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Review The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV (Switch) – A forma errada de terminar uma saga

Uma das maiores dificuldades para qualquer série, que já existe há muito tempo, é terminar sua história de uma forma que seja agradável para os fãs. Algumas das maiores franquias do mundo dos RPGs evitam causar esse problema ao fazer com que seus jogos sejam pouco interligados, ou dividi-los em sagas que não possuem ligações em sua narrativa.

A franquia The Legend of Heroes é um exemplo do que acontece quando a narrativa de uma franquia é esticada por anos e através de diversos títulos. The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV é a culminação de um enredo que começou em Trails of the Sky de 2004 e que, só agora, mais de 15 anos depois, mostra sinais de que está chegando ao seu final. E como já é de se imaginar, o game acaba sofrendo bastante no quesito que devia ser a principal razão de fazer com que os fãs quisessem jogá-lo: sua história.

Desenvolvimento: Falcom
Distribuição: NIS America
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: Switch, PS4, PC
Duração: 64 horas (campanha)/102 horas (100%)

O final de uma saga

Trails Of Cold Steel IV planeja terminar toda uma história que já se estende por anos.

Vou dizer logo de cara, Trails of Cold Steel IV é algo para os fãs veteranos da franquia The Legend of Heroes. Mesmo sendo a quarta parte da saga Cold Steel, se você não jogou – ou leu um resumo – Trails in the Sky FC, este game não é para você. E a razão para isso é que a história de CSIV referencia eventos e personagens desde o primeiro título do PSP. Portanto, essa necessidade de conhecer o restante da série fica bem óbvio quando você inicia a aventura.

Teoricamente, Trails of Cold Steel IV começa duas semanas após o final de Trails of Cold Steel III. Contudo, em vez de controlar um dos personagens da aventura anterior, o título decide utilizar de nostalgia e coloca o jogador no controle de um grupo contendo protagonistas anteriores da série.

Antes mesmo de você assumir o controle do grupo, é possível notar outro problema enorme com a narrativa de Trails of Cold Steel IV. Há mais de 30 minutos de cutscenes que só tentam dar contexto ao que está acontecendo em Erebonia, o país onde a aventura acontece. Muitas dessas cenas são totalmente inúteis, servindo apenas para tentar deixar as coisas mais misteriosas, e abusando de clichês para isso usando ângulos de câmera em que certos personagens não apareceram – ou seu rosto não seja mostrado – e falando sobre coisas de uma forma aberta e sem ser específico. Essas duas coisas, combinadas, acabam apenas contribuindo para um início extremamente lento que vai testar a paciência de quem jogar.

Trails of Cold Steel IV força muito mistério para cima do jogador

É tanta coisa falada de um jeito aberto ou que abusa de conhecimento prévio dos jogos anteriores, que a história de Trails of Cold Steel IV acaba se tornando monótona. Para piorar, ela alterna entre momentos de exposição – em que decide jogar muita informação de uma única vez na cara do jogador – e cenas que servem apenas para tentar aumentar o período de interação entre dois ou mais personagens. 

É uma pena, eu fiquei bastante desapontado com a forma que a narrativa foi apresentada aqui. Eu joguei os anteriores e já vinha acompanhando a série há um bom tempo e, apesar de o final de Cold Steel 3 ter levantado algumas preocupações, eu esperava que o quarto título concluísse o seu enredo de uma boa forma. Estava enganado, pois, na maior parte do tempo é possível notar que a história corre para resolver as coisas enquanto levanta mais buracos em um conto que só fica cada vez mais confuso, conforme novos títulos são lançados.

Estelle é apenas uma das personagens que retornam em Trails of Cold Steel IV

Nostalgia e referências também são elementos bastante utilizados na narrativa de Trails of Cold Steel IV. Personagens antigos voltam, incluindo aqueles de arcos que não aparecem na série há mais de 10 anos, além de muitas menções a lugares do passado. Entretanto, a utilização de tal elemento narrativo pode ser considerado como uma preguiça de criar algo novo por parte da Falcom. De fato, isso é algo que pode ser observado desde o jogo anterior, Trails of Cold Steel 3, que reutiliza partes da história de CS1. Cold Steel IV não difere, porém, dessa vez, o enredo reciclado aqui é o de CS2, com a mesma estrutura narrativa aparecendo em ambos os títulos. Quem jogou Trails of Cold Steel 2, reconhecerá na hora a parte inicial.

E outra razão para eu não gostar tanto da narrativa de Trails of Cold Steel IV tem a ver com algo que eu considero um grande problema de enredo. Mesmo utilizando Rean Schawzer, protagonista da saga Cold Steel, como o principal personagem do capítulo final da história de Erebonia, só assumimos controle do herói, de fato, após quase 10 horas de jogatina. Em seu lugar, o game nos obriga a controlar os supostos protagonistas desta aventura, a nova classe VII, o que leva a um ponto especial que criticarei a seguir.

Como destruir um grupo: A crítica a New Class VII

Pequeno aviso de que, a seguir, temos alguns spoilers para os três jogos da saga Trails of Cold Steel.

De protagonistas a secundários de luxo, um grande desrespeito com bons personagens

A saga Trails of Cold Steel pode ser considerada o arco mais confuso e problemático de um ponto de vista técnico, e de criação, na saga Trails. Por ser o primeiro jogo 3D da franquia – e originalmente ter sido lançado para o PS Vita e PS3 – o título inicial, Trails of Cold Steel 1, acabou sofrendo um pouco com as limitações do portátil da Sony – e a ambição da Falcom – e teve seu enredo dividido em 2 jogos.

Na história dos dois primeiros Trails of Cold Steel, seguimos as aventuras de Rean Schawzer como um novo estudante da escola militar “Thors Academy”. O protagonista é colocado com os jovens: Alisa Reinford, Jusis Albarea, Elliot Craig, Emma Millstein, Laura S. Arseid, Gaius Worzel, Machias Regnitz e Fie Claussell;  na recém-formada Classe VII. Seguimos então o grupo de personalidade e backgrounds diferentes aprendendo a trabalhar juntos para superar os diversos adversários que serão encontrados em sua jornada. Mais tarde temos a inclusão de Millium Orion e Crow Armbrust, como alunos de transferência, que, apesar de se juntarem mais tarde ao grupo, também acabam por se tornar uma parte importante da equipe.

E ao longo do primeiro jogo aprendemos um pouco mais sobre esses jovens, seus passados, sonhos para o futuro e medos. Graças a ajuda de Rean, cada um cresce como pessoa, e ao final do primeiro Trails of Cold Steel a classe está tão unida que eles, sozinhos, conseguem superar o desafio final e despertar um lendário robô antigo de seu selo. E o final de Trails of Cold Steel mostra o quão gratos eles são ao jovem herói que os ajudou, ao servir de distração para permitir que ele possa escapar quando a guerra civil de Erebonia tem início.

O segundo jogo começa de uma forma trágica, que tem como principal objetivo reunir a turma. E ao longo daquele título só vemos mais a confirmação de que essa classe fará de tudo para não apenas se reunir, mas também poder salvar Rean quando ele estiver em apuros. Se o primeiro Trails of Cold Steel terminava com o grupo tendo que se separar por motivos de força maior, o segundo tinha a classe VII indo por seus próprios caminhos após completar o maior desafio que testava o quanto os seus laços eram reais e importavam. Após duas aventuras enormes – aproximadamente 154 horas – o momento final da Classe VII, todos chorando por ser sua última aventura, realmente tocará no coração de quem acompanhou a evolução dos personagens.

Espero que você goste de estereótipos de animes ambulantes.

Trails of Cold Steel 3 decidiu continuar seguindo Rean, mas dessa vez, com uma nova classe VII composta por: Juna Crawford, Kurt Vander, Altina Orion, Ash Carbide e Musse Egret. O protagonista é o professor e lidera a nova turma em suas aventuras, com os veteranos dos jogos anteriores aparecendo ocasionalmente para ajudar os novatos, repetindo um dos piores clichês da franquia Trails (personagens que não são do grupo principal são mais poderosos e salvam a party sempre que é preciso).

Infelizmente, CS3 sofreu com os problemas de narrativas comuns da Falcom, e o enredo acabou sendo novamente forçado a se dividir em duas partes. Boa parte da culpa disso é que uma boa parcela de seu tempo foi dedicado a fazer com que o jogador goste da nova turma. Entretanto, se a Classe VII original foi acusada de ser o início da transformação de Trails em uma série de RPG com fortes influências de anime, a nova Classe VII – e os personagens que foram introduzidos com eles em CS3 – podem ser considerados o resultado dessa metamorfose.

A nova classe VII abusa de muitos clichês dos animes para tentar agradar os otakus. Tsunderes, loli, a clássica personagem feminina que gosta de flertar com o seu professor, o punk rebelde com coração de ouro: são alguns exemplos de esterótipos que encontramos nos novos protagonistas. Não que o antigo grupo estava livre de tais problemas, pelo contrário, certos personagens até cabem em uma dessas categorias. Entretanto, enquanto a antiga Classe VII logo deixava para trás tais elementos, o novo time ainda continua se agarrando demais a tais conjunções ao longo da jornada.

Eis então que o final de Cold Steel III põem em cheque o quão importante é a nova Classe VII, enquanto sela o destino da antiga turma. Nos minutos finais daquele título, temos a revelação de que os novos personagens estão interligados a Valimar – o robô gigante controlado por Rean e que é um dos cavaleiros divinos de Erebonia – enquanto o antigo grupo apenas pode observar Rean sendo capturado pelas forças inimigas e Millium sendo sacrificada como parte dos planos do vilão Osborne.

A interação entre veteranos e novatos envolve muito dos velhos personagens se desculpando com os novos protagonistas.

Trails of Cold Steel IV começa após isso, com a nova classe VII acordando duas semanas depois e com um único objetivo em mente, resgatar Rean. Mas, diferente do que podemos imaginar, Juna é quem decidiu que seu professor tem que ser salvo. A antiga classe VII literalmente não estava preocupada com o seu amigo sendo mantido preso em cativeiro. E, sinceramente, isso para mim foi um dos maiores golpes em toda a sua caracterização. Que personagens que estiveram juntos por tanto tempo, sobrevivendo a uma guerra civil e derrotando criaturas místicas e poderosas, podiam simplesmente virar as costas ao seu amigo e seguir em frente, tornando assim toda a jornada de dois jogos até esse momento em nada?

Como se não bastasse, mesmo com o jogo reafirmando que agora as duas classes são uma só, não há distinção de veteranos e novatos. A Nova classe VII ainda é o foco principal da história. A primeira parte inteira do título obriga que o jogador utilize-os durante as missões, com um ou dois membros da antiga agindo como convidados, o novo time também é quem confronta Rean e o resgata do seu estado corrompido reafirmando seu laço com o instrutor.

Tenho certeza que existem pessoas que curtem os novos personagens introduzidos em CS3. Mas, eu sinto uma raiva enorme em vê que aqueles que eu me envolvi tanto em dois jogos sendo reduzidos a mero coadjuvantes de luxo. Talvez eu esteja ficando velho e não consiga gostar mais desses estereótipos de anime que adoram aparecer aqui, tal como Roseline, a líder do clã de bruxas que possui mais de 800 anos de idade e está com a forma de uma loli porque usou magia demais nos últimos anos.

Aqui acaba a zona de spoilers

Na trilha do aço

McBurn continua presente e ainda é tão difícil quanto antes.

Se a história é um ponto questionável, é possível garantir que o sistema de batalha de Trails of Cold Steel IV continua tão bom quanto os antecessores. Isso talvez se deva a um fato importante: não há muitas modificações severas no seu sistema. O que pode ser considerado um trabalho preguiçoso da Falcom, é, na verdade, uma ideia genial, pois, afinal de contas, em time que está ganhando não se mexe.

Ainda controlamos 4 personagens na party ativa, com até 3 ficando de reserva podendo ser alternado sempre que necessário. Todas as mecânicas já clássicas da franquia Trails retornam aqui, como Crafts (habilidades dos combatentes) e Arts (as famosas magias). As poderosas S-crafts também estão presentes, com a possibilidade de novas serem desbloqueadas ao longo da jornada.

O sistema de batalha ainda continua permitindo que os personagens sejam movidos durante seus turnos, criando assim um pouco de estratégia durante os embates. Do jogo anterior, as Braves Orders voltam, ainda oferecendo buffs e debuffs poderosos, sendo agora possível melhorá-las ao cumprir certos desafios. Por fim, Trails of Cold Steel IV continua encorajando que os jogadores utilizem diversas estratégias diferentes a cada combate, tudo para conseguir altos multiplicadores de experiência, para assim poder subir mais facilmente de nível.

O Sistema de combate de Trails of Cold Steel IV continua tão divertido quanto os antecessores

A maior diferença de CSIV em relação ao antecessor, é o enorme número de personagens à disposição do jogador. 39 combatentes podem ser usados nos confrontos, sendo a maior quantidade de lutadores controláveis em toda a franquia. Apesar de não ser necessário subir de nível (o jogo já faz isso automaticamente) ou equipar todos eles, é verdade que possuir tantas opções assim não é nada muito bom, ainda mais quando algo te força a alternar entre todos.

Por ser também o final de uma saga, Trails of Cold Steel IV também força bastante lutas contra múltiplos chefes. O jogo já é longo e se arrasta demais nas cutscenes, e essas batalhas não ajudam em nada no ritmo. É comum enfrentar 2 ou 3 chefes seguidos em uma sequência de combates, cada um possuindo mais vida do que o anterior. Isso quando não tem cenas no meio, estendendo ainda mais o tempo que você passará em tal lugar.

Muita coisa extra para se fazer aqui

Trails of Cold Steel IV segue a tradição de qualquer bom RPG japonês, e continua com um minigame de pesca

Além dos combates e da história principal, Trails of Cold Steel IV ainda permite que jogadores possam aproveitar diversas atividades extras. Como já é tradicional em muitos JRPGs, temos um minigame de pesca, que fornece bastantes recompensas a quem decidir se tornar o melhor pescador de Erebonia.

Outro minigame que retorna aqui é o Vantage Masters, o jogo de cartas que foi introduzido em Trails of Cold Steel III. A jogabilidade e regras continuam iguais a do título anterior e, assim como com a pesca, também é possível ganhar recompensas extras.

De novidade, Trails of Cold Steel IV introduz o novo minigame Pom Pom Party. Baseado em Puyo Puyo, que é extremamente simples de ser jogado e também oferece bastante recompensas boas para quem decidir completá-lo.

Totalmente não é Puyo Puyo

Por fim, temos as sidequests, que contém tanto quests ativas quanto outras que podem estar escondidas. Como já é tradição da franquia Trails, há muita coisa que pode ser perdida aqui ao avançar a história, incluindo itens, missões e até mesmo cenas especiais, então é recomendado explorar bem os locais. Fazer tudo que Trails of Cold Steel IV lhe oferecer aumentará bastante o seu tempo com o game e ajudará até mesmo com o final do jogo – que pode sofrer alterações se você cumpriu tudo o que tinha a ser feito até os minutos finais.

A apresentação não desaponta

Trails of Cold Steel IV não tem os melhores gráficos, mas arrasa na apresentação

Trails of Cold Steel IV pode não ter os melhores gráficos se comparado a outras grandes franquias dos JPRGs. As animações do título também podem ser bastante criticadas pela simplicidade apresentada nelas. Entretanto, há certas partes onde Cold Steel IV consegue brilhar quando o quesito envolve visual, com alguns personagens tendo bons designs e uma bela variação de cenários.

Contudo, a Falcom não desaponta quando o quesito é música. Trails of Cold Steel IV tem algumas das melhores melodias do gênero. Burning Throb é meu tema favorito de batalha de toda a quadrilogia, e as cidades possuem músicas bem calmas perfeitas para explorar os locais.

As músicas do título são incríveis, utilizando uma enorme variedade de instrumentos e tendo inspiração em diversos gêneros musicais. Fãs da franquia também ficarão felizes ao ouvirem temas clássicos remixados em Trails of Cold Steel IV, mas um exemplo do uso de nostalgia que o game faz.

Por fim, assim como foi o caso em Trails of Cold Steel III, Cold Steel IV oferece opção de dublagem tanto em inglês quanto a original em japonês. Enquanto há bons dubladores nas duas versões, a minha preferência fica com os dubladores orientais. O trabalho lá foi bem melhor do que o do ocidente, e essa é uma reclamação que eu possuo desde que a NISA assumiu a tradução da série.

O fim de uma saga que poderia ter sido melhor

McBurn continua sendo um dos melhores personagens da saga

Trails of Cold Steel IV é o fim de um arco que começou em 2013, mas que, no fim das contas, é apenas mais uma saga na grande história da franquia Trails. Por causa disso, o jogo tenta finalizar todos os pontos de enredo que estavam abertos enquanto tenta ligar toda a narrativa geral da série. O resultado é um produto que sofre com sérios problemas de ritmo e que abusa e utiliza de conhecimento prévio para poder ser totalmente aproveitado.

É impossível recomendá-lo a novatos, e até mesmo os veteranos precisaram ler uma wiki ou rejogar os jogos anteriores para compreender totalmente o enredo. A aventura final da Classe VII é bastante grandiosa e, apesar deste problema de narrativa, ela é bem prazerosa. A jogabilidade continua tão boa como já é normal na série, trazendo uma nova forma de se fazer combates por turno, e a música é tão fantástica quanto qualquer outra que a Falcom já produziu.

Se você é fã de JRPGs, este é um bom título para jogar, mas, esteja avisado é preciso ser bastante paciente para poder aproveitá-lo. Contudo, é preciso jogar os antigos, senão você ficará bastante perdido ao se aventurar por Erebonia.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

8

Nota Final

8.0/10

Prós

  • Boa Jogabilidade
  • Música continua incrível como sempre
  • Um bom final para o arco de Erebonia

Contras

  • Enredo usa e abusa de conhecimentos de jogos muito antigos
  • Sérios problemas de ritmo afetam a narrativa
  • Animações continuam tão simples quanto no Vita
  • Batalhas com robôs gigantes continuam chatas