Logo de cara, ao ver Omen of Sorrow, instintivamente me lembrei dos jogos de luta dos anos 90 e, principalmente, de Darkstalkers, por conta de sua temática gótica com monstros clássicos do gênero terror.
E isso não é uma mera coincidência, pois os desenvolvedores propositalmente queriam que ele se parecesse com games dos arcades. Mas será que a fórmula, que consagrou tantos jogos antigamente, ainda funciona hoje?
Desenvolvimento: AOne Games
Distribuição: EastAsiaSoft
Jogadores: 1-2 (local e online)
Gênero: Luta
Classificação: 14 anos
Português: Legendas e Interface
Plataformas: PC, PS4, Xbox One
Duração: 3 horas
Os clássicos do horror!

Vamos iniciar pela gama pequena mas interessante de personagens. São apenas 12 figuras jogáveis, que possuem características bem distintas como um bom jogo de luta deve ser.
Confesso que Gabriel, apesar de ser inspirado em Castlevania, me fez pensar na hora no filme do Van Helsing, aquele com Hugh Jackman. O nome de seu personagem no longa também é o mesmo e sua aparência o lembra muito. Mas é uma pena o de Omen of Sorrow usar seus punhos como arma e não aquelas serras giratórias super estilosas que haviam no filme!

Temos também Vladslav III, clara inspiração em Vlad, o Empalador, a lenda que deu origem ao vampiro que inspirou os inúmeros contos do Conde Drácula, incluindo o do filme de Bram Stoker.
E, se existe um vampiro, não poderia faltar a presença de um lobisomem, representado por Caleb. Para aqueles que viram os filmes antigos de A Múmia, com certeza vão lembrar de Imhotep e seus poderes de controlar as areias. Ele é um dos personagens mais “diferentões” do título. Outro clássico que não poderia faltar é o Frankenstein, com o personagem Adam. Quem não conhece a história do cientista Victor Frankenstein que trouxe à vida uma criatura monstruosa por meio de retalhos de cadáveres? Ainda sim, não menos importante, há o Dr. Hyde, da famosa história O Médico e o Monstro, que também apareceu nas mídias em filmes como Van Helsing e A Liga Extraordinária. Talvez uma figura possivelmente inusitada aqui seja o Quasimodo, principalmente se você só o conhecer da animação da Disney, O Corcunda de Notre Dame.

Os demais personagens incluem uma Seraphin, Zafkiel, provavelmente inspirada nos arcanjos; Radegonda, que é uma espécie de Succubus e/ou Gárgula – mas confesso não saber ao que ela referencia; Arctorious, que no início achei ser um Dullahan, criatura dos mitos irlandeses que inspirou A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (porém, ao ler sua breve introdução no jogo fica claro que não se trata deste mito); Erzsébet, referência mais que clara à Condessa de Sangue, uma figura histórica conhecida por ser a maior serial killer existente – segundo relatos, ela torturou e matou mais de 600 vítimas devido à sua obsessão por beleza, pois se banhava no sangue das jovens mulheres que eram suas vítimas; e, por último, Thalessa que também não encontrei sua possível referência.
O triste mesmo é existir tão poucos personagens, considerando as possibilidades modernas, e acredito que poderiam trazer mais alguns ícones do horror. Felizmente, uma coisa boa que vale o destaque é o fator nostálgico de ser possível desbloquear o “chefão” final após a última luta.
Poucos botões e muitas barras!

As mecânicas de luta de Omem of Sorrow contam apenas com 6 botões utilizáveis. Dois botões são para soco forte e fraco, dois para chute forte e fraco, um para agarrão e outro para usar o EX. Esse último ataque serve para aumentar o dano de um dos golpes especiais, e geralmente há um golpe específico que funciona com ele.
Apesar de poucos botões mapeados, sem nem mesmo utilizar todos os existentes no controle, o jogo não deixa a desejar, pois a jogabilidade única de cada personagem faz com que você se adapte ao estilo de cada um, sendo sempre diferente a experiência de se jogar com eles. A verdade é que a sequência dos golpes em si não muda muito, geralmente sendo “meia lua” para algum lado ou, no caso dos super especiais, duas “meia luas” mais soco ou chute. Digamos que isso seja o padrão por aqui, mas o modo de como jogar e como cada poder especial funciona difere bastante de personagem para personagem.
Gabriel, por exemplo, é um dos mais fáceis e adaptáveis de se controlar, pois ele lança projéteis e tem ataques de longa e média distância. Basicamente, todos os personagens possuem uma utilização igual de seu golpe especial, como o “meia lua e para trás”. Por outro lado, personagens como Artorious são extremamente técnicos de se dominar, pois seus golpes são baseados em posições de ataque, e cada uma delas proporciona golpes e posturas diferentes na luta. Outros como Radegonda usam ataques apenas aéreos, e tentar lutar com ela em solo é suicidio. Imhotep, por sua vez, possui a habilidade de esticar seu corpo de areia, deslocando seu tronco enquanto as pernas se mantêm imóveis. Graças a isso, ele evita com que danos o atinjam na parte superior, mas em contrapartida a parte inferior pode ficar totalmente vulnerável.

A verdade é que, como na maioria dos jogos de luta, Omen of Sorrow também pode ser jogado “amassando” todos os botões, mas você não terá controle algum do que estará fazendo e menos ainda será um adversário à altura. O segredo está justamente em dominar o que parece básico, mas, acredite, na hora de encaixar os golpes e formar combos, o game pode ser mais desafiador do que pensa.
Apesar de toda essa simplicidade, a dinâmica das lutas é bem fluida, e não é difícil de se acostumar e aprender os golpes e até mesmo os jogadores mais casuais, como eu mesmo podem tirar proveito sem muitos problemas.
Vamos falar agora das tão famosas barras que existem na maioria dos jogos de luta e nos proporcionam mecânicas interessantes. Para os super especiais, existe uma barra dividida em duas partes. Há dois tipos desses golpes: o mais fraco que gasta apenas metade do seu medidor, executando um movimento poderoso, mas sem “parar” a luta, e um segundo ainda mais forte que consome toda a barra e conta com uma ceninha especial. Esse mesmo medidor compartilha do movimento EX, que gasta também uma metade para ser executado. Como dito antes, este movimento serve para aumentar o dano de certos golpes. Ele segue um princípio bem parecido com o dos Mortal Kombat mais recentes, adicionando um movimento mais forte ao comando executado.

Agora, o ponto alto e mais estranho, foi o que me fez demorar a entender como funcionava essa outra barra: lateralmente, a dos especiais apresenta um medidor de destino (roxo) e sorte (azul). Basicamente, Omen of Sorrow recompensa o jogador agressivo, pois, quanto mais você bate, mais sorte ganha, mas, em contrapartida, quanto mais defender, mais o medidor do destino subirá.
Quando o destino atinge seu máximo, seu personagem ficará amaldiçoado e não poderá usar seus golpes especiais e super especiais durante alguns segundos. E estes são os segundos mais desesperadores que se possa imaginar, pois Omen of Sorrow não foi feito para realizar combos sem o auxílio das “magias”. Tentar qualquer sequência apenas com socos e chutes é, muita das vezes, frustrante.
E por fim, a mecânica que mais gostei: é possível recuperar vida ao conseguir contra-atacar ou então ao emendar alguma sequência de golpes no oponente. A barra de vida vermelha é seguida por uma sombra cinza que mostra a quantidade possível de recuperação. Ela, porém, vai diminuindo junto com sua vida conforme você leva mais dano. Mas não pensem que é apenas um pouquinho de vida, mas o estrago é grande e de efeito quase imediato! Isso torna as partidas muito mais equilibradas e interessantes, e em alguns momentos até desesperador – mas, de fato, muito emocionante. Perdi a conta de quantas partidas achei que estava perdida e, então, com uma reviravolta, fui conseguindo restaurar minha vida até finalmente vencer. Vale ressaltar que o contrário também é válido, pois tive lutas em que eu estava na vantagem e perdi vergonhosamente graças a este recurso.
O terror do horror

Infelizmente, nem só de coisas boas se vive Omen of Sorrow e, o principal, e mais estranho ponto negativo que notei, é justamente a falta de um modo história. Sabe o pior? O jogo chegou primeiro ao PS4 em 2018, e para este console da concorrente o modo história existe. Já as versões de PC e Xbox One vieram com a falta do conteúdo. Infelizmente não achei nenhuma explicação da desenvolvedora para isso.
Em certos momentos, também, a trilha sonora do jogo simplesmente desaparece, deixando apenas os efeitos sonoros nas lutas. Isso aconteceu mais de uma vez enquanto jogava em diferentes estágios do modo Arcade. É muito estranho, pois às vezes um dos rounds está normal e, no seguinte, já sumiu a música.
Mais um ponto negativo é a IA, pois ela é bem “porquinha”, sendo até pior do que muitos iniciantes que encontramos por aí, inclusive. Ficar esmagando os mesmo golpes a partida inteirinha não faz o adversário trocar seus movimentos, o que chega a ser irritante. Felizmente, ela também não sabe se defender se revidarmos da mesma forma. É bem fácil derrotar a CPU com algum personagem que tem poderes à longa distância, principalmente se ficarmos em um canto da tela e o oponente no outro. Ou seja, é bem desproporcional e desequilibrada a inteligência artificial.

Antigamente, na falta de um Story Mode, havia apenas o Arcade Mode, algo básico para qualquer jogo de luta que contava um pouquinho do personagem escolhido. O problema de Omen of Sorrow é que ele te deixa com uma introdução textual do personagem, mas nãoa sua conclusão nesse modo. Depois de 10 longas partidas, não houve nem sequer uma menção ao personagem em questão, mas só existe uma tela dizendo que terminou e fim de jogo. Uma palavra define: frustrante!
Omen of Sorrow conta ainda com um modo Versus, para enfrentar um amigo localmente, além doSurvival, nada mais é que sobreviver a maior quantidade de lutas possível sem morrer. Há ainda um Practice, para que o jogador possa praticar seus movimentos. Infelizmente, esse último não conta com um tutorial básico para introduzir as mecânicas e combos, sendo apenas um treino livre.
Fora isso, existe o modo online, para enfrentar jogadores do mundo todo, que se faz praticamente impossível encontrar qualquer alma viva. Felizmente, no Xbox, existe o recurso de Clubes, em que podemos criar posts convocando jogadores para ingressarem em nossa partida. Fora isso, é melhor combinar com algum amigo que tenha também o jogo.

Em questão gráfica, a entrega é bem satisfatória, principalmente se levarmos em conta que ele não é um cel shading da vida. Utilizando a Unreal Engine 4, a Onegames soube trabalhar bem. Claro que existem outros jogos feitos com o mesmo motor gráfico que são extremamente superiores, mas, considerando que é de uma desenvolvedora indie e eles não contam com o apoio financeiro e recursos que uma AAA tem, diria que se saíram bem. Os modelos 3D são bem legais e até detalhados, e fica o destaque para a intro dos personagens na hora de suas batalhas: ficou sensacional! Não só isso, mas a movimentação e os efeitos dos golpes também são bacanas. Talvez, a única coisa que deixa um pouco a desejar, sejam os cenários. Eles ficam meio apagadinhos se comparado aos personagens. Mesmo que não sejam ambientes estáticos, ainda falta um brilho a mais.
Tirando os momentos da falta da trilha sonora, para complementar o tema gótico, temos um bom Heavy Metal. Quando presente nos estágios, a música tem uma batida pesada e empolgante – menção especial à música dos créditos, inclusive.
Um final horrorosamente feliz
Com uma ótima mistura de clássicos do gênero, como a mecânica das barras e os movimentos especiais, Omen of Sorrow traz também um gostinho da modernidade com seus modelos 3D e cenas mais detalhadas para a introdução de seus personagens. Ele é divertido e muito interessante para o cenário de jogos de luta. Fora isso, o indie apresenta um bom equilíbrio entre os personagens equipados com suas peripécias únicas, apesar dos poucos botões e combinações existentes.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Omen of Sorrow
Prós
- Temática gótica e com monstros clássicos do horror
- Trilha Sonora pesada
- Comandos fáceis
- Desbloqueio de personagens
- Gráfico bacana
Contras
- IA mal balanceada
- Falta de um tutorial detalhada no Practice
- Pouco personagens
- Falta do modo história, existente em outras plataformas
- A trilha sonora desaparece do nada