Capa de Not For Broadcast

Preview Not For Broadcast (PC) – Fabrique sua própria verdade

A comunicação social, para além de uma área acadêmica encarregada pela formação de milhares de comunicadores todos os anos no Brasil e no mundo, é uma ciência presente desde os primórdios da humanidade. A necessidade e o estabelecimento de diálogo entre seres da mesma espécie foi a base de construção das primeiras sociedades, que formavam bandos cujo objetivo era sobreviver.

Avançando para a contemporaneidade, o jornalismo surge como uma das vertentes da comunicação social, responsável pela produção e veiculação de notícias sobre acontecimentos de interesse público. Mas o que tudo isso tem a ver com Not For Broadcast?

Desenvolvimento: NotGames
Distribuição: tinyBuild
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Simulação
Classificação: 14 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC
Duração: 2.5 horas (campanha)

O mundo dá voltas

Caixa de diálogo

Na história, você controla o personagem Alex Winston, encarregado da limpeza do estúdio de um canal de televisão. Em uma de suas idas cotidianas ao ambiente de trabalho, Alex recebe uma ligação de um homem chamado David, pedindo para que o ajude com a transmissão do jornal National Nightly News. De maneira completamente aleatória e improvisada, você recebe instruções por telefone sobre o funcionamento das máquinas ao seu redor e passa a operá-las todos os dias.

O enredo também se desenvolve fora do estúdio. Chegando em casa no fim do dia, recebemos informações sobre a vida pessoal do personagem, como detalhes de sua família e alguns outros dados. Adicionalmente, o jogo trabalha com situações típicas de RPG, nas quais nossas escolhas em diálogos têm impactos no decorrer da narrativa – e principalmente na condição financeira do Alex.

Teorias do Jornalismo em sua versão mais divertida

Estação de trabalho principal

É na jogabilidade que retomo a definição abordada na introdução desta review. No jornalismo, temos um conceito chamado gatekeeping, no qual uma pessoa define o que será noticiado naquele determinado veículo de comunicação baseado em critérios como valor-notícia e linha editorial. Assim como o nome sugere, o gatekeeper trabalha mais ou menos como o “porteiro” da redação, controlando o fluxo de informações e separando o que será ou não exibido.

Not For Broadcast é justamente a Teoria do Gatekeeper na prática. Na estação de trabalho, o jogador tem ao seu alcance três painéis com botões que realizam diferentes funções e seis telas de transmissão, onde quatro representam as câmeras de captura do set de gravações e as outras duas mostram a programação ao vivo, porém uma delas com dois segundos de delay. Um display acima das telas também contabiliza o tempo restante para o intervalo ou para o fim do jornal e o nível de audiência, que é o principal recurso do jogo, como veremos a seguir.

Aqui, o objetivo principal é conseguir manter os níveis de audiência altos durante toda a exibição do quadro jornalístico. Se, por algum motivo, os valores no display fiquem abaixo dos 5%, você é demitido e é game over. Três regrinhas básicas devem ser observadas para que tudo ocorra como deveria, e são elas:

  1. Mantenha a câmera em quem está falando;
  2. Não deixe mais do que 10 segundos na mesma pessoa;
  3. As câmeras de reação dos participantes não devem ser mais longas do que 3 segundos.

Seguindo essas diretrizes, o jogador fica livre para transmitir o programa da maneira como preferir, seja censurando ou não palavras de baixo calão ditas por convidados, determinando quais propagandas de quais anunciantes serão veiculadas nos intervalos e até escolhendo o tipo de foto das pessoas retratadas nas matérias. Levantar ou derrubar a reputação de alguém é um poder que está a um clique de alcance.

Ultra High Definition quality

Tela de fim do programa

Sobre os aspectos mais técnicos, fiquei surpreso quando a plataforma de instalação do jogo exigiu mais de 60GB de espaço disponível em meu disco rígido. Contudo, isso não foi injustificável: todos os vídeos passados nos monitores são filmagens reais, isto é, não foram criados no motor gráfico mas apenas adicionados. E nesse contexto, graças a essa decisão, o grau de imersão aumentou consideravelmente. O sentimento de estarmos numa estação televisiva é genuíno e completamente palpável.

Simultaneamente, toda a parte sonora consegue acompanhar perfeitamente os detalhes visuais. Seja na trilha sonora acertadamente ambientada dos anos 80 ou nos simples efeitos de chiados característicos de TVs antigas, a dedicação dos desenvolvedores é recompensadora e contribui positivamente na experiência. E não podia ser diferente, dado que muito da jogabilidade exige que o jogador atente-se ao que está sendo falado ao mesmo tempo em que move as câmeras e aperta os botões. Fazer tudo isso enquanto lê legendas torna tudo muito mais difícil.

On Air

Not For Broadcast é, definitivamente, diferente de qualquer coisa que já joguei. É um simulador de propaganda com narrativa definida por nossas ações e escolhas, e ele nos dá os recursos para que consigamos tomar tais decisões. Por exemplo, na seção “arquivo”, é possível rever as gravações para ouvir os comentários ditos por trás das telas e descobrir os segredos dos apresentadores.

Por fim, a tradução das legendas para o português brasileiro também merece um destaque, juntamente com a falta de bugs – o que é uma surpresa, já que estamos falando de um jogo em early access. O que nos resta é aguardar os próximos capítulos e torcer para a empresa manter o bom trabalho.

Cópia de PC cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong