Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III é o terceiro jogo da série Legend of Heroes: Trails of Cold Steel, um JRPG que teve seus títulos anteriores no abandonado console portátil da Sony, o PS Vita. Como o nome deixa claro, Trails of Cold Steel III possui uma ligação direta com os outros dois antecessores, e já era de se esperar melhorias de forma geral.
O resultado é um jogo bastante lindo e com uma direção de arte belíssima, porém traz bastante do que já havia sido apresentado nos games do Vita, faltando com personalidade e uma boa apresentação aos que não jogaram ambos os jogos na plataforma Sony. Levando em consideração que não tive acesso aos jogos anteriores, e menos ainda agora por estarem presos em outras plataformas, é possível se divertir com a terceira parte de uma série que vem há anos acontecendo?
Desenvolvimento: Falcom
Distribuição: NIS America
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Ação, Aventura
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4 e Switch
Duração: 62 horas (campanha)/ 129 horas (100%)
A terceira parte de uma saga
Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III tem um início já bastante conturbado e apresenta eventos enquanto possibilita o jogador de controlar alunos classe VII. Após o prólogo e a apresentação de alguns comandos ensinando o básico do gameplay, você inicia a história no controle de Rean, o mais novo instrutor dos alunos classe VII da academia e personagem chave dos jogos anteriores da série Trails of Cold Steel. O game procura inserir o jogador nas mecânicas através das aulas em que o protagonista da para seus alunos, numa espécie de local de treinamento dentro do ambiente do prédio desta academia.
O ponto alto de Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III certamente é por causa de suas batalhas diferenciadas, onde às vezes é necessário se posicionar em relação aos inimigos o suficiente para desferir golpes certeiros dependendo do alcance de sua arma. O campo funciona de uma forma mais livre, apesar de ser um jogo de RPG por turnos, sendo possível andar pelo ambiente dentro de uma batalha usando o turno do respectivo personagem de sua equipe. Além de ataques normais, há a opção de skills que usam CP e Arts elementais que usam EP. Este segundo é usado no famoso estilo papel, tesoura e pedra com vantagens sobre oponentes, fazendo uso das fraquezas resultando em mais dano caso recebam um hit do elemento em questão.
Em contrapartida dois turnos são necessários para executar este ataque mais poderoso e elemental. Em certas ocasiões, os personagens previamente interligados pelo jogador são habilitados a realizar linked attacks se estiverem perto o suficiente do seu parceiro conectado após um ataque – possível de alterar via menu -, que nada mais são do que golpes em sequência usando o mesmo turno, mas que podem vir bem a calhar e resolver batalhas complicadas.
A estratégia fica bastante sob responsabilidade do alcance de cada golpe, habilidade ou Art, cujo diâmetro aparece na hora em que você seleciona seu alvo e permite acertar dois ou mais inimigos de uma só vez – dependendo, mais uma vez, do alcance da habilidade ou elemento. Também há os ataques direcionais que, em vez de um círculo de ataque, possuem um formato retilíneo e largo, obrigando o jogador a calcular quem será acertado.
Durante os momentos de exploração existem cenários longos e criaturas que ficam aparentes caminhando pelo cenário, as quais podem ser acertadas pelo jogador e iniciar a batalha com desvantagem por terem sido atingidos – onde personagens da sua equipe ganham alguns turnos extras por causa da ação, exigindo uma interação antes da luta por parte de quem está jogando.
Caso o inimigo venha em direção à você, a vantagem e primeiro turno será dele. Se por algum motivo o resultado da batalha for uma derrota, é permitido reiniciar a mesma ou diminuir a dificuldade e tentar novamente – o que não vi surtir tanto efeito, sinceramente. Aliás, as batalhas com chefes foram incrivelmente divertidas, e muitas me fizeram voltar ao meu último save para entender o que eu estava fazendo de errado que me impediu de vencer e avançar.
Além do óbvio, também existem alguns baús por aí que podem ser abertos com um simples comando de interação, contendo alguns itens úteis para os personagens, ou simplesmente equipáveis cosméticos para mudar a cor de cabelo, roupas – itens que podem também ser comprados em lojas -, entre outros.
Um jogo de dois momentos
O jogo basicamente se divide entre o free time (tempo livre) e momentos de missões mundo afora, no mapa superficialmente aberto. Constantemente surgirão novos personagens para compor o hall de pessoas contidas em seu manual do jogo, o que assusta e intimida por passar a impressão de que existem muitas figuras para conhecer. Fora estes apresentados durante o próprio enredo, ex-companheiros de Rean dos jogos antecessores também surgem, o que gera um mínimo interesse, mais uma vez, pela falta de conter algo mais interativo para conhecer os Trails of Cold Steel antecessores.
Além do gameplay principal que Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III oferece, há um jogo de cartas chamado Vantage Masters, com regras bastante simples que se resumem em invocar monstros, custando mana, e posicioná-los no campo para atacar as cartas do oponente enquanto defendem sua carta “mestre”, a qual possui alguns pontos de vida. Para minha surpresa, o cardgame é bastante divertido.
O que não gostei
Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III é um jogo lindo – mesmo com gráficos ultrapassados – e me chamou bastante atenção por conta disso. Mas sua relação com os personagens da história é difícil de ser construída verdadeiramente sem conhecer os games que vieram antes. O jogo se apoia muito nos outros dois títulos da série, os quais têm suas histórias disponíveis através de cutscenes incrivelmente monótonas no menu principal. A abordagem teria sido melhor se o resumo dos primeiros Legend of Heroes: Trails of Cold Steel fossem jogáveis no início deste aqui, e isso feito de uma forma breve e imersiva. Apenas assistir não é a coisa mais bacana e interativa do mundo.
Por isso, foi dificultoso para mim assistir todas as linhas de diálogo e contação de história sem começar a achar tudo maçante. Ainda mais porque, até o enredo começar de verdade, pode levar uma hora inteira se todas as cenas forem assistidas sem cortes. Um tempo bastante grande para inserir o jogador no que realmente importa. Levei cerca de 4 horas para finalmente ver as coisas acontecendo e sentir algum tipo de progresso. E isso porque me cansei de ver a galera conversando entre si e comecei a pular animações. Até lá, fui obrigado a ler várias falas esdrúxulas que não agregam nada à trama.
Já falando sobre as batalhas, existe uma forma de cortar as animações, mas é exigido que você pressione toda vez o botão “+” para que isso aconteça. O que é completamente irritante e sem nexo, visto que existe a opção de acelerar falas de diálogos fora das batalhas segurando o botão B. Felizmente há um comando chamado Turbo Mode pressionando o analógico esquerdo, o que faz com que a velocidade do jogo aumente bastante para economizar seu tempo principalmente com animações de batalhas.
Caso queira, há também disponível o auto battle, o que acho completamente sem graça e principalmente ineficaz, já que as lutas acontecem automaticamente e é extremamente provável que os personagens tomarão decisões bem ruins – 99.99% das vezes -, resultando em derrota por falta de uso de itens óbvios de apoio e habilidades que curem a equipe.
Os tutoriais também são bem irritantes e o jogo peca por um excesso de textos aparecendo na tela em todo o tempo explicando tudo. Parece que existem infinitas mecânicas. Esse tipo de solução comumente é encontrada para a falta de uma jogabilidade completamente intuitiva, além do manual extenso explicando os termos e mecânicas em geral que dão sono. A falta de algo intuitivo é comprovado na hora de fazer o gerenciamento de seus Quartz e habilidades, onde o sistema não é exatamente claro por si só, fazendo com que você recorra ao menu de ajuda.
Ótimo, mas só para quem conhece
Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III é um excelente jogo apenas por causa de suas batalhas diferenciadas e desafiadoras, mas deixa muito a desejar em vários outros pontos como o enredo. A história se desenvolve num ritmo demasiadamente lento e desgastante, com linhas extensas de diálogos fúteis, conversas com o objetivo falho de demonstrar carisma e relacionamento entre personagens, e várias horas apenas para, de fato, começar a jornada de Rean de forma verdadeira e com sensação de progresso.
Para ajudar, os resumos dos jogos antecessores da série não foram incluídos dentro deste de forma inteligente, trazendo uma abordagem bastante preguiçosa por meio dos menus de texto e cutscenes sem vida. Definitivamente Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III é para quem estudou anteriormente os games da franquia, mas será mesmo que eu deveria ser obrigado a fazer isso antes de jogar algo? Caso você não esteja imerso neste universo, será difícil se importar de fato com a história e personagens.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores