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Review Vigil: The Longest Night (Switch) – Um conto de terror

No início do século XX o escritor norte-americano Howard Phillips Lovecraft revolucionou a literatura com temática de terror ao mesclar no gênero elementos de fantasia e ficção científica, dando origem ao chamado “horror cósmico”. Em Vigil: The Longest Night vivenciamos muito desse universo idealizado por Lovecraft: experiências macabras que criam monstros sanguinários; ciência, religiosidade e magia se misturando; e uma personagem que vagueia numa espécie de pesadelo sem fim.

Desenvolvimento: Glass Heart Games
Distribuição: Another Indie
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação, Plataforma
Classificação indicativa: 16 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC e Switch
Duração: Sem registros

A vigilante caçadora de monstros

Enfrente monstros macabros.

Se na ambientação nos é entregue uma temática gótica e macabra, no gameplay temos referências à jogos como Castlevania, Salt & Sanctuary e um pouco da série Souls. Essa mistura – muito bem implementada – nos entrega uma experiência bem singular e que carrega uma identidade própria apesar das inspirações e homenagens. Desenvolvido pelo estúdio indie taiwanês Glass Heart Studio e publicado pela Another Indie agora no dia 14 de outubro para Nintendo Switch e PC, Vigil: The Longest Night é um bom e desafiador jogo de ação e exploração, com jogabilidade 2D, elementos de RPG e uma história que certamente irá te prender.

No jogo encarnamos o papel de Leila, uma Vigilante caçadora de monstros que vive num mundo que nunca conheceu a luz do dia. Depois de há muito deixar Maye, sua cidade natal, uma carta enviada por sua irmã Daisy (e a proximidade do aniversário dela) motivam Leila a voltar ao seu lar. Além disso, a cidade vem sofrendo com constantes ataques de criaturas monstruosas e o desaparecimento de alguns de seus habitantes. A Vigilante parte então numa jornada para desvendar os mistérios de Maye.

Cenários sombrios e batalhas ágeis

Os cenários são sombrios, detalhados, grandiosos e diversificados (exploramos casas abandonadas, minas, navios naufragados, cemitérios, bosques, esgotos e muito mais). Somos jogados num mundo que retrata uma atmosfera medieval que serve de pano de fundo para o conto de terror sobrenatural que experimentamos no jogo. Os gráficos – desenhados à mão – são bonitos e misturam um estilo artístico conhecido como “arte chinesa do papel”. As músicas, são tão soturnas quanto o resto do mundo ambientado no game e ajudam a compor o clima que somos transportados durante nossa aventura.

Como um bom Metroidvania, Vigil possui uma estrutura de progressão não-linear, apresentando áreas interligadas que vamos descobrindo conforme aprofundamos nossa exploração. Assim, o acesso à alguns lugares depende do domínio de certas habilidades que desbloqueamos ao longo do jogo. Portanto, as idas e vindas serão uma constante. O progresso pode ser salvo em estátuas de coruja espalhadas pelos cenários. E para não ficarmos perdidos a utilização do mapa é essencial. Porém, tive muita dificuldade em conseguir me situar no jogo. O design do mapa é confuso e apresenta com imprecisão as áreas já descobertas e as que ainda faltam descobrir, fazendo com que certos caminhos (e itens preciosos) fujam da nossa vista, dificultando um pouco nossa tarefa de avançar no jogo.

O sistema de combate se inspira muito na série Souls. Só que aqui as batalhas são rápidas e fluidas, a jogabilidade é ágil e os controles precisos. Basicamente, podemos fazer ataques simples (Y) ou pesados (X). Nossa personagem possui uma barra de estamina azulada que fica logo abaixo da barra de vitalidade, no canto superior esquerdo da tela. Cada golpe desferido consome a barra de estamina. Quando ela fica amarela, perdemos eficácia no dano que causamos aos inimigos. E quando a barra é esgotada Leila fica vulnerável e precisa descansar para recuperar suas energias. Os golpes precisam ser bem cadenciados e a utilização do comando de esquiva (RT) é componente importante na estratégia de combate para vencer os inimigos. O jogo conta ainda com um sistema de parry extremamente útil que pode ser utilizado apertando o botão X com o comando de defesa (LT) armado.

Desenvolva seus talentos

Leila é capaz de usar espadas, machados, lâminas duplas e arcos em combate. Nossa heroína consegue ainda conjurar algumas magias (arcano) que podem ajudar tanto defensivamente quanto ofensivamente nos combates contra os inimigos. Podemos equipar até três armas que podem ser alternadas com o botão LB. A destreza da personagem com essas armas depende da afinidade que vamos criando através de uma interessante árvore de habilidades que serve para desenvolver os nossos “Talentos”.

Cada inimigo abatido gera ponto de experiência. Quando subimos de nível conseguimos um ponto de “talento” que podemos utilizar para desbloquear certa habilidade de combate para a Vigilante. Subir de nível não será complicado caso você tenha paciência para perder um pouco de tempo “farmando”. Algo que recomendo à fazer no início do jogo para ao menos dominar todas as técnicas de uma das armas e abrandar a dificuldade do game, que pode assustar alguns jogadores mais casuais. De toda forma, o jogo te permite escolher o tipo de dificuldade que deseja usar durante nossa aventura.

Como nos jogos de RPG, nosso status sofre influência direta tanto dessas habilidades, quanto das armas que empunhamos e de outros equipamentos que estamos utilizando (como roupas, máscaras e anéis mágicos). Esses equipamentos são adquiridos explorando os cenários ou comprando-os com mercadores. Cada um desses itens podem ser melhorados com pedras especiais diversas que ampliam o seu poder ou conferem à eles propriedades mágicas.

Em Vigil podemos observar elementos de RPG também no aspecto narrativo. Ao longo de nossa jornada, vamos encontrando figuras simpáticas e (muitas vezes) macabras que pedem nosso auxílio para resolver alguns de seus problemas, abrindo missões paralelas que se entrelaçam com a história principal (assim como The Witcher 3, por exemplo). Concluir essas missões não nos confere pontos de experiência, mas nos premiam com itens e equipamentos úteis, além de ajudar na montagem do cenário geral para melhor compreender a história do jogo.

Nem tudo são flores

Os cenários são bem variados.

Em linhas gerais, até que Vigil performa bem, mas nem tudo são flores. Durante minha experiência passei por alguns problemas bem desagradáveis como telas de loading extremamente demoradas, travamentos na alternância de armas e queda de framerate. O principal problema, no entanto, foi um bug que fechava o jogo e me fazia perder parcialmente o progresso salvo. Para avançar, de tempos em tempos, tinha que salvar o jogo, voltar ao menu inicial e carregar o progresso para iniciar novamente. Não foi uma ou duas vezes que passei por esse problema. Foram várias! Como tive acesso antecipado ao game, fica aqui minha esperança de que um pacote de atualização seja disponibilizado para resolver esses problemas.

Para ser justo, apesar dos percalços, Vigil: The Longest Night mais acerta do que erra. Trata-se de uma bela homenagem – quase um tributo – à jogos como Castlevania. Apesar das inúmeras referências, o pessoal do Glass Heart Studio criou um jogo bom o suficiente para se distanciar da sombra daqueles que lhes serviram de inspiração. Ele é divertido, desafiador e bem viciante. Com um belo design, ambientação impecável, cenários diversos, controles precisos e uma história interessante que emula os clássicos contos de terror lovecraftiano (e com legendas em português, com a graça de Deus), o game é uma boa opção para os fãs dos jogos de plataforma e exploração side-scroller.

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Bia Bock

Vigil: The Longest Night

7.5

Nota final

7.5/10

Prós

  • Belos gráficos
  • Ambientação impecável
  • Controles precisos
  • Conto de terror

Contras

  • Loading demorado
  • Quedas de framerate
  • Travamentos
  • Mapa confuso