Rocksmith foi lançado em 2011 surfando na onda dos jogos de ritmo que eram populares na época, mas com uma proposta ousada: transformar Guitar Hero numa experiência real e educativa.
Desenvolvido e publicado pela Ubisoft, o jogo chegou oferecendo compatibilidade com toda e qualquer guitarra real e fez bastante sucesso desde então, a ponto de ganhar outras duas versões distintas: Rocksmith 2014, que aprimorou o jogo original com novas funcionalidades, e Rocksmith+, um serviço de assinatura para PC, celulares e consoles que propicia a mesma experiência dos outros games, mas com um formato de um streaming musical.
Ambas as versões são excelentes e cumprem seu propósito com perfeição, mas o destaque aqui ficará com a edição de 2014, que está disponível na Steam e é compatível com músicas criadas pela comunidade – ou seja, há ainda mais possibilidades de gameplay e de aprendizado.
Aprendendo…
A experiência proporcionada por Rocksmith é dividida em vários modos – todos, claro, centrados em tocar guitarra ou baixo. Inicialmente, temos as lições, que explicam todos os conceitos básicos com interatividade, através de vídeos que mostram desde como segurar uma palheta até os acordes mais avançados.
Esse é um material essencial tanto para iniciantes quanto para aprender como a interface do jogo funciona. O game, por padrão, foge um pouco da forma tradicional de se ler tablaturas e decide fazer tudo do seu próprio jeito, o que pode confundir num primeiro momento até mesmo quem já toca há bastante tempo.
Além dessas ferramentas de aprendizado básico, o título gamifica sua experiência com minigames que reforçam o ensino de técnicas. Existe um modo focado em tocar músicas sob as regras de um sistema de pontuação, tornando Rocksmith, essencialmente, no Guitar Hero de verdade.
A versão atualmente vendida na Steam não inclui nenhuma faixa – o game foi originalmente lançado em 2013 dependendo de conteúdo licenciado cujos direitos já expiraram. Para resolver esse problema, a Ubisoft decidiu relançar o jogo sem músicas inclusas, sendo possível adquiri-las separadamente ou adicioná-las por meio de mods.
…e tocando!
O objetivo é simples e autoexplicativo: tocar. Claro que isso, por si só, não é fácil e depende das complexidades de cada canção – que, no jogo, são divididas entre a base rítmica, a faixa em destaque e o baixo. Por isso, Rocksmith oferece o Riff Repeater, sua principal funcionalidade centrada no aprendizado das músicas.
Através do Riff Repeater, é possível ajustar dinamicamente a dificuldade das notas, além de alterar a velocidade de uma seção específica e repeti-la até que todas as notas sejam tocadas corretamente. Nessa parte do jogo, o foco é um só: aprender.
Não é necessário se preocupar com a afinação – de forma interativa, o jogo mostra como cada corda precisa ser ajustada. Também é indicado qual deve ser a posição dos dedos em cada acorde, e há um sistema que emula as distorções e efeitos das músicas originais com uma fidelidade impressionante.
O ponto negativo desse aspecto é a ausência das gravações masters das músicas licenciadas – ou seja, com os canais de áudio de cada instrumento separados, como em Rock Band, por exemplo. Então, é possível ouvir durante a jogatina a música original em sua totalidade, o que pode atrapalhar o aprendizado pela falta de um feedback audível do desempenho. Mas isso não chega a ser um grande empecilho, pois é possível minimizar o problema ajustando o volume para que a guitarra se sobressaia à faixa original.
De resto, Rocksmith é uma experiência inigualável, de alta qualidade e, quando aliada à dedicação, se torna uma ótima ferramenta para aprender a tocar guitarra ou baixo. Porém, é preciso ter em mente que o jogo em si não é exatamente acessível.
Acessível, mas nem tanto
Rocksmith 2014 custa R$ 50 na Steam e, em promoções, pode ser encontrado por cerca de R$ 15. Mas, como mencionado anteriormente, o jogo não inclui músicas e elas precisam ser adquiridas à parte – o que, dependendo da quantidade de faixas desejadas, pode acarretar numa experiência cara. Dá para instalar faixas feitas pela comunidade, mas, por questões éticas, as músicas mais famosas que foram oficialmente licenciadas pela Ubisoft não estão disponíveis para download – ainda assim, há mais de 70 mil faixas consideravelmente menos conhecidas criadas pelos modders.
Apesar do jogo ser relativamente barato, conectar uma guitarra ao computador pode não ser tão simples. Embora a Ubisoft forneça um cabo USB próprio que pode ser adquirido por valores entre R$ 200 a R$ 400 em lojas online, o mais recomendado para se ter uma experiência de qualidade e sem atrasos no sinal do instrumento é o uso de uma interface de áudio – cujo custo varia bastante.
Com isso, há a necessidade de configurar a compatibilidade da interface num processo até complexo, já que o suporte a esse tipo de conexão é realizado com o padrão ASIO e é oferecido pela própria comunidade ao invés da Ubisoft – que permite que o jogo funcione num modo desconectado, sem a detecção das notas tocadas, mas nisso, grande parte da experiência proporcionada pelo game é comprometida.
E, claro, há a necessidade de se ter uma guitarra, violão elétrico ou baixo em mãos. Nesse ponto, Rocksmith brilha completamente ao oferecer compatibilidade com qualquer guitarra ou baixo – desde que o instrumento esteja funcionando, logicamente. No entanto, uma falha do game é a falta de uma tradução em português no jogo, pois isso pode complicar na hora de lidar com alguns termos técnicos – é uma pequena barreira que só passa com o tempo e o costume com o inglês.
Totalmente sensacional
Mas afinal, diante de tantas funcionalidades, é hora de responder diretamente à pergunta do título: é realmente possível aprender a tocar guitarra com o game? Sim!
Depois de cerca de seis meses tocando quase diariamente (o que resultou em quase 300 horas de jogatina), é seguro afirmar que o Rocksmith é uma ferramenta espetacular para aprender não só os conceitos básicos da guitarra, mas a tocar músicas com uma proximidade surreal em relação às execuções originais.
Só que tudo depende da força de vontade de quem está jogando, pois é necessária bastante dedicação para atingir uma proficiência satisfatória no instrumento. É, sem dúvidas, um começo incrível para iniciantes e um complemento fenomenal para quem já toca e busca incentivos para continuar praticando.
Revisão: Ailton Bueno
