Toda grande história tem um início. Tentando amarrar todos os arcos de um mundo de fantasia, criado lá atrás nos anos 80, é que a Nintendo lançou, em 2011, nos vinte e cinco anos de uma de suas maiores franquias, The Legend of Zelda: Skyward Sword. Passados dez anos, o agora balzaquiano Zeldinha ganhou uma versão HD de SS, que tem uma difícil missão: reacender a chama nostálgica daqueles que jogaram o título original lá atrás; e se apresentar relevante para um leque de novos jogadores que, através do Switch, resolveram se aventurar em um console Nintendo e passaram a conhecer esse mundo por Breath of the Wild. Deixando, momentaneamente, a comparação com o GOTY de 2017, é certo dizer que The Legend of Zelda: Skyward Sword HD, lançado no último dia 16 de julho, é o melhor jogo de 2011 que você jogará em 2021.
Desenvolvimento: Nintendo
Distribuição: Nintendo
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: Switch
História imersiva
Skyward Sword HD traz uma história que apresenta a construção de boa parte da mística envolvendo a série. Desbravando o céu e explorando a cidade flutuante de Skyloft, acompanhamos a lenda de Zelda nascer, Hyrule ser construída, o herói sendo moldado, a Master Sword sendo forjada e a gênese de tantos outros elementos que fizeram da série um sucesso. Zelda e Link, ao serem retratados fora da arquétipa relação “realeza/plebeu”, se mostram mais críveis e próximos dos jogadores e jogadoras que encarnam o manto do herói. Ambas são, na minha opinião, se não a melhor, ao menos uma das melhores versões dos personagens na franquia.
A história aqui apresentada, apesar de não fugir totalmente da construção típica da indústria, “impeça o mal iminente e salve a mocinha”, possui mais camadas e profundidade. É legal ver a gradativa construção da Master Sword, o fardo de Zelda devido a relação com a divindade protetora de Skyloft e o amadurecimento de Link enquanto herói. A narrativa é densa, apresentando uma imersão que pouco se percebe em outros jogos da série e que, apesar de certos rodeios que tratarei mais pra frente, te prende até o final. Os fatos que antecedem e sucedem a luta final, por exemplo, são incríveis.
Visual datado
O visual do jogo é colorido e bonito, mas o aumento de resolução trouxe problemas que saltam à vista do jogador. Não que The Legend of Zelda Skyward Sword HD tenha envelhecido mal, mas os detalhes nas texturas dos cenários, como paredes, construções, árvores e folhas, por exemplo, escancaram o peso da idade do título e mostram como ele é datado. Um ponto positivo, no entanto, fica para os inéditos 60 fps. Isso faz uma diferença enorme na gameplay. Assim que fechei o jogo, fui colocar Breath of the Wild para comparar e a taxa de framerate (cravada em 30 fps) me incomodou demais. Outro ponto a se destacar é a diminuição dos tutoriais – muito criticados por quem teve contato com o game original – que explicam as mecânicas, nos permitindo, sem muita delonga, aventurar-nos logo pela história.
Uma das coisas mais marcantes na franquia The Legend of Zelda é sua trilha sonora. É incrível como as músicas ajudam a compor a atmosfera do jogo, deixando claro os momentos de tensão, alívio, tristeza e alegria. Seja a linda canção título, Zelda Lullaby, Gerudo Valley ou tantas outras que certamente figuram na mente daqueles que, em algum momento, já exploraram as terras de Hyrule. Esse é o primeiro jogo da franquia a contar com composições orquestradas. Quem ficou a cargo foi Mahito Yokota, responsável também pelas belíssimas composições de Super Mario Galaxy. A trilha sonora se mostra genial em vários momentos, como no mercado de Skyloft (Bazaar) onde o ritmo da música tema da área se diferencia de acordo com o comerciante que está negociando com Link. Em linhas gerais, as composições brilham do início ao fim e até mesmo durante os créditos finais, ao som da música tema (belamente orquestrada), consegue emocionar.
Não é um Breath of the Wild, ok?
Aos desavisados que esperam aqui um mundo aberto e vivo, como o visto em Breath of the Wild, fica o alerta de que vocês talvez se frustrem com a linearidade de Skyward Sword HD. O máximo de liberdade que temos aqui é ao explorar a divertida, porém pequena, Skyloft. Na verdade, BotW que foi na contramão dos outros games da série, ao dar para o jogador uma inédita experiência de mundo aberto. O desértico céu do game – que contém pouquíssimas áreas para serem visitadas – serve como um grande HUB que interconecta as únicas três áreas que podemos “desbravar” em terra firme: Faron Woods, Eldin Volcano e Lanayru Desert. Devemos sempre subir aos céus com nosso Loftwing – grandes pássaros que nos ajudam na exploração daquele mundo – para conseguir acessar a área seguinte. Mesmo sendo linear, são nessas áreas que Skyward Sword brilha. Elas são grandes e inteligentes dungeons, que vamos concluindo conforme novos equipamentos passam a compor nosso inventário, seja um estilingue, bombas, um arpão ou arco e flecha.
Ampliando as dinâmicas de RPG, em Skyward Sword, boa parte de nossas armas e ferramentas podem ser aprimoradas ou consertadas (no caso o nosso escudo), seja com o ferreiro da Scrap Shop na área do Bazaar ou com o vendedor do Beedle’s Air Shop, em Skyloft. No jogo podemos também comprar poções que recuperam nossa vitalidade, tradicionalmente representado por corações e adquirir flechas, bombas e munições para o estilingue.
Apesar dos locais que exploramos apresentarem a mesma identidade visual que estamos habituados em The Legend of Zelda, talvez por se tratar do início da jornada de Zelda, Link e da própria Hyrule, não vemos nesses locais seus personagens típicos. Então, não espere se deparar com Gorons nas regiões vulcânicas, Koroks nas florestas ou Zoras nas áreas alagadas. No lugar deles – salvo os fofíssimos Kikwi – temos seres sem um décimo do carisma (alguém se importa com as toupeiras Mogmas?).
Apesar dessas ausências e de não termos um mundo aberto para explorarmos, é legal notar vários elementos que foram implementados em Skyward Sword e que serviram de escalada para compor algumas mecânicas de Breath of the Wild, como a barra de vigor e o Paraglider.
Escolha como jogar
Skyward Sword foi concebido pensando em explorar todo o potencial que os controles de movimento do Wii tinham a oferecer na época após o lançamento do Motion Plus. A bem da verdade foi a acessibilidade do revolucionário Wii, permitida pelo diferencial dos controles de movimento, que alavancou a sua venda e trouxe uma gama de novos jogadores para o console da gigante japonesa. Ainda sim, a obrigatoriedade de experimentar o jogo dessa forma lhe rendeu algumas críticas, na época. A versão HD – até por conta das limitações do Nintendo Switch Lite – corrige esse problema ao permitir se divertir de forma mais tradicional, deixando de lado os controles por movimento.
Skyward Sword HD utiliza o giroscópio dos Joycon para aprimorar um pouco mais os controles, apresentando uma precisão superior em comparação à antiga dobradinha Nunchuck + Wii Remote. Mesmo assim, optei por jogar todo o game com o Pro Controller, sem fazer uso dos controles por movimento. Simplesmente achei chato e me sentia um bobo toda vez que levantava o Joycon direito para carregar a espada, sem mencionar a necessidade constante de recalibrar o sensor. De toda forma, demorei demais para me acostumar com os controles tradicionais, e quase que instintivamente usava o analógico direito para movimentar a câmera. Só que é com a alavanca que sacamos a espada para desferir golpes contra os inimigos. No caso, temos que segurar o botão L para movimentar a câmera de forma livre com o analógico, algo que não tínhamos na versão original – diga-se de passagem.
Merecíamos mais
The Legend of Zelda: Skyward Sword HD corrige alguns problemas pontuais, mas mantém outros. Por ser linear e “redondo” demais, a repetição de algumas fórmulas durante a aventura chega a cansar. Há um prolongamento desnecessário que parece estar lá apenas para avolumar a história.Quando eu pensei estar terminando o enredo, tive mais dez horas de gameplay até o chefão final.
Os controles continuam sendo divisivos. A precisão dos Joycon colocam o novo título à frente do original, e a inclusão de controles tradicionais, apesar de problemática, democratiza a experiência. O game é muito divertido, ainda mais para quem nunca havia jogado antes. Porém, é inconcebível – mesmo frente a essas “inovações” – que um título de 2011 seja lançado com um preço de um AAA de 2021. E os esforços da Nintendo nessa versão HD não justificam o valor cheio. Nos trinta e cinco anos da franquia, o título e, principalmente, os fãs, mereciam mais.
Cópia de Switch adquirida pelo autor
Revisão: Jason Ming Hong