Beholder 2 Switch

Review Beholder 2 (Switch) – Corrupção e burocracia

Beholder 2 é uma sequência não tão direta de Beholder (2016) que foge um pouco da proposta original, mas possui uma direção de arte que ainda faz menção ao primeiro título. Enquanto no antecessor você era basicamente o síndico de um prédio, designado pelo governo, que precisava tomar decisões e alimentar sua família, no segundo o protagonista é somente mais uma engrenagem nesse mesmo governo corrupto e totalitário que usa a força bruta para se livrar de quem se recusa a ser apenas mais um no meio da multidão e obedecer a lista absurda de leis imposta. Beholder 2 não poupa esforços em mostrar cenas que escandalizam qualquer um. O que um jogo com uma proposta tão polêmica tem a oferecer?

Desenvolvimento: Warm Lamp Games
Distribuição: Alawar Premium
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Simulação
Classificação indicativa: 14 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4, Switch, Xbox One, Android e iOS
Duração: 10.5 horas (campanha)/ 18 horas (100%)

Evan Redgrave

O dia-a-dia de um funcionário público

Em Beholder 2 você controle Evan Redgrave, um rapaz cujo pai, Caleb Redgrave, era bastante reconhecido e respeitado dentro deste governo opressor, comandado por uma figura conhecida como The Great Leader, onde Evan acaba conseguindo um emprego e moradia.

Sua principal missão, na verdade, é ingressar neste novo emprego – abandonando esposa e filhos – apenas para descobrir o que houve com seu falecido pai, que supostamente cometeu suicídio. Para isso Evan deverá viver o dia-a-dia como um cão do governo enquanto investiga pessoas e faz seu trabalho de ouvir, carimbar documentos e direcionar para o departamento correto os cidadãos que trazem informações, problemas e denúncias em sua cabine. Problemas estes que apenas colaboram para alimentar sua repulsa contra o governo ambientado no jogo, envolvendo situações de injustiça e autoritarismo.

Beholder 2 traz a estética que lembra bastante o jogo anterior, porém com gráficos tridimensionais. O game faz o uso de bonequinhos sem feições físicas, parecendo apenas almas penadas vestidas com os mais diversos trajes. Talvez uma forma de não tornar tudo tão realista ou até mesmo quebrar um pouco o sentimento de empatia que acabamos tendo com os personagens. Além de que todos se comunicam através de uma linguagem não compreensível e grunhidos variados.

Enfrente o chefão do andar

A jogabilidade no modo exploração é basicamente um point ‘n click adventure, mas com movimentação feita através do analógico esquerdo, enquanto que o direito serve para escolher o ponto de interação e o botão A funciona como a ação de interagir com o objeto ou pessoa. Todas as ações executadas em Beholder 2 consomem seu tempo, o qual fica aparecendo no canto superior direito da tela juntamente ao dinheiro e pontos de influência.

No “modo trabalho”, o jogo consome alguma porção de seu tempo para resolver situações onde pessoas vem até sua cabine de atendimento. Neste momento, é bastante recomendado ler o que cada departamento e solução realmente faz, e é necessário dizer que neste ponto Beholder 2 consegue dar um show através de suas mecânicas inspiradas em Papers, Please. Todas as pistas necessárias para direcionar os atendidos para o local certo são descritas com bastante precisão, causando um sentimento de culpa no jogador quando este erra algum pedido. A cada acerto você é recompensado com uma quantia em dinheiro. Após um número estabelecido de meta de acertos ser cumprido, o jogo presenteia com alguns pontos de influência – os quais não são muito, mas ajudam.

Gerencie os pedidos

Trabalho e conversação

Evan deve conciliar seu tempo recebido todos os dias pela manhã – cerca de 9h para consumo – entre ações que o farão concluir ou apenas direcionar para o fim de uma tarefa recebida, e as contas a pagar de seu apartamento que chegam diariamente e possuem uma data de vencimento. As tarefas mencionadas funcionam como uma fórmula rápida de se adquirir dinheiro e pontos de influência. Além disso, o protagonista precisa criar relacionamentos com os colegas de trabalho para descobrir mais sobre eles, seja para receber missões e ajudá-los com algum objetivo ou até mesmo para se livrar da vida de qualquer um deles.

Pois é, apesar dos visuais fofinhos e ao mesmo tempo dark, Beholder 2 não mede esforços ao apresentar cenas polêmicas como agressão à mulheres e tiros que jorram sangue da vítima atingida, enquanto multidões assistem e aplaudem o ato.

Com o avançar no jogo, Evan vai subindo de andar e, consequentemente, em sua carreira no governo. E cabe ao jogador decidir se o protagonista sucumbirá ou não às pequenas vantagens corruptas que são oferecidas ao longo do enredo. O jogo oferece muitas vertentes de escolhas, e geralmente é possível escolher o caminho mais fácil, porém antiético, ou o mais complicado que o levará ao topo com a consciência quase limpa.

Contação de histórias

Um grande problema que tenho com a maioria dos jogos com foco na história é a forma de contar o enredo ao jogador. É bem comum receber linhas e mais linhas de texto na sua cara quando a equipe de desenvolvimento de algum título não possui a habilidade suficiente para cativar quem está jogando, e nem culpo quem decide tomar este caminho.

Realmente contar histórias é algo bastante difícil, e você precisa entender com qual tipo de público está lidando e se quer agradar ao segmento X ou Y. Bom, Beholder 2 é uma obra-prima quando se trata de storytelling. O game sabe muito bem fornecer pedaços desta história em porções constantes e pequenas, instigando sempre o jogador a querer saber mais. Os diálogos não são longos, e existe sempre algo relevante que revela a personalidade de cada NPC registrado em seu caderninho.

"Hail to the leader!"

Os assuntos sobre os quais você pode conversar também com os personagens sempre possuem algum propósito, seja para construir algo relacionamento a fim de levar vantagem sobre a pessoa ou realizar alguma tarefa que ela lhe solicitou. Beholder 2 é uma obra tão bem construída em sua narrativa que provavelmente causa inveja em muitos games AAA que obrigam o jogador a sentar e assistir 10 minutos de uma cutscene.

O jogo tem cenas de conspiração, humilhação, tragédia e autoritarismo absoluto, tornando a história uma grande âncora para causar sentimentos de inconformidade em quem está jogando. É bem difícil colocar algum defeito em seu enredo, sinceramente. Além de tudo isso que foi dito, ainda existem vários finais, e o protagonista pode morrer a qualquer momento caso tome alguma decisão que comprometa a sua vida. Sim, atitudes rebeldes em um governo assim possuem consequências.

O que pode incomodar

Apesar de tantos positivos, Beholder 2 não é perfeito, e pode causar uma irritação em certos jogadores. Acontece que nem tudo se desenvolve tão rapidamente, causando uma sensação mais lenta de sensação e recompensa do que o normal. Digo isso na questão do dinheiro e pontos de influência, já que o seu trabalho diário resulta em pouco dinheiro e tarefas que fornecem mais estes dois são as que testam justamente o caráter do jogador. Por isso, existe uma leve tendência das mecânicas como um todo de te tornar alguém que optará pelo lado corrupto da coisa. Não é um problema para mim, mas vale a pena ressaltar essa influência que o jogo exerce. Ao mesmo tempo que acho bom, pois reflete a realidade, onde o jeito mais fácil normalmente é o imoral entre as opções disponíveis.

Também há um perigo da mecânica de atendimento aos cidadãos cair na repetição, o que certamente causará frustração e uma sensação de que está tudo sendo arrastado. O objetivo final também traz consigo uma tarefa bem parecida, que é eliminar concorrentes, que almejam o mesmo que você, e ser promovido para subir de andar.

Algo que me deixou um bolado foi a forma como é executada uma conversa. Porque é necessário apertar o botão A para ativar o menu de respostas, e a sensação de imprecisão na seleção destas mesma resposta é constante.

Sua vida em risco

Não existe um feedback visual tão claro, você não tem certeza muitas vezes de qual opção selecionou por causa da sutileza escolhida ao diferenciar as linhas de resposta: a escolhida fica levemente maior do que as outras. E, caso você escolher a resposta incorreta ou indesejada, será obrigado a ver as linhas de diálogos padrão para aquela opção novamente. É inexistente também uma forma de sair de um diálogo apenas pressionando o botão B de cancelar, o que obriga sempre a escolhermos a opção que o encerrará. São coisas que podem ser corrigidas com um patch de atualização futuro, e não atrapalham necessariamente a jogabilidade, mas apenas incomodam.

Por fim, a forma escolhida para direcionar seu cursos de interação e, de fato, interagir com o objeto ou NPC é malfeita. Você precisa ter basicamente dois polegares para ter a precisão máxima, já que o direcionamento é feito com o análogico direito e a interação com o A, e não existe como remapear os comandos. É necessário empurrar o análogico pra direção escolhida, soltar e então apertar o botão A, o que às vezes irrita caso dois objetos ou pessoas estejam muito próximos.

Escolha qual caminho tomar

Beholder 2 é um jogo incrível e que vale totalmente a pena. Sua forma de mexer com as emoções e sentimentos de justiça do jogador é bastante assertiva, entregando uma experiência que levará muitas horas para ser concluída, mas que não deixa de forma algum o ritmo cair ou a curiosidade pela conclusão do enredo ir embora. Seus diversos finais também são um ponto alto no fator replay, já que é possível salvar o jogo a qualquer momento sem precisar necessariamente passar por tudo de novo apenas para ver um término diferente. E aí, você quer chegar ao topo como: da forma difícil e menos corrupta, ou eliminando todos que estiverem em seu caminho?

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Beholder 2

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Enredo incrível
  • Mecânica de escolhas
  • Diálogos interessantes
  • Personagens cativam

Contras

  • Progresso arrastado
  • Sem português
  • Repetitivo com o tempo