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Review The Skylia Prophecy (PS4) – Enfrente demônios à moda antiga

Nostalgia vende muito bem. Não por acaso, um número cada vez maior de desenvolvedoras aposta na estética retrogaming para conquistar corações e beliscar uma parcela do mercado. Contudo, há quem considere que construir jogos modernos com uma aparência nostálgica não é suficiente. Para esse público, a 7 Raven Studios e a Ezekiel Rage trouxeram The Skylia Prophecy com uma aventura saída diretamente da “velha escola”.

Desenvolvimento: Ezekiel Rage Games
Distribuição: 7 Raven Studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Ação
Classificação: 14 anos
Português: Legendas e interface
Plataforma: PS4, Xbox One, Switch, PC
Duração: sem registros

Nos moldes antigos

Mirenia encara um esqueleto com sua "espada-escudo" em uma floresta com visual saído dos jogos da década de 1990.
Controle Mirenia e sua “espada-escudo” para derrotar demônios à moda antiga

A jornada em pixels começa com o jogador na pele de Mirenia, uma jovem armada com uma inusitada “espada-escudo” e dotada de habilidades e poderes que irá descobrindo ao longo do caminho. Como profetizado pelo mago Forsyth, seu destino é reinar sobre humanos e demônios, mas antes ela precisa banir o mal que libertou por acidente.

Essa, contudo, é apenas uma versão extremamente resumida da narrativa que o título se propõe a entregar. Assim como era comum nos lançamentos das décadas de 1980/90, contar a história não era a preocupação principal. Em meio a pixels e mecânicas, a aposta real das desenvolvedoras estava no entretenimento por meio da ação.

E é aí que The Skylia Prophecy se conecta desde o começo, com o jeito antigo de fazer jogos. Depois de escolher o modo de dificuldade – prática hoje parcialmente abandonada pela indústria -, a tela traz uma imagem com um longo texto contando de onde vem e para onde vai a aventura que está prestes a começar – no estilo Star Wars de introduzir tramas.

Contudo, esse formato, tão comum em décadas passadas, envelheceu mal. A escolha da fonte, a cor vermelha do texto – que em muitos momentos se mescla aos tons da imagem de fundo – se somam ao vários parágrafos de uma história prolixa para entediar o jogador já na saída. Vale ressaltar que, infelizmente, a localização para o português não é muito bem feita e isso também contribui para a primeira experiência negativa.

Uma aventura limitada

Em um castelo, Mirenia encara mais um do muitos esqueletos amaldiçoados
O jogo oferece mecânicas fáceis e inimigos genéricos

Ainda existem vários pontos que ligam a aventura ao passado dos games. Sem muita explicação, Mirenia começa o jogo tendo que resistir aos primeiros inimigos. Esse início consegue apresentar de forma competente as mecânicas mais básicas – que incluem um escudo de energia poderoso capaz de tornar o conceito de “espada-escudo” irrelevante.

A principal delas é a da morte, que culmina em game over instantâneo e leva o jogador de volta à tela principal. Seja por sua abordagem retrogaming ou por sua declarada inspiração no conceito punitivo dos jogos Souls-like – como ficaram conhecidas as obras da From Software -, The Skylia Prophecy coloca a morte e o fim como constantes.

Com isso, ele entra para a lista de títulos que encara o jogador com um olhar de “você vai morrer, parceiro”. Seja com o dano causado pelos inimigos ou pelas armadilhas com one hit kill – matando o jogador com um único toque -, a verdade é que perecer é quase inevitável e inclusive reserva um troféu/conquista.

Comandos mortais

Mirenia tenta passar por uma área enquanto evita armadilhas e a queda em líquido tóxico que pode ser fatal
O jogo aposta na morte constante e a imprecisão dos comandos potencializa isso

Ainda assim, a morte não se limita à navegação e combate. Também como era comum nos jogos antigos, a movimentação aqui é estranha e as respostas do controle não são exatamente precisas. Muitas vezes, por exemplo, aquele salto planejado para o limite da plataforma se torna apenas uma queda por conta do atraso na ação da personagem. O mesmo vale para aquela tentativa de usar um item de recuperação no meio de um combate mais pesado contra o chefe de um calabouço.

Além disso, no terço inicial da jornada é necessário recorrer a uma mecânica peculiar para detonar explosivos. Antes de adquirir novas habilidades, Mirenia deve acionar seu escudo de energia em cima desses dispositivos. Isso significa que um milímetro a menos será insuficiente para explodir o barril, mas um milímetro a mais vai causar morte instantânea.

Na medida em que avança, o jogador vai encontrar relíquias que concedem magias e habilidades como o pulo duplo. Também é possível aumentar suas barras de vida, energia mágica e força. Isso acontece tanto encontrando itens como eliminando inimigos, mas sem um contador de experiência é difícil prever quando isso vai acontecer.

A frustração como mecânica

Mirenia derrota um inimigo ao lado de uma estátua de save em mais um calabouço
As estátuas de save podem ser uma benção ou uma maldição

Embora prometa ao jogador dificuldade e desafios punitivos, é a frustração que realmente dá o tom da experiência. A mecânica de salvamento em pontos específicos é mais uma que contribui para isso. Com o passar dos anos, o autosave, ou mesmo a opção de guardar o progresso em qualquer ponto, transformaram a forma como jogamos.

Contudo, The Skylia Prophecy copia de títulos do passado a limitação de registrar sua jornada em pontos fixos no mapa. De fato, isso evoca uma dinâmica interessante do passado. No entanto, o título também é o tipo de jogo com “becos sem saída”. O fato de o salto especial e o escudo drenarem a barra de magia – mais adiante é possível reverter esse processo com uma relíquia – contribui para isso.

Por vezes, é possível chegar a um ponto sem os recursos necessários para avançar, como um item de recuperação de energia mágica ou quantidade baixa de vida máxima. Quando isso se junta ao formato escolhido de save, são grandes as chances de ter que recomeçar sua jornada do zero absoluto para poder refazer todo o caminho e passar de determinado obstáculo ou desafio.

NPCs e dungeons como paisagem

Mirenia atravessa um vilarejo cheio de moradores e lojas.
Os vilarejos são cheios de NPCs sem impacto no jogo

Outro detalhe está nas dungeons. Mesmo sendo bem desenhadas e agradáveis, algumas delas funcionam como labirintos confusos e sem sentido. Uma delas – realmente batizada como “Labirinto das Ilusões” – tem diversas portas iguais. A ideia é que elas sejam utilizadas em sequências específicas para avançar. O problema é que The Skylia Prophecy não oferece nenhuma dica ou detalhe que deve ser observado para achar a ordem e a saída. Tudo se resume a escolhas aleatórias feitas em sucessão até que, finalmente, dê certo.

Sem dúvida, isso estabelece um enorme elo com a geração das décadas de 1980/90, mas será que esse é um detalhe positivo em qualquer jogatina? Independente da resposta, essa percepção da falta de um propósito também se aplica aos NPCs. Embora sejam abundantes nas cidades – zonas seguras do jogo -, eles têm pouco ou nenhum impacto no progresso do jogador.

Além dos vendedores e do taberneiro – que oferece missões secundárias com relevância mínima para a jornada -, você também vai encontrar a misteriosa Retaeluos – o nome é confuso graças à fonte usada nos textos. O ser misterioso com longas garras e pouca roupa aparece normalmente nas salas que precedem batalhas com chefes – referência direta aos jogos da From Software.

Por vezes, ela – a forma tem características femininas como a maioria dos NPCs com alguma função por aqui – vai te dar um sermão por não ter um item crucial para o desafio a seguir. O problema é que as chances são grandes de esse objeto específico estar no seu inventário, mas não importa. Retaeluos sempre oferece o que te falta em troca de uma consequência supostamente nefasta, caso você aceite a ajuda.

Nostalgia masoquista

Por tudo isso, The Skylia Prophecy mostra que é cheio de boas ideias que não foram bem executadas. A inspiração nos jogos Souls-like funciona muito mais como uma muleta para justificar a dificuldade que, na verdade, é apenas reflexo de mecânicas pouco polidas.

Na maioria dos chefes, é mais provável que o jogador morra por puro descuido. Isso acontece porque os padrões de ataque são previsíveis e fáceis de ler, mas os inimigos têm vida extensa. Ao mesmo tempo, eles também podem causar muito dano, e quando isso se junta às respostas imprecisas dos comandos, a chance de morrer aumenta.Vale ressaltar que o visual e a trilha sonora – bastante agradável, apesar de ser esquecível – tornam as horas controlando Mirenia uma viagem interessante ao passado. Muito do som e do visual remonta aos plataformas de ação lançados nos consoles de 16 bits. Contudo, no conjunto da ópera, a verdade é que as inspirações na velha escola não fazem bem ao título.

Cópia de PS4 cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

The Skylia Prophecy

5

Nota final

5.0/10

Prós

  • Visual retrô agradável
  • Mecânicas simples
  • Boa trilha sonora

Contras

  • Comandos imprecisos
  • NPCs sem função
  • Navegação frustrante
  • Mecânica de save ineficiente
  • Repetitivo