnologicamente muito avançada viveu na Terra. No século XXI vestígios dessa civilização e seus artefatos são descobertos no Egito, permitindo o conhecimento necessário para um desbravamento espacial. Porém, essa odisséia pelos confins do universo é interrompida no ano de 2104, quando monstros de outro mundo passam a atacar a raça humana. Na batalha que seguiu por anos, um bravo homem se destacou e tornou-se uma lenda: trata-se de Sam “Serious” Stone. Diante da derrota iminente, os líderes da Terra usam um aparelho chamado de Time-Lock para enviar o seu mais bravo soldado para o passado. Assim, Sam viaja no tempo com a missão de destruir de vez o mal que ameaça aniquilar toda raça humana, para com isso mudar o curso da história.
Prato cheio para os saudosistas
Os gráficos não são feios (em especial do terceiro título), mas por se tratar de uma remasterização, as mesmas limitações visuais que tínhamos lá atrás nas primeiras versões podem ser observadas aqui. O que foi revolucionário nos primeiros jogos não encanta tanto nos dias de hoje diante dos avanços das engines do gênero. Os cenários, em especial do primeiro da coletânea, pecam na falta de detalhes e variedade. Por mais que seja um prato cheio para os fãs e saudosistas dos clássicos shooters noventistas, a impressão que tive ao jogá-lo era de que ele envelheceu mal. A remasterização do primeiro Halo em The Master Chief Collection, por exemplo, nos mostrou ser possível respeitar o material original e adequar visualmente o game para os novos tempos. Aqui não é o caso!
A coletânea te dá a opção de escolher entre uma experiência focada no visual e outra na performance. Uma tendência que caminha para a naturalização nos jogos da nona geração de consoles, mas que não faz o menor sentido de existir aqui. Consoles como Switch, Xbox One e PS4 deveriam, em tese, rodar perfeitamente bem um jogo desenvolvido para os consoles da sétima geração. De toda forma, para ser sincero, não consegui notar diferenças gritantes alternando entre as duas opções. Ainda falando das opções gráficas, uma curiosidade interessante é a possibilidade de aplicarmos um filtro no jogo, que altera o brilho, contraste, correção gama e saturação de acordo com nossa escolha.
Experimente um clássico sozinho ou acompanhado
Serious Sam Collection no Switch, tal qual no original, continua rápido, apresenta hordas de inimigos na tela e as tiradas de Sam – apesar de piegas e exageradas – ainda são capazes de arrancar um sorriso ou outro. O game mantém o framerate estável – o que em jogos do gênero é o mínimo a se exigir – mas dá algumas ligeiras engasgadas em alguns momentos. Apesar de ser em essência um shooter em primeira pessoa, temos a opção de utilizarmos também uma câmera em terceira pessoa, que podemos alternar a qualquer momento.
Os controles se utilizam do padrão estabelecido em títulos mais recentes do gênero. O diferencial é que não há um comando de mira com zoom. Nesse sentido, o jogo não exige precisão nos tiros, fazendo da jogatina uma experiência mais descompromissada e casual. Não conseguimos, por exemplo, alvejar em partes específicas do corpo dos inimigos de forma milimétrica como em shooters mais atuais (nada de head shot). A mira é semi-automática. Aponte a arma mais ou menos na direção do inimigo que o tiro irá acertá-lo. Não importa se eles estão a um palmo de você ou a metros de distância. Em suma, creio que a ideia seja fazer com que o jogador tenha uma experiência mais próxima possível dos clássicos do passado. E nisso ele acerta bastante!
Apesar do conteúdo robusto (três jogos e duas expansões) o grande chamariz de qualquer FPS é o multiplayer cooperativo e competitivo, e não a campanha solo. Em Serious Sam Collection nós temos uma quantidade bem honesta de modalidades para nos aventurarmos no online: Deathmatch, Capture the Flag, Last Man Standing e por aí vai. O grande problema, ao menos no Nintendo Switch, é que simplesmente não consegui encontrar uma partida sequer para apreciar e testar o online em qualquer modalidade. Ao menos o game conta com um multiplayer local com tela dividida para até quatro pessoas com as mesmas opções que o online oferece, tanto no cooperativo quanto no competitivo (versus).
Um Shooter old school
Apesar de datado e do online vazio, Serious Sam Collection é uma boa opção para quem curte um shooter em primeira pessoa mais old school. Tem conteúdo de sobra para horas de jogatina, as batalhas são rápidas (assim como em Doom, não devemos ficar parados), os inimigos aparecem de todos os lados, temos uma infinidade de armas (pistolas, espingardas, bazucas etc) e uma história simples e direta envolta a um roteiro cheio de “piadas de tiozão”.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong