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Revisitando Ultimate Mortal Kombat 3 – Sangue e nostalgia

Em meados dos anos 90 os jogos de luta 2D, com as mecânicas estabelecidas pela Capcom com Street Fighter, se tornaram uma verdadeira febre. Após o sucesso de Street Fighter 2, os jovens Ed Boon e John Tobias deram início a um projeto que fazia uso de um novo recurso tecnológico que capturava imagens de atores reais e as transformavam em sprites na construção de personagens. Tratava-se de Mortal Kombat.

Acredito que seja de conhecimento amplo que a ideia inicial era emular o filme oitentista “O Grande Dragão Branco”, estrelado por Jean-Claude Van Damme. Diante da recusa do ator em participar do projeto, a pequena equipe de desenvolvedores – ainda utilizando a estética de um torneio de artes marciais – adaptaram a narrativa, o preencheram com personagens originais, deram uma pitada de violência e distribuíram o seu jogo em algumas lojas de arcades para testar a aceitação do produto junto ao público. O resultado? Um sucesso danado!

Desenvolvimento: Midway Games

Distribuição: Midway Games

Jogadores: 1-2 (local)

Gênero: Luta

Classificação: 18 anos

Português: Não

Plataforma: Arcade, IOS, Game Boy Advance, Nintendo DS, PS, PS 2, Sega Saturn

Duração: 1 hora (Campanha)/33.5 horas (100%)

Personagens icônicos e violência escrachada

Duelo icônico

Mortal Kombat nos apresentou finalizações violentas (Fatality) e personagens icônicos que possuem relevância até os dias de hoje dentro da indústria de games. Quando criança, passava horas tentando desenhar os ninjas dos clãs Shirai Ryu e Lin Kuei, Scorpion e Sub-Zero. Está certo que acertando o traço, era só mudar a cor, mas estava valendo. Além dos ninjas, outras figuras importantes surgiram como Jhonny Cage (inspirado em Van Damme), Sonya, Liu Kang e os grandes vilões Goro e Shang-Tsung.

A violência escrachada aproximava o jogo do “pastelão”. Era algo que não aterrorizava os jovens, pois vendia todo sangue e violência de uma forma cômica. Na verdade, foram os adultos da época que ficaram escandalizados com o que viam. Dessa forma, a sociedade política norte-americana, pressionada por alas conservadoras dentro do Congresso, foram os responsáveis por fazer surgir a classificação indicativa (ESBR) em jogos eletrônicos. É Mortal Kombat fazendo história!

A versão definitiva de Mortal Kombat 3

Vamos para o “FIGHT"

Toda essa polêmica só fortaleceu ainda mais o título (bait, que se diz). E tão logo Mortal Kombat recebeu versões para os consoles na época. Quem não se lembra da versão de SNES sem sangue? – ai, Nintendo, pelo amor de Deus! 

De toda forma, o título teve grande aceitação entre os amantes de jogos de luta, e foi sucesso de crítica e vendas, e uma sequência foi logo anunciada. Quando Mortal Kombat 2 foi lançado, ele conseguiu, com louvor, repetir o sucesso do primeiro jogo (e agora tinha sangue na versão do SNES). A tecnologia de captura havia sido refinada, tínhamos mais personagens, mais cenários, gráficos melhores e mais golpes. Mas, nada se compara ao salto que Mortal Kombat 3, de 1995, deu para a série.

Antes de entrar no mérito de suas mecânicas, melhorias visuais, finalizações, entre outros, é importante dizer que Mortal Kombat 3 não fez tanto jus ao sucesso da franquia. Principalmente porque muitos dos personagens icônicos, visto nos títulos anteriores, foram preteridos a personagens novos (cadê o meu Scorpion?). Eis que a Midway lança, então, alguns meses depois, uma versão definitiva batizada de Ultimate Mortal Kombat 3. Esse sim era uma delícia! E é justamente o foco dessa análise retrô.

O MK3 que queríamos

O jogo que MK3 deveria ter sido desde o início

Alguns de vocês já devem estar pensando: “pô, Wendel! UMK 3 não é uma versão definitiva. E aquele outro jogo lá?”. Vocês estão certos! Um pouco mais para frente, usando a mesma engine de MK3 e UMK3, tivemos o lançamento de Mortal Kombat Trilogy, um dos mais amados títulos de todos os tempos da Frankia.

Trilogy, porém, funciona como um jogo comemorativo, que compilou cenários, personagens e todo o know-how dos títulos anteriores num único lugar. Ultimate Mortal Kombat 3 tinha outra missão. O que se queria era trazer para esse universo os fãs de longa data que se sentiram traídos por não verem seus amados personagens no jogo, acalmando os ânimos dos donos das lojas de arcades. Nesse sentido, UMK 3 amplia e consolida a nova proposta para a série, se tornando o que MK3 deveria ter sido desde o início.

Elenco e cenários diversificados

Toasty!

Boa parte do elenco de atores foram trocados nessa sequência e o design dos personagens foram aprimorados. É em MK3 e UMK3, por exemplo, que vemos o rosto do ninja Sub-Zero. Após os eventos do segundo jogo, Kuai Liang – irmão do Sub-Zero do primeiro jogo – renega o seu clã e aparece sem máscara. Em UMK3, Bi-Han (o primeiro Sub-Zero) é o ninja das sombras Noob Saibot, personagem que brinca com o nome dos criadores da série. 

UMK3 aprofunda a mitologia de todos os personagens e apresenta novos e carismáticos guerreiros. Cada um possui sua própria história, atrelada aos eventos da tentativa de dominação de Shao Khan ao plano terreno após perder mais uma vez o torneio Mortal Kombat. É nesse jogo que vemos a automação do clã Lin Kuei, que nos brinda com Cyrax e Sektor; a mãe de Kitana, Sindel; o membro do Black Dragon, Kabal; e muitos e muitos outros personagens. O rol de personagens da versão Ultimate é gigante para os padrões da época e conta, inclusive, com alguns guerreiros secretos.

Visualmente MK3/UMK 3 é impressionante. É um jogo que mais de vinte anos depois de seu lançamento continua muito bonito, seja nos arcades, seja nos consoles. Os cenários são bem diversos e com um visual bonito e que funciona como pano de fundo para narrar os acontecimentos. É em MK3/UMK3 que temos a mudança de cenários após um “gancho”. Quem já jogou Injustice sabe bem do que estou falando: é aquela transição de cenário após um ataque mais forte. É justamente MK3/UMK3 que inaugura isso. E, olha, como é gostoso dar um gancho bem dado no adversário, fazendo-o voar até outra instância do cenário, ao som do grito “Toasty”, de Dan Forden. Aliás, é uma das coisas que sinto muita falta em MK10 e MK11.

Jogabilidade viciante

Esses combos maravilhosos…

Em termos de jogabilidade, a essência vista nos primeiros dois jogos está lá (bloqueio, golpes especiais, voadoras, soco fraco, soco forte, chute fraco, chute forte, rasteira, ganchos). Mas, o novo MK3 inaugurou um comando para correr e as sequências destruidoras de combos. Emendar um combo junto a um golpe especial não foi inaugurado na série em MK9, de 2011, mas sim em MK3/UMK3. E isso dá uma satisfação incrível. São combos esses que, quando bem aplicados, retiram quase que a energia toda do adversário. Ultimate Mortal Kombat 3 ainda inaugura os Brutalities. Ao final da luta (finish him/her) podemos iniciar uma sequência de golpes que, literalmente, destrói o adversário até os ossos.

Falando das finalizações, salvo o Brutality, cada personagem possuía dois Fatalities, Stage Fatality, Babality, Friendship (ambos presentes já no segundo MK) e – estreando na franquia – o Animality. Desferir esse golpe fatal era muito arriscado, porque tínhamos que dar uma segunda chance para o adversário após vencermos a luta (Mercy), derrotá-lo novamente e aí sim fazer o comando da finalização. Foi uma pena a versão de Mega Drive não contar com os Animalities, por uma questão de tamanho de jogo no cartucho – creio.

É importante ressaltar que os cartuchos não vinham com um manual indicando os comandos dessas finalizações. Tão pouco MK3 tinha um tutorial nos menus. Estamos falando de uma época onde não havia internet. Vocês tem noção de como a gente aprendia as sequências? Revistas, boca-a-boca (principalmente na escola) e “na marra”. Sim! Eu ficava horas tentando aprender um Fatality na marra, criando sequências de forma aleatória. E funcionava, viu?! Mas, dava um trabalho danado. Era uma época boa em que a gente tinha muito tempo pra isso.

Um jogo atemporal

Com a transição para o mundo tridimensional, a série se perdeu um pouco e não conseguiu repetir o mesmo sucesso de títulos anteriores, como UMK3. Os jogos da era PS2 colocaram Mortal Kombat numa espécie de limbo. Somente quando Mortal Kombat 9 (2011) foi lançado é que ele passou a ter protagonismo novamente nos jogos do gênero. E isso surfando, mais uma vez, na fórmula recriada pela Capcom, em Street Fighter 4: gráficos 3D, com uma jogabilidade 2D. A cereja do bolo foi a narrativa cinematográfica, que nos fez viajar pela história dos jogos anteriores, dando um novo início para a série.

Desde 2011, então, Mortal Kombat segue firme e forte como um dos jogos de luta mais relevantes da atualidade. Porém, mesmo com os avanços tecnológicos que os novos títulos carregam, a revolução que Ultimate Mortal Kombat 3 proporcionou mais de vinte anos atrás é atemporal, e o alçou como um dos títulos de luta mais relevantes de todos os tempos.