Distraint 2 capa

Review Distraint 2 (Switch) – Qual o preço da ganância?

Distraint é uma série de dois games de terror criada pelo finlandês Jesse Makkonen, um rapaz com quem já tive o prazer de conversar rapidamente há alguns anos via Twitter (por volta de 2018) quando conheci o primeiro Distraint em meu smartphone. Como um amante de títulos do gênero, agarrei a oportunidade de testar a qualidade da obra de Jesse quando percebi que, na descrição, Distraint se autodenominava “um jogo de terror 2D em pixel art”.

Atualmente é difícil um título com esta abordagem me aterrorizar de forma verdadeira, ou ao menos me impactar emocionalmente. Jogos como Silent Hill, da Konami, sempre foram os meus preferidos do gênero, já que costumo ficar completamente longe de produtos que fazem uso do jumpscare como fórmula padrão – Outlast e cia. Distraint conseguiu se destacar em vários sentidos, desde uma história envolvente com personagens carismáticos até a fórmula de adventure point ‘n click com exploração, puzzles e itens chave para avançar no enredo. Desde já, fica meus sinceros parabéns mais uma vez ao Jesse!

Desenvolvimento: Jesse Makkonen
Distribuição: Ratalaika Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Terror
Classificação indicativa: 16 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Android, iOS e Switch
Duração: 2.5 horas (campanha)

Retrospectiva do jogo

Price e o preço da ganância

Jogos de terror normalmente me cativam através do seu gameplay, sendo a história algo secundário que serve apenas para complementar a experiência para mim. Mas Distraint tem algo curioso em sua narrativa: ele consegue trazer aspectos comuns da vida de um ser humano padrão que deseja conquistar um certo nível de sucesso, ou seja, a maioria de nós.

Em Distraint 2 você controla mais uma vez Price, um jovem-adulto que tenta ganhar sua vida comprando a propriedade/casa/terreno de pessoas, emocional e financeiramente enfraquecidas, para a empresa onde trabalha, a McDade, Bruton & Moore.

O início de Distraint 2 aborda rapidamente os eventos do primeiro jogo, onde o Price quase vende sua humanidade para a companhia em troca de prestígio, dinheiro e uma posição renomada de sócio ao lado dos fundadores. Distraint 1 martela de forma impactante no psicólogo do jogador, fazendo de maneira simples e direta com que reflitamos sobre quais decisões temos tomado e que tipo de sacrifícios temos feito para ganhar sucesso e dinheiro.

Puzzles bacanas

No segundo jogo, fantasmas do passado de Price começam a assombrá-lo, trazendo à memórias cenas como quando faltou com misericórdia até mesmo de uma senhora idosa viúva que não tinha mais família.

Também temos uma luta interna do protagonista contra sua ganância, em forma de um personagem representando este sentimento, que tenta o convencer em todo o tempo de que ela o levou para um lugar de destaque na vida profissional. Enquanto isso, outros “fantasmas” surgem na história também como uma representação de outros bons sentimentos, como a esperança e a razão.

As expressões e as feições caricatas de todos os personagens são um show a parte que ajudam a elevar o clima de terror e o apego que o jogador acaba adquirindo em relação ao jogo. Em suma, Distraint é um jogo que leva à uma experiência de autoquestionamento.

A ganância

Pegue isso, use ali

Distraint 2 é uma melhoria natural de alguns elementos do primeiro jogo. Felizmente, recebemos o comando para correr, uma de minhas lutas no primeiro jogo já que o sentimento de lentidão no andar de Price me incomodava. Os visuais também foram levemente aprimorados, mesmo que pareçam usar assets diretamente de seu antecessor. O desenvolvedor soube trabalhar de forma extraordinária os sons ambientes, fazendo o uso de ruídos grotescos e locais de completa escuridão que atingem diretamente o psicológico do jogador – ainda mais se tiver medo do escuro.

As mecânicas continuam bem similares à Distraint 1, onde controlando o personagem é possível interagir com o ambiente, pegar itens examinando todos os cantos e usá-los para coisas específicas como abrir portas e usar e pegar objetos na lareira. Como não podia faltar em um bom jogo de terror, existem puzzles – inseridos de forma contextual à história – relativamente simples para quebrar o ritmo constante de exploração, o que considero a fórmula perfeita para não deixar o jogo cair na mesmice e cansar o jogador de tanto andar e explorar.

Já remetendo aos jogos adventure point ‘n click, também podemos conversar com NPCs para descobrir pistas e revelar os próximos objetivos, deixando de lado qualquer elemento de batalha existente em jogos de terror de sobrevivência.

Fantasmas do passado

Uma obra de altíssima qualidade

Distraint 2 é um jogo tão bom quanto seu antecessor, com uma duração suficiente para justificar a existência de um segundo jogo. A história e os personagens são realmente os pontos mais fortes de toda a série, fazendo com que os interessados busquem os dois títulos para ter a experiência completa.

Em um cenário de games de terror baseados em jumpscare e outros truques baratos de game design, Distraint consegue facilmente se destacar por trazer algo que mexe de forma real com seu psicológico, e te faz querer ser uma pessoa bem melhor após se identificar com o personagem principal em algum momento da vida. Por fim, o que você tem sacrificado em troca de sucesso e dinheiro?

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Samuel Leão

Distraint 2

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • História envolvente
  • Personagens carismáticos
  • Diálogos interessantes
  • Ambientação incrível
  • Puzzles divertidos

Contras

  • Sem fator replay
  • Sem save a qualquer momento