Desenvolvido pela Microids Studio Paris, Syberia: The World Before é a quarta e última parte da série Syberia. Com duas ambientações em épocas distintas, Dana Roze e Kate Walker têm seus destinos entrelaçados numa história surpreendente e emocionante, revisitando rostos conhecidos e concluindo suas jornadas. Com gráficos belíssimos e uma trilha sonora atmosférica, o título encontra-se disponível para PC.
Desenvolvimento: Microids Studio Paris
Distribuição: Microids
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: Livre
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC
Duração: 13 horas (campanha)/15.5 horas (100%)
I see trees of green, red roses too
The World Before é a conclusão dos eventos vistos em Syberia 3, porém adiciona acontecimentos anteriores ao primeiro jogo da franquia. Lá, a jovem Kate Walker, uma advogada nova-iorquina, fica responsável pela venda de uma antiga fábrica de autômatos localizada nos Alpes, a cadeia montanhosa europeia. Quando as coisas fogem do esperado, ela se vê aventurando-se pelos confins da Rússia oriental, na tentativa de descobrir o paradeiro do Hans Voralberg, o gênio inventor das máquinas humanóides e herdeiro da Voralberg Mechanical Toy and Puppet Factory.
Já em TWB, temos duas linhas do tempo distintas: em 2004, após escapar de uma mina de sal no território de Taiga, na Sibéria, Kate Walker explora as ruas de Vaghen, a capital de um pequeno país da Europa Central, na tentativa de cumprir uma promessa para uma velha amiga; já em 1937, acompanhamos a Dana Roze, uma jovem pianista de 17 anos que vive numa Vaghen assombrada pela ameaça fascista da Sombra Marrom, no início da Segunda Guerra Mundial.
Como todos os jogos focados em narrativa, o quarto capítulo de Syberia aposta no enredo como seu principal ponto de apoio. Além de encerrar a jornada da Kate, ele adiciona camadas de desenvolvimento aos personagens ao apresentar eventos que ocorreram vários anos antes, com a Dana, acabando por uni-las num plot twist digno de roteiros cinematográficos hollywoodianos. Através de diálogos entre as mulheres e as pessoas da cidade, entendemos toda a ambientação característica da época e submergimos em seus pormenores.
Inclusive, ainda sobre os diálogos, a qualidade da dublagem é um aspecto válido a ser destacado. Com sentimentos carregados e sotaques típicos das regiões retratadas, os dubladores conseguem transmitir essa sensação de pertencimento e influenciam, de maneira positiva, em nossa imersão. É fato que em alguns momentos alguns tropeços são inevitáveis, porém em nada prejudicam a experiência final.
I see them bloom for me and you
Falando sobre jogabilidade, o sistema utilizado em The World Before é similar ao de títulos como The Uncertain: Light At The End e The Suicide of Rachel Foster, exceto pela movimentação dos personagens. O jogador está apto a explorar os cenários, interagindo e coletando itens importantes para a resolução de puzzles e, consequentemente, para a progressão. Contudo, o uso do teclado é quase dispensável: praticamente tudo é realizado por point-and-click. Não que isso seja um problema, mas, para os fãs mais acostumados com a movimentação padrão do WASD, pode causar uma certa estranheza de início.
Em adição, o menu da interface in-game revela quatro abas necessárias durante a jogatina. E são elas: o inventário, em que são armazenados os objetos encontrados pelo mapa; a seção de objetivos, que descrevem as tarefas a serem cumpridas; o diário, que reúne informações relevantes à história e, por fim, a aba de documentos, onde guardamos cartas e os demais ofícios com textos. A tecla de atalho é a letra J, mas a área também é acessível através de um ícone no canto superior direito da tela.
And I think to myself
O mundo criado por Benoît Sokal é vasto e rico em detalhes. Os cuidados do estúdio quanto a representação visual deste universo é notável pela alta qualidade gráfica que, mesmo com a limitação de movimento, recompensa o espectador com cutscenes muito fluidas e bem trabalhadas, oferecendo uma impressão de dinamismo e, arrisco a dizer, o ar e a aura que obras de arte clássicas exalam. A escolha da paleta de cores no visual de todos os ambientes é acertada e, talvez, uma das responsáveis por essa noção. Entretanto, o semblante das protagonistas e de alguns outros NPCs deixa a desejar: traços e olhares vazios externam suas naturezas artificiais e não conseguem refletir a emoção da dublagem, o que é uma pena.
Felizmente, os recursos de áudio estão isentos de qualquer problema. Toda a trilha sonora sinfônica é desenvolvida pelo ilustre Inon Zur, o compositor encarregado pelos episódios anteriores e também autor dos temas de títulos como os da franquia Fallout, Dragon Age e Prince of Persia. As melodias são um verdadeiro deleite – com grande destaque a cena do concerto de piano da Dana – e, definitivamente, impactam positivamente em nossa experiência.
What a wonderful world
Syberia: The World Before é uma conclusão satisfatória para a série. Seja pelo enredo cativante ou pelos gráficos convidativos, o jogo é uma excelente opção para entusiastas do gênero e considerado o melhor capítulo pelos fãs da saga. A tradução para o português brasileiro também é essencial para que o aproveitemos da melhor maneira possível. Mas, infelizmente, com o falecimento do Benoît Sokal, criador da aventura, tendo ocorrido em maio do ano passado, é pouco provável que haja continuações.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong