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Uma história com os videogames

Diferente da atual geração de jovens – que já quase nascem jogando e tocam na tela da TV pensando que é touch – tive contato com videogames um pouco tardiamente.

As máquinas de arcade da Capcom (com Street Fighter 2, Captain Commando, Cadillacs and Dinossaurs etc), que tinha numa loja de fliperamas perto da minha casa, eu só via de relance, quando passava com meus pais por lá. Esses espaços não possuíam credibilidade no mundo adulto.

Meus pais diziam serem locais de vadiagem e marginalidade. Naquela época, o sub-bairro que cresci, era muito perigoso. E, de fato, jovens ligados ao tráfico gastavam um pouco do dinheiro, conseguido com a venda de drogas, com fichas naqueles arcades. Então, meus pais – em relação a essa loja em específico – não estavam de um todo errados.

Os arcades foram febre nos anos 90

A primeira vez que joguei, de fato, um videogame, foi na casa de um amigo da escola. Devia ter por volta de sete ou oito anos. Ele tinha um daqueles clones do Nintendinho da Dynacom: o Dynavision. E, naquela ocasião, havia conseguido uma fita de Street Fighter 2. Um port pirata, feito pela Hummer Team e distribuído pela Yoko Soft, para o console de 8bit da Nintendo.

De toda forma, esse foi o primeiro jogo que joguei na minha vida. O personagem que escolhi? Por sugestão do meu amigo, por ser – supostamente – mais fácil para iniciantes, foi o Zangief. Ficava só dando aquele giro de braços do personagem até ganhar os rounds. Saí da casa desse meu amigo com um único pensamento: eu preciso jogar aquilo em casa.

Meu primeiro videogame, porém, eu só fui ter cerca de dois anos depois. Após muita insistência – minha e do meu irmão – junto aos meus pais, ganhei um famiclone de nome Turbo Game, da CCE. O console vinha com dois controles e a cópia genérica de Pacman chamada Brush Roller. Ao longo dos anos 90 tive outros três consoles. Vendia um pra comprar o outro. Primeiro o Master System, depois o Mega Drive e, por fim, o “poderoso” Sega Saturn.

Street fighter 2

Mais do que nos dias atuais, os joguinhos eletrônicos abrangiam um mercado de nicho nos anos de 1990. Eram produtos, extremamente, caros e que quase não possuíam representantes oficiais no Brasil. Na época, havia a TecToy, que representava a Sega no país e, bem mais tarde, a Playtronic (uma junção da Gradiente e Estrela) que representava a Nintendo.

Para vocês terem uma ideia, quando ganhei meu Master System III, numa época onde o salário mínimo era R$ 100,00, meus pais pagaram R$ 129,90 no aparelho. Claro que eles parcelaram, pela Losango, no carnê, em prestações a perder de vista e COM juros. Videogames, portanto, não eram um produto fácil de se ter em casa.

Assim como os consoles, os jogos também eram caros. A saída? Alugar fitas para o aparelho nos finais de semana. Eu fazia uma verdadeira excursão pelas locadoras próximas a minha casa. Entrava em todas e olhava pra ver se tinha jogos para o meu console. Se tivesse, perturbava minha mãe para se tornar “sócia” daquela locadora pra poder alugar e jogar as fitinhas. As locadoras pra mim, por um bom tempo, só serviam para isso. Não tinha videocassete – em casa – para poder alugar os filmes.

Outra tática era ficar, deliberadamente, meses juntando dinheiro da merenda da escola, com meu irmão, para comprar uma fita na Casa e Vídeo (loja revendedora oficial dos produtos da Tec Toy, nos anos 90). Fizemos muito isso na época que tivemos o Master System e o Mega Drive.

Os joguinhos sempre foram caros. Anúncio de 1998.

Num período onde não existia internet e (obviamente) YouTube, a gente só ficava sabendo das “novidades” desse mundo através das revistas especializadas. Não foram poucas as revistas que comprei. Da Ação Games a Super Game e Game Power (que mais tarde se transformou na Super Game Power). Tinha uma coleção que, infelizmente, se perdeu com o tempo. Como sempre estava uma geração de consoles atrás da atual, era uma forma de me manter atualizado e “consumir” simbolicamente consoles que nunca conseguiria ter, como, por exemplo, o NeoGeo.

Em 1999, ano em que ganhei o Sega Saturn, já tinha 15 anos. Estava crescendo tendo esses aparelhos eletrônicos como amigos inseparáveis. Em 2000, com 16 anos, peguei o PlayStation. Na época, vendi o Saturn e os jogos que tinha, separadamente, para uma “locadora” (daquelas que tinham vários consoles plugados a TVs, pra galera jogar, pagando a hora). É claro que os valores foram bem abaixo do preço que eles valiam. Mas, precisava do dinheiro pra comprar o já famoso console da Sony.

Nunca juntei tanto dinheiro do lanche da escola pra comprar os joguinhos como na época que tive o PlayStation. Diferente dos demais, eu conseguia comprar muitos jogos por conta da pirataria. Aquela fase de se alugar fitas de jogos nos finais de semana – tão comum nos anos 90 – estava ficando para trás. Eu tinha uma coleção de jogos (tudo pirata) e mais outra coleção de Memory Card (que vivia dando defeito e fazendo a gente perder o progresso nos jogos).

Em 2002, já com 18 anos, comprei um Nintendo 64. E, diferente dos demais consoles que tive, não me desfiz do PlayStation. Fiquei com os dois. O PlayStation, na verdade, me acompanhou até dar defeito e parar de funcionar de vez. Ele já vinha apresentando problemas. Cansei de colocar o vídeo game de cabeça pra baixo ou de lado pra ele conseguir ler as mídias de jogos. Nesse ano já tinha terminado o colégio. Começava minha saga da busca de um emprego. Pouco a pouco, comecei a jogar bem menos por conta da correria. No ano seguinte comecei a namorar (sério) e trabalhar (me lembrei da música Eduardo e Mônica: NÃOoooo). Com o início da graduação, em 2005, a jogatina foi ficando cada vez mais de lado. Meu irmão ainda pegou, nesse meio tempo, com ajuda dos meus pais, um Xbox e depois um PlayStation 2. Mas, havia perdido o interesse.

Em 2006, a Nintendo lançou o revolucionário Wii. Fiquei maravilhado com o conceito daquele console. Porém, não tinha nem tempo, nem dinheiro pra isso. Três anos depois, passeando no shopping com minha então noiva, vi uma loja vendendo o Nintendo Wii desbloqueado a um preço camarada. Já havia terminado a graduação. Possuía um emprego estável (mesmo que mal remunerado) e, apesar de estar no começo da pós-graduação, tinha mais tempo pra (voltar a) jogar. Naquele dia, consegui convencer minha noiva a comprar o console comigo. Aos vinte cinco anos eu voltava a ter um vídeo game.

No ano seguinte eu casei. Meu Nintendo Wii conheceu uma televisão de LCD de 32 polegadas, ao invés da antiga TV de tubo de 29 polegadas. Em 2011 , em novo passeio no shopping de perto de casa, comprei um Xbox 360 que vinha com o Kinect. Ficava claro que não largaria mais mão dos aparelhinhos de entretenimento. Voltamos, na verdade, a ser amigos inseparáveis, como quando na minha infância. A verdade é que o mercado de jogos eletrônicos cresceu e amadureceu junto com minha geração. Hoje em dia, ele se transformou numa verdadeira indústria e movimenta bilhões de dólares todo ano.

Em 2013, ano de lançamento dos aparelhos da 8a geração (Xbox One e PS4) minha filha nasceu. Em outubro do ano seguinte consegui comprar meu Xone. Joguei muitas partidas de Gears, Halo e Forza com minha baixinha dormindo no meu colo. No final de 2017 peguei o Nintendo Switch. Minha filha, hoje com seis anos, adora jogar Mario Odissey, Mario Party e Mario Kart nele. Será que os video games acompanharão o seu crescimento, assim como acompanharam o meu? O negócio é apertar “start” e continuar a jogar.

Revisão: Samuel Leão