Atomic Heart é um fascinante FPS que tem como pano de fundo uma utópica sociedade soviética livre da exploração capitalista por conta de incríveis avanços tecnológicos, que permitiram a completa automação do trabalho. No entanto, a jogabilidade em si não é tão cativante quanto o universo por trás do shooter criado pelos russos da cipriota Mundfish.
O primeiro jogo do estúdio foi lançado para PC e consoles depois de múltiplos adiamentos, sendo disponibilizado através das lojas normais e do catálogo do Xbox Game Pass. É evidente que o game precisava de mais tempo de desenvolvimento, pois existem problemas que tornam o título numa experiência frustrante.
Desenvolvimento: Mundfish
Distribuição: Focus Entertainment, 4 Divinity, VK Play
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Tiro
Classificação: 18 anos
Português: Dublagem, interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: 15 horas (campanha)/33 horas (100%)
Revolta contra as máquinas

Na campanha, assumimos o papel de Sergey Nechaev, um major enviado para investigar o que aconteceu com máquinas que apresentaram um comportamento agressivo dentro de uma fábrica. Com o tempo, o agente começa a ver o sonho utópico ruir diante de seus olhos, pois ele passa a notar a existência de uma conspiração megalomaníaca com o envolvimento direto de seus superiores.
Embora a narrativa seja intrigante, o shooter erra ao tentar ser irreverente no decorrer de todo o jogo. Quase todas as cenas possuem diálogos descompromissados e repletos de piadas esquisitas, que não acompanham bem a jogatina, já que as conversas são constantemente interrompidas em favor de reações a outros acontecimentos.

Sergey não está só em sua jornada, pois o soldado tem a companhia do camarada Charles, uma inteligência artificial presente em suas luvas. Além de guiar o protagonista e explicar toda a história de forma expositiva, a luva habilita ataques especiais, que podem ser customizados por meio do rico sistema de upgrades existente no jogo.
Com inspirações em Dying Light e Bioshock, a Mundfish entregou um shooter totalmente aquém de suas referências, com uma jogabilidade que não inova em nada. Apesar da boa variedade de equipamentos e animações de desmembramentos excelentes, as mecânicas de combate não são responsivas. O título ainda incorpora diversos eventos de ação rápida nos duelos que quebram o ritmo da jogatina. Além dos confrontos repetitivos, parte da aventura é focada na resolução de quebra-cabeças, que são confusos e mal explicados.
Roda bem

Atomic Heart chegou aos computadores sem suporte para campos de visão amplos, necessários para assegurar uma jogatina agradável em telas próximas aos olhos. É necessário utilizar ferramentas de terceiros para ajustar essa função e aproveitar o FPS sem sentir desconfortos, já que a câmera sempre balança exageradamente, algo que causa enjoos.
Apesar da ausência de algumas opções essenciais, a conversão para PC surpreende pela falta de travamentos e pela disponibilidade de configurações técnicas suficientes para garantir uma experiência acessível para o maior número de hardwares distintos. Só faltou uma opção para desligar o screen space reflection (SSR), que prejudica a incrível ambientação com reflexos bugados.

O clima retrofuturista apresentado é bem feito, com uma atenção impressionante aos pequenos detalhes que compõem cada cenário. A trilha sonora é sensacional, contendo faixas russas e músicas assinadas por Mick Gordon que dão um clima singular para todo o mundo de Atomic Heart.
Porém, a exploração dos mapas é decepcionante devido ao foco excessivo em stealth, juntamente com as diversas falhas que não foram resolvidas. Há vários pontos que deixam o personagem imóvel, forçando a necessidade de recarregar algum salvamento anterior para poder prosseguir, gerando frustração e uma sensação de tempo perdido.
Não é divertido
Mesmo com uma dublagem em português que garante um carisma inigualável aos personagens, Atomic Heart não é um jogo muito bom. Embora a proposta seja interessante, a campanha é sofrível por conta do ritmo longo e sem foco da narrativa, além das missões chatas e do combate pavoroso, que comprometem toda a aventura. O FPS certamente seria um título melhor se tivesse uma escala menor, já que nem tudo precisa ter um grande mundo aberto. O esforço que foi gasto construindo um mapa desnecessariamente enorme poderia ter sido investido na construção de uma gameplay refinada e polida.
Cópia de PC adquirida através do Xbox Game Pass
Revisão: Ailton Bueno