Onirike Capa

Review Onirike (Switch) – A constante luta contra o tempo

Onirike é um jogo 3D de plataforma com elementos de puzzle, que procura resgatar muito daquilo que sentimos ao jogar clássicos da era PS1 como Medieval, Crash, Spyro e afins – em certos aspectos. Ambientado em um mundo bastante bizarro e esquisito, controlamos Pietro, uma espécie de palhacinho de uma espécie desconhecida, que precisa cumprir sua missão pessoal de descobrir mais sobre a si mesmo.

Desenvolvimento: Devilish Games
Distribuição: Badland Publishing
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Aventura, Puzzle
Classificação: 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Switch, Xbox One
Duração: 6.5 horas (campanha)

A procura por mais de si

Pietro

Nosso protagonista passa a ter esse objetivo do autoconhecimento após ser encorajado pelo palhaço de quatro braços sua mesma espécie, que vive no circo onde Pietro também mora. Com uma repulsa sentida só de imaginar ter o mesmo destino deste seu semelhante, o rapaz decide ir atrás de mais respostas, já que não tem nada a perder. Sabe como é: é melhor se arriscar e viver uma grande aventura do que viver a vida toda estagnado sem grandes motivações.

A aventura em Onirike é narrada o tempo todo por uma voz feminina com sotaque britânico, o que dá um baita charme ao jogo. Diria que esse é o maior motivo pelo qual tive minha atenção na maioria do tempo no enredo, caso contrário nem teria dado tanta importância assim. A narradora cumpre muito bem seu papel, interpretando maravilhosamente tanto a si mesma quanto outros NPCs que Pietro encontra em seu caminho, alterando sua voz constantemente como num teatro de fantoches.

Existem cenários aqui completamente surreais e bem estranhos, quase que saídos diretamente do filme The Night Before Christmas, de Tim Burton (ou O Estranho Mundo de Jack, em português), que trazem elementos bizarros como comidas podres, espalhadas em um ambiente que lembra bastante uma floresta. Sondando o local, também existem alguns inimigos que, ao encostarem em Pietro, o atacam resultando em sua morte instantânea. Porém, estes inimigos são visivelmente perigosos para o personagem, e isso é perceptível facilmente através de suas aparências.

Pietro no cenário de comidas podres

O tempo todo estamos correndo contra o tempo aqui, e Pietro precisa lutar contra isso para não desaparecer e perder sua memória e acabar no esquecimento. Existe um relógio no canto da tela que mostra o horário do dia em que estamos, e é necessário sempre ficar de olho nele para que a noite não chegue antes de conseguirmos pisar em uma Pedra de Memória, que são círculos grandes no chão que parecem quase como um portal de teleporte. Uma vez feito isso, o personagem passa a voar em um campo florido, para coletar sementes que podem ser plantadas, dando origem a uma planta que faz com que Pietro fique visível.

Falando nisso, o protagonista também tem o poder de ficar invisível voluntariamente, mas é perigoso continuar muito tempo nesse estado, pois pode resultar em um desaparecimento completo. Com isso, voltamos ao último checkpoint, então se faz necessário prestar atenção no símbolo da HUD representado por um olho, indicando o quão visível Pietro ainda está.

Jogabilidade um tanto quanto bagunçada

Jogabilidade ruim

Apesar de muita qualidade em narrativa e em seu universo bizarramente interessante, diria que Onirike falha bastante no quesito jogabilidade de plataforma. Mais à frente, liberamos uma habilidade de deslizar rapidamente pelas superfícies quase como se estivesse esquiando. Entretanto, o uso desse poder acaba resultando em invisibilidade, acelerando rapidamente o desaparecimento de Pietro. Por isso, existe uma luta constante contra o tempo, tanto naturalmente por conta do horário do relógio quanto por causa de suas habilidades.

Tudo isso passa a impressão de que Onirike é um constante speedrun, ou uma briga contra o tempo. Mesmo com bastante puzzles divertidos e criativos, que exigem com que levemos itens de um lado para o outro, conversemos com NPCs e tragamos resolução relativamente criativas e afins, a parte de plataforma deixa bastante a desejar com seus pulos desajeitados e controles imprecisos.

Invisibilidade

As habilidades também não parecem favorecer vários desafios de pular de uma plataforma para outra enquanto inimigos letais te perseguem. Com isso, ficamos obrigados a usar o dash de Pietro para escapar das ameaças, porém, basta fazer isso e você facilmente cairá de um alto penhasco, precisando fazer todo o caminho novamente. Então, o planejamento não parece ter sido muito bem feito por aqui, principalmente no posicionamento dos monstros que podem te ferir.

Para minha surpresa, a versão de Switch não foi nem de longe uma boa ideia. Os controles possuem um constante input delay, ou seja, atraso nas respostas dos controles. E isso se agrava quando ficamos invisíveis, porque é acrescentado um filtro sobre a tela e alguns efeitos mais pesados para o console processar. Com isso, jogar na TV em maior resolução se torna uma experiência terrível, e já faz um tempo que o jogo não recebe pacotes de atualização. No modo portátil do console da Nintendo, a resposta dos comandos fica melhor, mas, mesmo assim, é apenas “menos ruim”.

Uma tentativa falha de resgatar o sentimento da era deste gênero

Onirike é um produto de videogame que traz uma direção de arte incrível e claramente inspirada em bizarrices do mundo de Tim Burton, além de que sua narrativa é extremamente cativante por conta da narradora com sotaque britânico que fez um excelente trabalho. Porém, a jogabilidade, elemento principal para mim em um jogo, acaba ficando bastante ferida.

Fora os controles totalmente imprecisos e prejudicados por um atraso enorme nas respostas, muitos momentos em que precisamos pular de um lugar para o outro tornam-se um pesadelo por causa do mal planejamento das habilidades em conjunto com os desafios, além de inimigos posicionados de uma maneira bastante frustrante. Por fim, o game passa uma sensação de constante corrida contra o tempo por causa de seu game design central que possui um contador que pode te eliminar, o que torna tudo muito apressado, tirando um pouco o aspecto diversão, dando lugar a um speedrun involuntário por parte do jogador.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Onirike

5.5

Nota final

5.5/10

Prós

  • Direção de arte
  • Personagem interessante
  • Narrativa espetacular

Contras

  • Atraso nos comandos
  • Game design mal planejado
  • Speedrun involuntário
  • Na TV, é quase injogável