Dark Deity é um RPG tático de batalhas por turnos que qualquer um, até mesmo um leigo como eu, consegue perceber as inspirações em Fire Emblem, Breath of Fire e até mesmo Final Fantasy Tactics. Admito não ser um grande fã desse subgênero, mas, de vez em quando, arrisco uma jogatina para diferenciar. Portanto, não sou nenhum mestre nas Artes da Guerra, então o foco é analisar como Dark Deity lida com os novatos sem deixar de lado a inspiração em jogos antigos e também se ele pode ser um redentor para os fãs das séries citadas.
Desenvolvimento: Sword and Axe LLC
Distribuição: Freedom Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, RPG, Estratégia
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataformas: PC
Duração: Sem registros
Seriam os Guerreiros da Luz?

A história de Dark Deity é, sem dúvidas, seu maior brilho, mesmo possuindo um enredo já visto diversas vezes. Sendo tudo contado por meio de diálogos, tenha em mente que ler é uma obrigação aqui. A história, no geral, é complexa, e só para introduzir o contexto que a envolve levaria muitos parágrafos. Vai ser trabalhoso, mas vamos por partes.
De forma simplificada, passando-se no ano de 1105 no continente de Etlan, após 25 anos de paz o reino de Delia entra em guerra com o império de Aramoran, pois o rei Varic acredita que seu pai, Fasil, foi assassinado por grupos enviados pela família real desse império. A partir disso, todo o continente é estremecido por inúmeras batalhas, gerando anos de conflito. Devido a sua inexperiência, Varic não estava preparado para a guerra que proclamou, sofrendo muita pressão pela quantidade de soldados disponíveis, o que fez ele tomar decisões arriscadas.

Na academia de Brookstead, uma das melhores do reino de Delia, em que seus estudantes nascem sendo treinados para guerra, 4 jovens são convocados para iniciar uma jornada em busca da vitória. Irving, Garrick, Maren e, Alden – meu favorito -, sendo eles, respectivamente, guerreiro, arqueiro, maga branca e mago negro. Essa seleção lembra bastante os Guerreiros da Luz do primeiro Final Fantasy, em que os cristais escolhiam jovens para acabar com a escuridão do mundo. Aqui, esses 4 aventureiros vagam por Etlan travando batalhas e, consequentemente, conhecem novos companheiros e aumentam o grupo.
Companheiros de guerra

Dark Deity arrisca criar uma quantidade de personagens bem grande, e cada um deles possui sua própria personalidade, objetivos e ambições. As conversas são animadoras e denotam uma atenção especial nas relações entre os personagens. Por exemplo, Alden é um mago de 14 anos e, por mais que seja muito poderoso, é inexperiente, o que lembra o Vivi do FFIX. Durante a jornada, muitos subestimam sua utilidade no grupo, mas ficam de queixo caído durante as batalhas, gerando algumas zoações. No final, todos são amigos e possuem um carisma especial, intensificando o brilho da narrativa, sendo impossível não se apegar a alguns deles.
É triste dizer, mas nem tudo é maravilhoso nessa ideia de construir muitos personagens. Dark Deity não dá conta de introduzir todos de forma coerente, pois em certos momentos parece correr ou pular apresentações. Alguns deles apenas entram no meio da batalha e é isso, estão no grupo lutando uma guerra que não é deles. Esse problema é razoavelmente resolvido com o sistema de relacionamentos, porém, ainda é algo vago em certos momentos.

Entre as intensas batalhas e o desenrolar da história, há momentos específicos de descanso no acampamento. Nele é possível fazer compras com o dinheiro adquirido em batalha, fazer upgrades nos personagens, administrar o inventário e, principalmente, melhorar as amizades. Nesses momentos, duas colunas de personagens são apresentadas e é possível escolher dois deles para uma conversa. Ao finalizar, aquela amizade recebe um rank e quanto maior for, novos diálogos são liberados e combinações de combate são descobertas. No fim, é algo bem interessante caso tenha paciência de ler todos os diálogos novos, do contrário, só as combinações de habilidades que importam. Vale ressaltar que Dark Deity não explica nada disso, sendo um pouco confuso de início, o que nos leva ao maior erro do jogo.
Soldados sem treinamento

Após a introdução da história, Dark Deity inicia a primeira batalha na academia Brookstead. É de se esperar que um tutorial ocorra explicando todo o sistema de combate, visto que RPGs táticos possuem muitas informações e detalhes, porém, o game te joga ali sem nenhum conhecimento prévio. Caso seja um novato nesse subgênero e não seja um grande estrategista, sua única opção para aprender todos os componentes que definem as batalhas é jogando. Por mais que tenha informações na tela informando o que os botões fazem, você tem que descobrir por conta própria os macetes e as mecânicas existentes.
Sempre que uma batalha ocorre, há um objetivo a ser completado e um mapa médio cheio de inimigos. A partir disso, como em qualquer RPG tático por turno, o jogador decide quais serão seus movimentos em uma área limite definida por quadrados. Após andar até o lugar esperado, o personagem pode atacar, usar algum item ou esperar o turno acabar. Esse é o básico de qualquer jogo desse subgênero, e tudo bem não ser explicado, mas ainda tem muito mais.

Cada personagem em Dark Deity possui uma habilidade e 4 armas disponíveis que podem ser alternadas durante as batalhas. As habilidades são únicas de cada classe. Já as armas são divididas em poder, agilidade, foco e equilíbrio, cada uma delas possui diferentes atributos. Elas definem o tipo de ataque que o personagem irá utilizar em combate e isso pode ser uma vantagem dependendo do tipo de inimigo enfrentado.
Falando um pouco melhor sobre o sistema de classes, quando um personagem luta, ele recebe uma quantidade de experiência. Ao chegar nos níveis 10, 20 e 30, uma árvore de possíveis classes é desbloqueada. A variedade para cada personagem é bem diversa e elas modificam os atributos, as armas e a habilidade principal. Essa diversidade é muito positiva para Dark Deity, pois não deixa nada enjoativo e dá um motivo para jogar tudo de novo com diferentes classes e suas variações. Fazendo as contas são 30 personagens de classes distintas e cada uma delas possui pelo menos 12 variações – é muita coisa!

Pode parecer bem intuitivo apontando tudo dessa forma, mas Dark Deity não facilita muito para o jogador explicando essas coisas. Para ser sincero, foi necessário ver um vídeo de explicação e entender o sistema de armas, pois elas são muito importantes no campo de batalha. Em determinado momento, meu grupo estava muito fraco comparado aos inimigos, e o motivo disso era a minha forma errônea de usar e melhorar essas armas. Fora que, quanto mais a história avança, mais a estratégia se mostra necessária, e após um início conturbado aprendendo tudo na base do erro e acerto, me vi frustrado pela complexidade do game, que era muito maior do que imaginava. Tudo isso seria facilmente resolvido com tutoriais bem explicativos, indicações de como o sistema funciona e sua importância, o que não ocorre em momento algum.
Para os veteranos e os novatos com muita paciência
Sempre que me aventuro em jogos semelhantes a Dark Deity, minha intuição diz que irei queimar alguns neurônios na jogatina, mesmo na dificuldade mais baixa. Porém, o que não esperava era que aqui meu cérebro entraria em pane. Como dito anteriormente, não sou nenhum Sun Tzu, logo, estratégia não é o meu forte.
Dark Deity não facilita para os novatos ao deixar de explicar fatores importantes para sua gameplay. A falta de um tutorial expressivo pode fazer com que aqueles pouco acostumados ao gênero e até mesmo os veteranos desanimem pela complexidade e número de informações mal explicadas. O que determina uma continuidade na jogatina é a paciência do jogador em aprender tudo na base dos erros e acertos, falhando miseravelmente e tentando de novo. No entanto, batalhas táticas por turno consomem muito tempo, o que invalida um pouco essa opção. Por outro lado, caso tenha se envolvido pela história ou por apenas um personagem – que foi o meu caso -, então, há um bom motivo para se aventurar em Dark Deity.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami