Judgment Capa

Review Judgment (Xbox Series S) – O inimigo agora é outro, mas ainda é o mesmo

A série Yakuza sempre foi uma franquia de jogos pela qual fui apaixonado. Digo isso por causa da história também, que conseguiu me cativar em vários aspectos – considerando que não sou um aficionado por história em games -, principalmente por causa da jogabilidade de mundo aberto, porém contido, e mecânicas de Beat ’em Up com encontros que fazem sentido na ambientação. 

Deixando agora um pouco o maravilhoso protagonista Kazuma Kiryu de lado, desta vez incorporamos Takayuki Yagami, um detetive particular – e ex-advogado – de Kamurocho que luta Kung Fu e bota para dormir qualquer um que cruzar seu caminho. Portanto, o que a outra visão da história reserva para os fãs neste spin-off da adorada franquia da SEGA?

Desenvolvimento: Ryu Ga Gotoku Studio
Distribuição: SEGA
Jogadores: 1-2 (local)
Gênero: Ação, Aventura, RPG
Classificação: 16 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, PC
Duração: 26 horas (campanha)/98 horas (100%)

Uma outra visão da saga

Encarne o detetive Yagami

Agora, agindo do outro lado da moeda, trabalhando em prol da justiça em Kamurocho, estamos no lado dos “mocinhos”, no ano de 2018. Por isso, é possível encontrar tecnologia por todo o canto, desde modernos smartphones até banners luminosos ao redor da cidade. O protagonista, motivado por sua curiosidade, resolve investigar um estranho evento de mortes consecutivas envolvendo membros da Yakuza da região Kansai, fazendo, assim, que Yagami parta em busca de respostas para resolver o caso.

Em termos de mundo, Judgment se parece muito com o último jogo da série principal de Yakuza, o sexto jogo da franquia e também encerramento da saga Kiryu. Os locais são extremamente conectados, e é possível entrar em qualquer estabelecimento sem ser obrigado a enfrentar telas de loading para simular a transição entre a cidade e o interior de lojas. Porém, mais do que isso: é possível até mesmo trazer lutas para dentro destes lugares, destruindo tudo à sua volta.

Já os delinquentes e mafiosos continuam tão ativos quanto sempre foram – ou até mais. É fácil arrumar briga em qualquer esquina de Kamurocho, e desta vez nem sempre estará constando no mapa quais são os possíveis confrontos: eles surgem de repente e você nem sempre consegue planejar um desvio. Normalmente, podemos distinguir os inimigos pelo estilo de roupa, que difere da maioria das pessoas, ou então facilmente identificar eventos que podem acontecer pelas ruas como uma gangue rodeando uma vítima, uma situação em que é possível intervir e iniciar uma briga.

Batalhas e atividades secundárias

Combate diferente, porém mais lento
Combate diferente, porém mais lento

Yagami, diferente de Kiryu, é um lutador de Kung Fu. Seus movimentos são mais ágeis e rítmicos, dando a impressão muitas vezes de que o protagonista está dançando ao derrubar inimigos – algo característico do estilo de luta chinês. Uma novidade agora é a possibilidade de usarmos paredes a nosso favor, pegando impulso para desferir um golpe. Porém, a execução não é tão boa, e várias vezes errei o alvo já que o movimento não parece ter uma mira automática ou qualquer auxílio.

No mais, apenas dois estilos estão disponíveis, ao contrário de alguns dos games passados, que possuem até 4. Eles são o Tiger Kung Fu e o Crane Kung Fu, um sendo mais focado em conflitos 1 contra 1, enquanto o outro é indicado para lidar com grupos de inimigos por ser mais veloz. Uma vez preenchido suficientemente a barra de aura, é possível pressionar RT para ativar algo que remete ao “modo fúria” da série Yakuza, permitindo invencibilidade por alguns segundos e um aumento exponencial de dano.

Upgrades

Como de costume, lutas concedem pontos de habilidades para serem distribuídos entre três grupos: atributos passivos, como quantidade de saúde e velocidade em luta; golpes novos e combos diversos; e o especial, que contém upgrades que influenciam levemente em alguns minigames e mecânicas principais (como perseguição e lockpicking).

Já as missões paralelas agora são incorporadas em uma espécie de amizade que o jogador cria com certos personagens, em sua maioria NPCs de restaurantes e lojas espalhadas por Kamurocho. Muitas vezes não faz o menor sentido ler algo como “como você almoça/janta sempre aqui, tenho uma tarefa para você”, sendo que é a primeira vez que estamos visitando um restaurante. De qualquer forma, essa mecânica já foi vista anteriormente em outros títulos da franquia principal, mas volta novamente com mais presença e com um propósito bem maior em termos de missões secundárias. 

Mapa mais útil do que o padrão na série
Mapa mais útil do que o padrão na série

No mapa também ficam ícones simbolizando pessoas com quem você fez amizade, para interações posteriores a fim de adquirir mais missões. O que difere de jogos passados é que não existe uma constante aparição de eventos alheios em seu caminho como antes – ao menos tive essa percepção.

Os minigames infelizmente se repetem em sua maioria, e trazem muito daquilo que já foi visto anteriormente em Yakuza: o jogo de luta Virtua Fighter, Outrun, Puyo Puyo, e o inédito Motor Raid – um game de corrida de motos futuristas, exclusivo para máquinas de arcade. Porém, existem outras atividades alheias aos fliperamas da SEGA em volta da cidade, e são locais onde podemos nos divertir em um baseball focado em Home Run, um jogo de tabuleiro de realidade virtual, máquinas de pinball, corridas de drone e outras formas de matar o tempo.

Como de costume na série, Judgement pode durar até mais de cem horas, caso você seja daqueles que desejam explorar tudo e aproveitar o máximo do conteúdo. A história principal pode ser terminada por volta de vinte horas, porém, é necessário apontar algumas inconveniências e elementos arrastados durante esse trajeto.

Boas novidades, e algumas pisadas de bola

Quick Time events
Quick Time events… de novo

Como desta vez estamos agindo do lado justiceiro da coisa, mecânicas temáticas de investigação estão presentes, até mesmo algumas bem maçantes e desesperadoras. De forma positiva, para abrir certas fechaduras, podemos usar o lockpicking, uma técnica que utiliza ferramentas para abrir uma porta sem utilizar a chave, e isso acontece através de um minigame que exige o uso da sensibilidade do analógico e precisão para acertar a ordem certa das peças internas da tranca.

Também são divertidas as mecânicas de coletar e apresentar pistas em uma interação com algum NPC ao resolver algum caso. Caso você escolha a pista correta de primeira, mais pontos de habilidades são recebidas para realizar melhorias de combate e atributos de Yagami. A mesma coisa vale para conversas que possuem uma ordem indicada de opções de diálogo a serem escolhidas, e a recompensa também são os mesmos pontos de habilidades. Fora isso, também há jogabilidade com um drone para localizarmos pessoas e objetos, além de uma outra em que nos coloca em uma visão de primeira pessoas para investigar com pontos do cenário – o que lembra jogos de aventura, ao interagirmos com pontos chave do ambiente – ou fotos usadas como objetos de prova que precisam ser analisadas.

Missões de furtividade são muito maçantes
Missões de furtividade são muito maçantes

De longe, os momentos mais chatos são os de perseguição em furtividade e outros em que corremos atrás da pessoa. Ambos se repetem excessivamente durante a história. No primeiro, precisamos manter a discrição ao seguir nossos suspeitos, escondendo-nos constantemente atrás de objetos como carros e pilastras, ou simplesmente entrando no meio de um grupo de pessoas enquanto fingimos estar usando o celular. Tudo isso é feito sem muita aproximação, e toda vez que o perseguido percebe sua presença, é necessário se afastar e esconder. O problema maior é que isso pode durar vários minutos.

Já a perseguição em modo corrida é basicamente um infinite runner com vários quick time events para desviar de obstáculos e pessoas na calçada, isso até chegar próximo ao suspeito e pular em sua direção. Sim, estamos em 2021 e ainda existem games que utilizam esse terrível recurso predominante na era PS2 que ninguém mais aguenta. E prepare-se que eles estão presentes em vários momentos de lutas, também. Não obstante, ainda precisamos escolher a chave certa no molho de chaves para abrir certas portas, o que parece ter sido colocado apenas para criar novas mecânicas e irritar jogadores.

Uma introdução “ok” à série Yakuza

Judgment não consegue competir de forma alguma com o carisma e muito menos com a história dos games principais da série Yakuza. A parte divertida é que temos uma visão diferente do já explorado, deixando de lado toda a vivência e background dos protagonistas envolvendo a máfia japonesa. Fora isso, também é uma boa forma de conhecer a franquia, já que é completamente possível iniciar a jornada por esse jogo sem precisar ter experiência qualquer com a história de Kiryu. O lado ruim disso tudo é que, caso esse seja o primeiro título de novatos na série Yakuza, é possível se decepcionar.

Yagami é um personagem interessante e apresenta boa personalidade, mas a história não consegue ser envolvente o suficiente para engajar o jogador. Talvez isso se deva ao fato de ser apenas um game isolado, em vez de ter o apoio de anos de construção de mundo e personagem. Por outro lado, os gráficos são os melhores já vistos em anos de Yakuza principalmente por conta do upgrade para a nova geração, trazendo rostos e movimentos bem mais convincentes, 60 fps, iluminação e texturas totalmente revitalizadas.

O excesso de momentos ruins, infelizmente, estraga bastante o ritmo da jogabilidade de forma geral, sem falar que as mecânicas de investigação não são nada profundas. Estas últimas basicamente podem ser resumidas em acertar a ordem correta das opções de diálogo, o que acaba sendo em raso. Por fim, atividades secundárias continuam sendo um charme à parte, apesar de agora não serem tão trabalhadas ou interessantes como de costume. Judgment é mediano, e nem de longe consegue ser cativante o suficiente para bater de frente com algum Yakuza do 0 ao 6.

Cópia de Xbox Series X/S cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Judgment

6

Nota final

6.0/10

Prós

  • Outra visão da história
  • Mecânicas de investigação de cenário
  • Lockpicking divertido
  • Estilos de luta inéditos

Contras

  • Momentos maçantes em excesso
  • Opções de diálogos rasas
  • Jogabilidade mais repetitiva do que o normal
  • Missões secundárias sem qualquer carisma
  • Quick-time constantes events irritantes