Rock Band 3 é definitivamente o ápice dos jogos musicais. Lançado originalmente em 2010, o jogo criado pela Harmonix trouxe diversas inovações para a fórmula da franquia, sendo, até hoje, uma experiência sensacional que merece ser revisitada – apesar de não ser algo tão fácil de se fazer, mas certamente vale a pena, como será explicado aqui, neste texto.
Desenvolvimento: Harmonix Music Systems, Backbone Entertainment
Distribuição: MTV Games, Electronic Arts, Harmonix Music Systems, Mad Catz
Jogadores: 1-7 (local e online)
Gênero: Simulação
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PS3, Xbox 360, Wii
Duração: 9 horas (campanha)/134 horas (100%)
Um breve contexto

Antes de falar sobre Rock Band, é necessário contextualizar o momento em que a franquia surgiu. Guitar Hero chegou em 2005 tentando levar as ideias de Guitar Freaks, criado pela Bemani, a divisão de games de ritmo da Konami, para o público ocidental. Mesmo com um orçamento relativamente baixo, de 1 milhão de dólares, o jogo foi um fenômeno, e, não à toa, desencadeou uma pequena onda de aquisições antes do lançamento do segundo título da série.
Em maio de 2006, a RedOctane, distribuidora do jogo e fabricante das guitarras de plástico, foi adquirida pela Activision, que, por sua vez, passou a ser a detentora da marca Guitar Hero e decidiu que a Neversoft, conhecida pela franquia Tony Hawk’s, deveria desenvolver o terceiro título da série em vez do estúdio original. Enquanto isso, a Harmonix, esquecida pelos executivos da Activision, foi comprada meses depois pela Viacom (hoje chamada de Paramount), que havia iniciado um projeto para levar a marca de seu canal MTV ao mundo dos jogos, unindo a interatividade e a música. Apesar de ser uma das responsáveis por Guitar Hero, ela não tinha os direitos de sua criação, mas como o interesse nesse mercado era massivo, surgiu Rock Band, produzido em parceria com a Electronic Arts.

Claro, Rock Band precisava de um grande diferencial para que o jogo não fosse visto como uma cópia de um outro sucesso. Enquanto Guitar Hero era focado somente na guitarra, Rock Band deu um salto significativo no mesmo conceito, tentando simular a experiência de tocar em uma banda completa, permitindo que os jogadores também cantassem e tocassem bateria. O experimento foi tão bem-sucedido que o primeiro Rock Band chegou a ser o game que mais faturou em 2008 nos Estados Unidos, superando até mesmo Guitar Hero III: Legends of Rock e World Tour, o quarto título da série, que logo tratou de copiar tudo que a Harmonix fez um ano antes, mas com uma jogabilidade notavelmente inferior.
Melhorando uma fórmula

Naturalmente, Rock Band 2 foi lançado pouco tempo após o primeiro trazendo vários aprimoramentos à fórmula, mas foi no terceiro título que a série atingiu seu ápice – não só dentro da franquia, mas também no gênero dos jogos musicais como um todo. Rock Band 3 inovou oferecendo suporte para mais instrumentos, abrindo espaço para mais jogadores e permitindo uma jogatina para até sete pessoas, sendo uma maneira divertida de socializar localmente ou através da internet.
Sim, são sete pessoas distintas, podendo assumir a percussão, teclado, guitarra ou baixo, em músicas com até três vocalistas diferentes. Além disso, Rock Band 3 levou a simulação musical a um novo patamar com versões profissionais dos instrumentos. Dessa vez, foi possível tocar com teclados, baixos, guitarras e baterias mais próximos da realidade, com os botões dando lugar a teclas, pratos e cordas reais. Além de elevar o naipe do jogo, isso transformou Rock Band em uma ferramenta educacional para se aprender a tocar ou a cantar de verdade.
Uma infinidade de músicas

Juntamente com as inovações na gameplay, veio também a diversidade musical proporcionada por Rock Band. Um setlist de qualidade é o que define se um jogo de ritmo é bom ou não, e Rock Band 3 acerta nisso ao trazer 83 faixas distintas que vão do funk e R&B aos tradicionais hard rock e metal, sempre fazendo um ótimo uso de todos os instrumentos disponíveis. Como boa parte da equipe do estúdio era composta por músicos, a franquia ainda contava com canções de bandas formadas pelos próprios desenvolvedores, o que dava um bom aspecto de autenticidade e personalidade à série, denotando que a experiência foi criada por artistas que realmente entendiam de música.
A Harmonix também esteve na vanguarda na época em que os consoles começaram a se conectar de vez à internet e os games de serviço ganharam relevância e dominância no mercado. Rock Band nunca foi somente um jogo, mas sim uma plataforma também focada na venda de canções e álbuns completos a um preço acessível, que funcionam perfeitamente em todas as versões do jogo – inclusive a mais atual, disponível para as plataformas modernas.

Com isso, dá para completar a biblioteca com todo tipo de música, sem distinções de artistas ou gêneros, além de ser possível adicionar faixas customizadas criadas pela própria comunidade e até músicas de outros jogos da série – que recebeu versões totalmente dedicadas a bandas como Green Day e Beatles, resultando em uma setlist imensa para ser explorada. Os modos, claro, são dedicados a adentrar essa biblioteca, seja cumprindo desafios para liberar novos itens para os personagens ou simplesmente tocando as músicas. A jogabilidade é centrada em agradar uma plateia exigente ao acertar notas em sequência, o que aumenta um multiplicador que ampliam os pontos, determinando assim a quantidade de estrelas que representam o desempenho da banda nas músicas.
Mas a infinidade musical presente no jogo proporciona, acima de tudo, uma experiência que nunca se torna cansativa. Não por acaso, esse modelo de negócios adotado pela Harmonix deu tão certo que Rock Band recebeu músicas semanais até o início de 2024, quando a produtora passou a focar no Fortnite Festival – que, a propósito, utiliza o mesmo esquema de atualizações que o estúdio empregou durante todo esse tempo.
Infelizmente inacessível

Entretanto, o maior desafio de Rock Band 3 não é acertar as notas ou cantar “Bohemian Rhapsody” no mesmo tom de Freddie Mercury, mas sim conseguir jogar o título. Na época (ou seja, há mais de 15 anos), a experiência já não era tão acessível assim. Por exemplo, o pacote com os instrumentos dos Beatles foi disponibilizado nacionalmente custando R$ 2000 – o que equivale a cerca de R$ 5600 em 2024, em valores corrigidos de acordo com os índices de inflação do Banco Central do Brasil.
Hoje em dia, como esses periféricos já se tornaram antiguidades e o único modelo fabricado atualmente não é vendido no país, é preciso garimpar lojas e marketplaces de usados. Isso pode acabar saindo bem caro, possivelmente até mais do que a própria época do auge dos games musicais, dependendo do estado dos instrumentos. Por conta disso, Rock Band acaba se tornando uma franquia que, mesmo para quem tem interesse, pode não ser jogável, o que é uma pena, pois os jogos são incríveis e divertidos.

Se os preços já estão fora da realidade de muitos brasileiros, essa brincadeira, logicamente, também passou longe de ser barata nos principais mercados da indústria dos games. Os valores exorbitantes para se ter toda a experiência (tanto para os fabricantes quanto para os consumidores) foram um dos fatores que inevitavelmente levaram Rock Band a um certo nível de fracasso financeiro, mesmo considerando a qualidade dos jogos.
A conta dificilmente fechava, e isso eventualmente acarretou na saída da MTV dos games e na venda da Harmonix e da franquia por apenas 50 dólares para um grupo de investidores independentes, que arcaram com os prejuízos e dívidas da empresa – condição essa que o estúdio permaneceu até 2021, quando foi comprado pela Epic para criar experiências musicais dentro do Fortnite.
Um futuro inesperado
Ainda é um pouco inacreditável, mas é justamente dentro do famoso shooter que a Harmonix continua mantendo esse sonho vivo. Nos últimos meses, Fortnite Festival chegou a ganhar suporte para os instrumentos antigos, além de um evento especial com o Metallica e mais de 200 faixas jogáveis. Hoje, essa é a forma mais fácil e acessível de jogar algo semelhante a um Rock Band, mas é sempre bom torcer para que um quinto título da franquia aconteça, com um nível de excelência similar ao terceiro game da série.
Revisão: Ailton Bueno