Review Arzette: The Jewel of Faramore (PS4) – Honrando o patinho feio de uma grande franquia

O passado sempre traz inspirações para os jogos do presente, e não me refiro apenas aos grandes clássicos quando falo isso. Arzette: The Jewel of Faramore alia um visual retrô e jogabilidade clássica de plataforma com referências a dois dos mais pitorescos títulos da franquia The Legend of Zelda.

Desenvolvimento: Seedy Eye Software

Distribuição: Limited Run Games

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Aventura, Plataforma

Classificação: 12 anos

Português: Legendas e interface

Plataforma: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox Series X|S

Duração: 4 horas (campanha)/5 horas (100%)

Ruim até dar a volta e ficar bom

As animações são inspiradas nos dois únicos jogos da franquia Zelda licenciados para um conhsole que não fosse da Nintendo. Inclusive, este cara da imagem até lembra de leve um certo hyruleano...

Antes de mais nada, um breve contexto histórico: A Phillips tentou entrar no mundo dos consoles no início dos anos 90, com o CD-i, um dos primeiros a não usar cartuchos em favor aos CDs. Em um momento raro, a Nintendo cedeu a licença de The Legend of Zelda para a criação de dois jogos. Assim nasceram, em 1993, Link: The Faces of Evil e Zelda: The Wand of Gamelon. Ambos tinham características marcantes: uma movimentação truncada e cenas animadas com qualidade bastante questionável.

Não é preciso dizer que o desempenho pífio dos dois jogos fez a casa do Mario restringir o uso de suas propriedades apenas aos seus consoles. Enquanto a essa infame dupla que “manchou” por um tempo a franquia The Legend of Zelda, o tempo passou ao ponto de até algumas cenas isoladas caírem no gosto do público novamente em forma de memes.

É em cima disso que Arzette tenta criar o seu carisma com os jogadores, e até consegue, mas em partes. As cenas animadas com expressões exageradas e humor um tanto quanto ácido são interessantes e quebram um pouco do padrão trazido pela maioria dos indies atuais, que preferem se inspirar em games como Sonic, Mario, Crash, e por aí vai.

Cada uma dessas interações podem ser consideradas bastante feias, mas elas são 100% propositais neste caso, com foco total em reproduzir o que Link: The Faces of Evil e Zelda: The Wand of Gamelon tentaram tornar famoso há mais de 30 anos atrás, sem sucesso. E por mais que os jogos do CD-i não sejam conhecidos por sua legião de fãs, quem for interessado neste tipo de “pérola” se sentirá consideravelmente feliz. 

O problema é que as cenas impactam diretamente nas suas missões e em alguns casos elas são um pouco demoradas. Elas até podem ser puladas, mas nunca se sabe quando os diálogos serão apenas interações engraçadinhas ou mensagens de fato importantes. Por isso, o jogador fatalmente irá ver algumas delas mais de uma vez até se sentir cansado, não por vontade própria.

Outro elemento que também foi resgatado daquela época, mas com bastante personalidade e qualidade, é a trilha sonora. O compositor Jake “Button Masher” Silverman conseguiu idealizar muito bem os temas noventistas e fez com que as músicas de Arzette: The Jewel of Faramore se tornassem um dos pontos mais fortes do jogo, sem sombra de dúvidas.

Para onde eu tinha que ir mesmo?

Para combater as criaturas de Daimur, Arzette conta com uma espada e uma pistola com disparos mágicos coloridos

No mais, Arzette: The Jewel of Faramore comporta-se como um típico jogo de aventura, com diversas fases para serem exploradas e itens para serem coletados. A missão da princesa Arzette é juntar os fragmentos da joia do reino de Faramore e derrotar o demônio Daimur.

Sua progressão não linear é algo que por si só é interessante. Sempre será necessário revisitar um local após adquirir uma magia nova ou conversar com alguém que te pede algo que gera uma missão secundária que não estava disponível antes. O problema é que os indicativos para a conclusão de cada tarefa que não seja a principal são mínimos e isso aumenta desnecessariamente o tempo de conclusão do jogo.

A princesa Arzette precisará visitar todas as localidades do mapa mais de uma vez para completar 100% das suas missões

Tudo que temos para nos ajudar é um ponto de interrogação vermelho que aparece em áreas de interesse, mas apenas quando já estamos perto de finalizar uma entrega de item ou interação. Todas as informações que obtemos é através dos diálogos, e como todos eles são feitos com as cenas citadas anteriormente, descobrir a localização das coisas se torna bastante cansativo. Ainda assim, algumas delas não são claras, então o vai e vem em cada fase se torna uma constante chata até conseguirmos o que precisamos.

A jogabilidade também alterna coisas boas e ruins. Começando pela parte positiva, a ação é bastante fluida e os comandos respondem bem. Arzette salta, ataca com sua espada e aprende habilidades com itens que encontra pelo caminho, como pulos duplos, escudos defletores e disparos mágicos. Ter todas estas skills abre várias possibilidades, como desbloquear novos caminhos e encontrar segredos.

Locais escuros podem ser iluminados com a lamparina, mas fique de olho pois seu fluído acaba rapidinho

Entretanto, uma falha bastante amadora deste jogo é a de ter que pausar a todo instante que queremos usar um item. Por exemplo: se entramos em uma caverna escura, precisamos acender um lampião; em caso de paredes com rachaduras, temos que usar bombas; barreiras verdes são destruídas com a flauta; barreiras cinzas precisam ser demolidas com a luva. Se entramos em um ambiente que contém todas estas situações, temos que entrar no menu todas as vezes que uma troca de item for necessária. E acreditem, elas acontecem com muita frequência.

Uma homenagem atípica

O fato de Arzette: The Jewel of Faramore buscar referências nos antigos jogos de Zelda do CD-i não deixa de ser algo criativo, mas que talvez foque em um público bastante nichado. No mais, o ritmo de jogo peca por fazer o jogador dar tantas voltas para atingir um objetivo, o que pode acabar ofuscando ótimos elementos, como jogabilidade, level design e trilha sonora.

Cópia de PS4 cedida pelos produtores

Revisão: Julio Pinheiro

Arzette: The Jewel of Faramore

7.5

Nota Final

7.5/10

Prós

  • Uma reprodução fiel dos jogos “feios” do CD-i
  • A narrativa não linear é um recurso bacana
  • Jogabilidade dinâmica e com diversos recursos
  • Ótima trilha sonora

Contras

  • Poucos recursos para ajudar o jogador a cumprir as missões
  • Ter cenas a todo momento torna o ritmo de jogo um pouco arrastado
  • Necessidade de acessar o menu sempre que precisamos trocar de item é desgastante