Os rail shooters tiveram uma grande popularidade entre os anos 80 e 90, promovendo uma ação ágil e frenética ao controlarmos uma nave, herói, ou qualquer outra coisa que atire, seguindo uma espécie de trilho de movimento automático mas manipulando livremente a posição do boneco na tela. Essa premissa consagrou clássicos como Space Harrier, Star Fox e House of Dead.
Com a chegada de jogos de ação que traziam mais liberdade, como os jogos de tiro em primeira e terceira pessoa, os rail shooters foram perdendo espaço, relegados a projetos mais escusos. Air Twister tenta trazer um pouco de luz para este gênero esquecido, e ainda conta com a assinatura de Yu Suzuki, uma lenda da indústria dos games, responsável por nomes como Hang-On, OutRun, Virtua Racing, as séries Virtua Fighter e Shenmue, além do já citado Space Harrier.
Desenvolvimento: YS NET
Distribuição: ININ Games
Jogadores: 1 (local e online)
Gênero: Aventura, Shooter
Classificação: Livre
Português: Interface e legendas
Plataforma: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: Sem registros
Herança pesada
Se você em algum momento já jogou Space Harrier, vai notar na hora o tamanho da influência deste jogo em praticamente tudo de Air Twister. Controlamos a princesa Arch, que combate criaturas alienígenas e formas geométricas para salvar o seu planeta de uma invasão iminente. Ela está armada com um poderoso canhão, que pode tanto disparar normalmente quanto travar mais de um inimigo em sua mira e tentar liquidar todos de uma vez.
As mecânicas do jogo não são complexas. O caminho que Arch segue é feito automaticamente, como se estivesse voando presa a um trilho — por isso o nome rail shooter. O controle que temos da personagem se refere à sua posição na tela para tentar abater inimigos enquanto escapa dos projéteis que são atirados em sua direção.
Ao fim de cada estágio, nos deparamos com um chefe, que só é eliminado quando encontramos seu ponto fraco. Para nos ajudar, podemos montar em um de nossos parceiros alados, que são: um cisne, um lagarto, um peixe e um elefante. Só para constar, nós já estamos nos deslocando em pleno ar durante o combate.
No mais, a jogabilidade foi bem adaptada para os controles dos consoles, se mostrando responsiva e dinâmica. Ficar se movendo pelo espaço para mirar na maior quantidade possível de inimigos é algo que funciona bem para os analógicos e ter gatilhos para atirar é infinitamente melhor do que tentar fazer tudo na tela de um celular.
Juntando milhares de estrelas
Exterminar as ondas de criaturas do modo História nos concede estrelas, usadas posteriormente para upgrades nos nossos pontos de vida, na quantidade de alvos que podemos travar de uma vez, uso de câmera lenta e em alguns itens cosméticos. E se tem algo no qual Air Twister não economiza é na customização.
O Mapa da Aventura, que é a árvore de habilidades para gastarmos as estrelas, traz uma infinidade de roupas, penteados e maquiagens, para combinarmos livremente e deixarmos Arch estilosa na hora de combater monstros. Além disso, a cada item comprado, independente da sua finalidade, um fascículo da história do jogo é desbloqueado, que pode ser sobre um ambiente, um inimigo ou até mesmo uma passagem para preencher lacunas.
O jogador tem à sua disposição o modo História, dividido em 12 fases, e alguns desafios que consistem em jogar as mesmas fases da História, mas em dificuldades diferentes, coletar estrelas em fases alternativas de progressão lateral e até uma corrida para acertar blocos numéricos em ordem.
Parece muita coisa, mas tudo isso é apresentado de maneira bastante simples, a ponto de ser extremamente repetitivo. Isso acontece pois Air Twister foi lançado para smartphones no ano passado, e essa versão para consoles trata-se meramente de um port. Mesmo com toda essa “variedade” de modos, apenas a História e um dos bônus concede estrelas, tornando os demais bem menos interessantes e até supérfluos.
Se apenas poucos modos concedem estrelas, e elas são necessárias para os upgrades, logo o grind envolvido para conseguir as quantidades estabelecidas se torna cada vez mais pesado. Seria mais benéfico se todos os modos dessem estrelas e a quantidade obtida fosse influenciada por fatores como o nível de dificuldade ou a velocidade de conclusão, pois isso incentivaria o jogador a explorar os demais modos de jogo com a recompensa que ele mais precisa.
Um ótimo CD riscado
Sem negar sua origem mobile, Air Twister alterna entre o ótimo visual das fases que misturam a fantasia com a psicodelia, e os visuais simplórios e confusos dos menus. Ao navegarmos pelas 12 fases, alternamos entre florestas vivas, montanhas, plantações de cogumelos gigantes em neon, o espaço, uma espécie de base lunar abandonada e uma região marítima. Todas elas com cores fortes e vibrantes, para retratar os diferentes biomas de um mesmo planeta.
Nesse aspecto, o que deixa a desejar são alguns elementos que carecem de polimento gráfico. Isso fica mais evidente em elementos ao fundo dos cenários, e nas cutscenes, que contam com alguns closes que revelam imperfeições visuais. Os menus são mal otimizados, pois temos mais de uma opção que leva ao mesmo lugar, o que é totalmente desnecessário. Por exemplo, podemos acessar o Mapa da Aventura pela sua opção própria ou pela tela de customização de Arch.
Outro incômodo é a poluição causada pela quantidade de janelas que se abrem em um mesmo espaço. Se quisermos ler os fascículos sobre a história ou escutar alguma música nova que liberamos, não há uma opção separada para isso, como uma galeria. As caixas de alternativas apenas vão se sobrepondo, umas sobre as outras. E é claro que isso acontece na tela do Mapa da Aventura, criando um amontoado de informações difíceis de serem digeridas. Por falar em trilha sonora, ela representa um dos pontos mais fortes e um dos mais fracos de Air Twister.
Todas as canções do jogo ficaram à cargo de Valensia Clarkson, um músico multi-instrumentista holandês fortemente influenciado pelo Queen. Logo de cara, na música do menu do jogo, dá para notar que a canção de abertura poderia ser facilmente cantada por Freddie Mercury. O trabalho de Valensia nesta trilha sonora é muito bom, praticamente transformando Air Twister em uma espécie de Ópera Rock.
Entretanto, mesmo liberando músicas novas com as estrelas, elas não podem ser adicionadas à playlist do jogo. Ou seja, mesmo com cerca de 20 músicas, escutamos as mesmas três ininterruptamente durante cada partida e isso é irritante demais, além de ser um pecado com toda a obra musical composta para o jogo. Como sou gente boa, vou colocar a trilha completa abaixo, e não apenas os temas que se repetem exaustivamente.
A cara do pai
Air Twister é inegavelmente uma obra de Yu Suzuki, pois trata-se de Space Harrier com uma roupagem mais moderna. Isso não é algo ruim, mas ver o tanto de escolhas questionáveis feitas nessa conversão me faz pensar que o jogo poderia ser muito maior e melhor do que ele realmente é. Talvez elas façam sentido para a versão mobile, mas para os consoles elas são bem aquém do que poderiam ser.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Julio Pinheiro
Air Twister
Prós
- Inicialmente divertido
- Jogabilidade responde bem aos controles
- Excelente trilha sonora autoral
- Muitas opções de customização
Contras
- Os modos de jogo são mal aproveitados
- Se torna repetitivo muito rápido
- Grinding por estrelas é bem pesado
- Menus desorganizados
- As mesmas três músicas tocam repetidamente