Capa do jogo Neon Abyss

Review Neon Abyss (Switch) – O inferno nunca foi tão brilhante

Existem situações em que conseguimos enxergar todo o potencial que um jogo pode ter, mas, ainda assim, não lhe damos a devida confiança até o momento que temos o controle em mãos. Foi isso que aconteceu quando fui convidado a analisar Neon Abyss, o último lançamento da Team17. Quando assisti o trailer, até imaginei que poderia ser uma experiência divertida, mas foi só quando comecei a explorar as câmaras do abismo que me dei conta do quanto o inferno pode ser – ironicamente – radiante.

Desenvolvimento: Veewo Games

Distribuição: Team17 Digital Ltd, Yooreka Studio

Jogadores: 1  (local)

Gênero: Ação, Aventura, RPG

Classificação indicativa: 12 anos

Português: Não

Plataformas: Switch, PC, PS4 e Xbox One

Duração: Sem registros

E que tal um drink?

Ao apertar start, a tela preta é substituída por uma cena peculiar: dois homens sentados em um luxuoso sofá e, diante deles, os copos de bebida estão repousadas sobre uma mesa. Um deles se apresenta como Hades e conta que o Grupo Titã não apenas roubou parte dos poderes dele, como também destruiu a família daquele que o está escutando: Wade, o (ou um dos) protagonista (s).

Sem muita conversa, o suposto deus do Inferno nos faz uma proposta: enfrentar esses cinco seres poderosos para que alcancemos a nossa tão desejada vingança. Em um momento que imediatamente me recordou Matrix, somos convidados a tomar uma bebida azul que nos faz mergulhar em direção ao abismo.

É dessa maneira que Neon Abyss começa: deixando nítido desde o princípio que não é seu intuito desenvolver o enredo muito além do necessário e mostrando que o seu foco está no percurso e nos desafios que encontraremos para eliminar cada membro da nossa lista de alvos. 

Embora isso costume ser uma decepção para jogadores com foco na narrativa – como este que vos fala – o jogo não se vende como uma jornada épica contemplativa, com reflexões sobre vingança e repleta de significados. Não, ele se assume como um jogo de ação Bullet Hell, então é fácil abraçar o que nos é apresentado nos primeiros minutos e compreender essa perspectiva. 

Wade conhece Hades na introdução de Neon Abyss

A morte é a única forma de escapar

Como dito anteriormente, é na jogabilidade que a equipe de desenvolvimento decidiu focar. Ao maior estilo Roguelike (um subgênero do RPG que toma como princípio a geração aleatória de câmaras), a dinâmica de Neon Abyss consiste, inicialmente, em explorar cinco níveis do inferno, atravessando um labirinto de salas e enfrentando inimigos aleatórios até chegarmos ao grande chefe final. 

A premissa pode parecer bastante simplória, mas é muito mais desafiadora do que se pode imaginar. A verdade é que, a cada sala, pomos à prova a nossa habilidade. Como as câmaras são sempre diferentes entre si, não conseguimos prever quantos e quais inimigos estarão lá ou mesmo como as plataformas, caixas e barris estarão dispostos. Assim, precisamos agir rápido e analisar a melhor maneira de enfrentar diversas criaturas abissais simultaneamente, fazendo o possível para preservar os recursos que serão fundamentais para enfrentar os chefes do andar com mais facilidade.

É claro que, ao longo dessa aventura, é possível evoluir utilizando uma diversificada árvore de melhorias, itens encontrados em santuários ou baús; upgrades das lojas e até mesmo contar com o auxílio de pets que saem dos ovos encontrados pela trilha. Assim, tanto quanto os inimigos e salas, nosso personagem sempre se comporta de maneira diferente a cada descida ao abismo e isso definitivamente contribui para tornar o jogo fresh – mesmo que ele se torne repetitivo depois que você o tente pela quinta, décima ou centésima vez. A surpresa é, no fim das contas, um inimigo, mas também um aliado cativante. 

Sei que você ainda deve estar achando que a experiência é muito fácil, mas posso garantir que está enganado. O jogo é te provoca constantemente, porque mesmo os monstros passam por transformações: eles podem ter quase a mesma aparência, mas suas habilidades se modificam, forçando você a reavaliar a forma de enfrentá-los. E pensa que se morrer vai poder contar com checkpoints para continuar de onde parou? Não! Aqui você só tem uma chance e, se falhar, vai ter que voltar ao começo.

Exploração da sala conta com monstros para dificultar a jornada

As luzes e os sons da balada

Outro ponto fortíssimo de Neon Abyss é a sua estética. O jogo é visualmente estruturado através de uma pixel art caprichosa. Após a primeira falha ao descer o abismo, acordamos no bar que introduz de maneira mais evidente os estilos estéticos que o jogo soma para criar seu visual único: techno, eletronic, disco e punk – com elementos de arquitetura helênica aqui e acolá. 

O impacto desse somatório nos cenários é perceptível e certamente funciona, mesmo quando estão inseridos nos santuários – que, particularmente, se tornaram minhas salas favoritas. O detalhamento e a animação são tão bem executados que nem por um segundo desejamos que o jogo possua gráficos ultrarrealistas. A magia dele, aos olhos, está exatamente no que ele é. 

A equipe de arte não teve medo de apostar na vivacidade das cores e na variedade das formas, criando um design bastante singular para os monstros – especialmente para os deuses que enfrentamos ao final de cada andar. Assim, a roupagem das criaturas é tão inesperada quanto a composição das salas. Obviamente, como o nome do jogo indica, vemos também muito neon e jogos de luzes em nossa caminhada, mas nada que seja tão cansativo ao olhar.

Tudo isso é embalado por um trilha sonora com foco no eletrônico, o tipo de música que nos remete ao bar para o qual sempre retornamos. Devo dizer que não achei as músicas muito variadas, mas as que existem certamente cumprem o papel de imersão do jogador, porque trazem para nós um reforço subconsciente da necessidade de executar movimentos frenéticos. Acho que poderia haver mais faixas e que estas alternariam entre as sala, mas nesse sentido, Neon Abyss está longe de receber uma crítica muito negativa.

A estética chama atenção desde os primeiros momentos

Onde eu aperto mesmo? Poxa, travou!

Uma das grandes dificuldades que encontrei ao iniciar a jogatina foi me acostumar ao mapeamento de botões. Logo de cara, eu entendi porque estavam distribuídos daquela maneira e os aceitei como parte da experiência, mas nem por isso se tornou mais fácil realizar ações simultâneas básicas como pulo, disparo e rolamento. 

Assim, bem no começo, você tem a sensação de que está perdendo e sendo obrigado a recomeçar por falhas estúpidas. Felizmente, o processo de se acostumar acontece relativamente rápido – a depender do jogador -, mas se nem assim você está dando conta de atravessar as salas, o jogo oferece a possibilidade de ajustar os atalhos.

Tendo superado este desafio, logo encontramos o próximo e creio que este seja exclusivo da versão para o Switch: travamentos. Embora não aconteçam com tanta frequência assim, eles se fazem presentes especialmente quando os chefes lançam poderes ou sofrem transformação. Ainda que não durem por muito tempo, eles podem ser incômodos e te prejudicar em uma gameplay na qual, por exemplo, você está à apenas meio coração de bater as botas. 

Combate contra um dos chefes de andar - ou deses

Um dança envolvente… Para quem?

Neon Abyss tem qualidade, isso é fato, e não fica para trás em relação a outros roguelikes como Enter/Exit the Gungeon, Hades e Dead Cells. O jogo se destaca por sua jogabilidade e gráficos estupendos, além de outras questões que optei por não desenvolver tão a fundo, como os chefes, personagens liberáveis e árvore de melhorias. Para quem deseja jogar de maneira descompromissada, sem interesse em grandes tramas e não se importa com a repetição constante, esta é uma excelente escolha. 

Para esses usuários, a sensação de que é um jogo envolvente apenas cresce conforme vamos aprendendo a sobreviver ao inferno: não há recompensa maior do que detonar em um jogo que te testa o tempo todo. Contudo, o desafio da dificuldade nem sempre encanta as pessoas. A ideia de recomeçar todas as vezes que a vida zera pode ser desestimulante e acabar gerando uma experiência frustrante, levando ao abandono. Dessa forma, é fundamental que as pessoas se questionem se esse é mesmo o tipo de jogo com o qual elas vão se identificar.

Esta review foi feita utilizando uma cópia de Nintendo Switch

Revisão: Samuel Leão

Neon Abyss

8.5

Nota final

8.5/10

Prós

  • Estética única e caprichada
  • Trilha sonora imersiva
  • Experiência desafiadora e surpreendente
  • Enredo simples, mas honesto

Contras

  • Mapeamento de teclas dificultoso
  • Travamentos
  • Potencialmente frustrante