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Review Torchlight 2 (Switch) – O demônio pode chorar

Muito se fala em jogos “estilo Diablo“, e por muito tempo a própria franquia do capetão dominou este gênero que ele mesmo criou: RPG com visão isométrica. Porém, ao jogar Torchlight 2 percebi o quão Diablo 3 – o último lançado até então – escorrega em diversos aspectos.

Temos finalmente um concorrente à altura! Eu deveria falar menos sobre Diablo nesta análise? Deveria, mas não vou porque é necessário. Ah, e este texto foi feito jogando a versão de Nintendo Switch.

Desenvolvimento: Runic Games
Edição: Perfect World Entertainment
Jogadores: 1-4 (online)
Gênero: RPG, Aventura
Classificação indicativa: Livre
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One e Switch
Duração: 20 horas (campanha)/ 68 horas (100%)

Diablo, porém melhor

Ok, vou ser honesto e começar pelo maior defeito de Torchlight 2: sua apresentação. A história é completamente simples, apesar de conter fatos em relação ao primeiro jogo. Seu enredo é basicamente que o personagem Alquimista, do jogo anterior, foi corrompido pelas forças do mal e destruiu a cidade de Torchlight. Beleza, sua missão então é assumir o papel de um herói construído do zero e descobrir o que houve com o nosso ex-herói.

Além disso, a história contada usando diálogos em textos e animações 2D, feitas pela Klei Entertainment (de Don’t Starve), o que não se compara nem de longe com o jogo da Blizzard com suas cutscenes e dublagem fantástica. Fora isso, sinceramente, não existe muita coisa para ser criticada em Torchlight 2. O primeiro jogo pode ter passado batido por muita gente principalmente por ser totalmente single-player, eu mesmo confesso que não me animei muito em jogá-lo justamente por este fator.

Já o segundo é um deslumbre e uma aula de game design para a concorrência. Caso você não saiba, no desenvolvimento de Torchlight 2 possui membros da equipe que trabalhou em Diablo 2, um jogo extremamente aclamado pelos fãs da franquia. Muitos criticam o terceiro jogo do “capetão” por conta da retirada de elementos que faziam parte da série, como a construção de uma personagem com atributos únicos e direção de arte voltada para o estilo gótico. Diablo 3 é colorido, bem menos sombrio e com aparência mais cartunesca. Não seria um problema se a essência do jogo da Blizzard tivesse esta essência desde os primórdios, porém foi algo que mudou de repente e, quando todos percebemos, a opinião de fãs já não havia sido levada em consideração.

Mas o que faz Torchlight 2 ser tão especial para mim além de ser bonito, cheioroso e bem feito? E não estou exagerando, o jogo é mesmo completamente coeso e tem um visual fantástico.

É um jogo que parece entender o público

Torchlight 2 tem várias decisões inteligentes que agradam meu coração, é basicamente Diablo 2 melhorado em termos de empatia com quem está jogando. O jogo permite dar um zoom em seu personagem, e você não imagina o quanto isso é útil para quem tem astigmatismo (eu) e joga na TV ou mesmo na tela do pequeno Switch, permite enviar itens para serem vendidos durante uma missão através do seu pet, fazer sua própria build elevando os atributos que você quiser, abrir um mini mapa de várias formas e tamanho no canto da tela, equipar qualquer arma independentemente de sua classe, pescar, remover habilidades, entre outras coisas que me fazem ter um orgulho deste jogo.

Para muita gente estes elementos são apenas detalhes, mas como prezo muito pela experiência de uso de um produto/jogo, Torchlight 2 me apetece tanto com esse monte de detalhes que não consigo vê-lo com algo inferior ao pata rachada.

O modo online é bem construído, oferece uma forma de entrar em jogos públicos e privados, e com amigos, facilmente e sem complicações, além de que podemos configurar até que level de personagem permitiremos participar do nosso jogo entre outras configurações.

O multiplayer online disponibiliza até mesmo um sistema de chat de voz interno que é muito útil no Switch, por exemplo, que é um console que possui microfone embutido em seu hardware, mas possui suporte para tal – então é só conectar um fone de ouvido com microfone. Numa partida online, é possível teleportar diretamente para onde qualquer jogador esteja, seja próximo ou no “quinto dos infernos”: mão na roda total!

Jogabilidade acima de tudo

Sempre fui alguém que preza pela jogabilidade acima da história, obviamente que não podemos descartar este último. Como já citado no início do texto, Torchlight 2 não possui uma história magnífica, mas sua jogabilidade sabe dar um show.

O combate é extremamente fluído e podemos equipar tanto armas de longa ou curta distância independentemente da classe escolhida para o personagem, a única consequência é que algumas habilidades não estarão ativas.

Em relação às skills, possível vincular um atalho à qualquer magia aprendida pelo personagem. Fora que o HUD/interface durante o gameplay é bastante compacta e não fica forrando a tela com elementos.

Podemos também escolher um pet (animal) para te acompanhar em suas aventuras, batalhas e ser usado para vendas no “mercado à distância” mesmo em meio à pancadaria. Funciona assim: você entra no seu menu de itens, seleciona aqueles que deseja vender e os envia ao seu pet, em seguida entra no menu pet e escolhe a opção de mandá-lo para a cidade: simples e fácil, fazendo você desocupar seu inventário facilmente.

Outro ponto extremamente positivo é a construção do personagem que, dentre as 4 classes disponíveis desde o início, oferece uma árvore de habilidades profunda e distribuição de atributos de uma forma que o jogador possa construir personagens bem únicos, seja nas próprias habilidades ou apenas cosmeticamente falando – podemos mudar cabelo e cor de pele.

Já falando de itens, muitos equipamentos podem ter elementos equipados para adicionar atributos únicos e tornar seu set cada vez mais singular em todo o jogo.

Nem tudo é perfeito

Porém, se tratando dos menus de Torchlight 2 temos um pequeno problema. Muito da navegação por aqui é feito usando um menu radial, no qual você precisa apontar para um direção em volta do círculo para executar uma seleção, e o resultado é algo um pouco confuso no começo, ruim de controlar e nada intuitivo até por conta deste menu se dividir em duas seções: a de equipamentos e a de itens. Poderiam ter optado pelo básico, com menu em listas apenas e só, apesar de simples faz o trabalho muito bem.

O loot também é um pouco exagerado, a quantidade absurda de itens encontrados durante o jogo lhe transforma praticamente num lixeiro, catando todo o tipo de bugiganga que os monstros deixam cair, e na maioria das vezes esses itens não servem pra muita coisa ou são de um level bem mais baixo.

Se tratando dos diálogos, possivelmente por conta de ser um jogo de orçamento de cenário independente (ou indie) temos textos pesados, no lugar de vozes, ao aceitarmos missões de NPCs, e sinceramente dá uma preguiçaaaa de ficar lendo aqueles blocos enormes de palavras em certos momentos. Isso é compreensível até porque o jogo possui menos de 2gb, então há males que talvez venham para o bem.

Agora, por fim, o maior defeito mesmo de Torchlight 2 é não ter um multiplayer no mesmo console, então você depende de ter alguém com um segundo console para jogar em rede local ou pessoas no online para jogar através da internet. Ah, e o chat de voz interno exige regular o volume das vozes e do jogo, porque isso não é feito automaticamente e é frustrante.

Um jogo pra chamar de melhor-amigo

Tenho certeza de que você fã de Diablo e companhia irá simpatizar com Torchlight 2 assim que der uma chance ao jogo. O título da Runic Games é feito claramente com muito carinho e propriedade, além de lotado com pontos a serem considerados e que parecem entender completamente que tipo de decisões são mais amigáveis ao jogador de RPG com visão isométrica dos tempos modernos.

Falando do famoso “preço por hora de jogo”, Torchlight 2 pode ser encontrado por valores relativamente baixos (abaixo de R$ 60 reais em promoções) e lhe renderá mais de 20 horas em jogatina POR CADA PERSONAGEM.

Este review foi feito usando uma cópia para Switch cedida pela Perfect World

Torchlight 2

9.5

Nota final

9.5/10

Prós

  • Tem o idioma português
  • Vários recursos amigáveis
  • Visuais lindos
  • Jogabilidade excelente
  • Multiplayer bem feito

Contras

  • História simplista
  • Poucas cutscenes
  • Chat de voz interno mal projetado