INDIKA não é um jogo qualquer. Criado pela Odd Meter e publicado pela 11 bit studios, o título apresenta uma história que explora uma temática religiosa numa versão alternativa da Rússia do final do século XIX, proporcionando uma experiência incrivelmente tragicômica com uma jogabilidade que merece bastante atenção.
Desenvolvimento: Odd Meter
Distribuição: 11 bit studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: 16 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 4 horas (campanha)/5 horas (100%)
Buscando uma redenção pessoal
A aventura é protagonizada por Indika, uma freira que enfrenta uma dinâmica social que não lhe agrada em um monastério da Igreja Ortodoxa Russa. Depois de receber a missão de entregar uma carta, a personagem principal decide embarcar em uma jornada de autodescobrimento fora do ambiente em que vive, explorando um país frio acompanhada por Ilya, um prisioneiro em fuga, e pela voz do próprio demônio em sua mente – que, claro, provoca alucinações em Indika.
É uma narrativa com uma proposta que foge totalmente do convencional, sendo muito “fora da caixinha” especialmente pela maneira como a história é apresentada. Boa parte das cutscenes são desorientadoras, e os flashbacks substituem os gráficos em 3D por cenas em pixel art, revelando o passado da protagonista de um jeito excêntrico, mas dinâmico e satisfatório.
Mais do que um walking simulator
Durando cerca de quatro horas, a aventura é linear e tem uma jogabilidade majoritariamente focada em progredir na campanha ao explorar cenários e resolver quebra-cabeças – alguns deles são, inclusive, surpreendentemente complexos. INDIKA é praticamente um simulador de caminhada, mas os desenvolvedores adicionaram outros elementos na fórmula para evitar que o game se torne maçante. Há, por exemplo, mecânicas de plataforma nos momentos em que o demônio assombra Indika. É necessário deixá-lo perturbá-la para passar por fases específicas enquanto se deve rezar para combatê-lo e retornar ao mundo real.
Também existe um sistema de pontos, ganhos ao completar deveres, coletar itens e engajar com os minigames que surgem ao longo da campanha. Entretanto, esses pontos não servem para nada, podendo ser usados apenas para subir de nível e acumular mais pontos, que continuam inúteis. Isso é explicado em uma das várias telas de carregamento do game, sendo somente uma forma de estender a duração da campanha e de incentivar a exploração completa dos mapas.
Essa é certamente uma crítica velada à futilidade desse tipo de mecânica e o pouco valor que ela agrega à campanha, mas, ao mesmo tempo, é uma brincadeira que se conecta com os motivos que levaram Indika a se sentir desconectada com a vida na Igreja. É uma maneira subversiva de provocar diversas reações nos jogadores e desafiar as expectativas típicas de um jogo moderno – algo que INDIKA faz com frequência e com sucesso.
Problemas técnicos existem, mas são justificáveis
Apesar de INDIKA brincar bastante com os conceitos de sua própria jogabilidade, é uma pena que os desenvolvedores não tenham experimentado mais com a câmera do jogo, mantendo uma perspectiva em terceira pessoa que não favorece tanto a insana aventura de Indika.
As cutscenes contam com um jogo de câmeras único que realça toda a complexidade da psique da protagonista, mas a gameplay em si sofre com um campo de visão excessivamente baixo. Embora essa tenha sido uma decisão intencional para criar uma experiência confusa, isso faz com que a jogatina fique visualmente enjoativa em vários pontos da campanha, além de limitar a visualização dos belíssimos cenários do game.
O único grande problema de INDIKA são as telas de carregamento, que prejudicam a compreensão da trama com interrupções repentinas nos diálogos e momentos de exploração. Há pequenas quedas na taxa de quadros na transição de cutscenes para a jogabilidade, e a versão de PC não oferece muitas opções técnicas para personalizar os gráficos e garantir um bom desempenho em hardwares modestos.
É importante ressaltar que o conteúdo do game e o contexto sócio-político-econômico atual da Rússia forçaram parte da equipe da Odd Meter a fugir do país em que vivem durante o desenvolvimento do jogo, então dá tranquilamente para perdoar essas falhas pontuais, pois elas não afetam tanto a experiência. INDIKA é um título imperdível, com ótimos visuais acompanhados de interpretações cativantes e uma trilha sonora sublime, que se enquadra perfeitamente com o ritmo alucinante da história.
Sensacional e peculiar
Acima de tudo, INDIKA é um dos lançamentos mais únicos dos últimos tempos, recomendado para todos que gostem de obras provocativas e que fujam do normal. Poucos jogos se propõem a ser uma experiência crítica e psicodélica em todos os sentidos, desafiando diversos conceitos por trás dos padrões esperados em um game com uma jogabilidade simples e acessível. Realizar isso com maestria, ainda mais nas condições extremamente complicadas enfrentadas pela equipe de desenvolvimento, é, sem dúvidas, algo digno de reconhecimento.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong