Capa Demon Slayer

Review Demon Slayer: The Hinokami Chronicles (Xbox Series X) – Lindo, porém ordinário

Como explicar um fenômeno cultural dentro do mundo pop? Mesmo uma boa história, personagens cativantes, uma direção artística acima da média e roteiros bem arrumados não criam fenômenos, e é difícil dizer o que fez Demon Slayer tão popular, mas ele segue essa fórmula e tem tudo que é preciso para se tornar uma febre.

Impulsionado pela série animada, o mangá criado por Koyoharu Gotoge alcançou uma popularidade estratosférica, quebrou a barreira do Japão e tornou-se algo conhecido e aclamado mundialmente. A obra é, de fato, quebradora de recordes absurdos: o mangá conseguiu passar o todo-poderoso One Piece em vendas semanais e o filme de longa-metragem superou A Viagem de Chihiro, dentro e fora do Japão, apesar da pandemia. 

Com um sucesso avassalador, é claro que a obra viria ao mundo dos games em algum momento. Demon Slayer: The Hinokami Chronicles chegou a quase todas as plataformas disponíveis com o objetivo de continuar o legado de êxito que a franquia conquistou nas outras mídias. Produzido pela Cyberconnect2, que ficou famosa pelos ótimos jogos baseados em Naruto, o jogo tem tudo para divertir os fãs do Esquadrão de Exterminadores de Demônios.

Desenvolvimento: CyberConnect2
Distribuição: SEGA
Jogadores: 1-2 (local) e 1-2 (online)
Gênero: Luta, Aventura
Classificação: 16
Português: Não
Plataforma: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, PC
Duração: 7 horas (Campanha)/14 horas (100%)

Infortúnio 

Tanjiro, o protagonista

Demon Slayer: The Hinokami Chronicles começa da mesma forma que o mangá, ou anime. Ele segue a jornada de Tanjiro Kamado: um jovem comum, japonês e do Período Taishō (1912 até 1926), que, numa surpresa nada agradável, tem sua casa invadida por um demônio que mata toda sua família, menos sua irmã Nezuko Kamado, que é transformada em um desses seres diabólicos. 

A partir de então, o jovem camponês se joga numa empreitada em busca de descobrir a cura para sua pequena irmã. Ele acaba entrando em uma corporação, chamada de Esquadrão de Exterminadores de Demônios. No entanto, para entrar nessa força especial de combate, ele passa por um árduo treinamento com um senhor velho e solitário, que o ensina as bases das técnicas usadas para caçar essas criaturas. 

O mangá já tem seu final definido, mesmo assim o jogo de Demon Slayer não cobre toda a história que podemos ver nos quadrinhos. Diferentemente do game de Berserk, os produtores não se atreveram a avançar para além do que encontramos no anime. A história no game se detém exatamente onde o enredo da animação acaba, e isso pode frustrar um bocado os fãs que já leram toda a obra. Contudo, é bom ver como o estilo de arte, que fez com que a animação se tornasse tão ovacionada, está presente. Em alguns momentos é difícil dizer se estamos vendo o jogo, assistindo pedaços da série animada ou mesmo apreciando imagens do filme em 4K. 

Caçando demônios

No estilo Naruto Ultimate Ninja

A desenvolvedora desse jogo de Demon Slayer é conhecida pelos fãs de anime por ter trabalhado na adaptação de outras obras japonesas para a mídia dos games, sendo a série de Naruto Ultimate Ninja a qual se tornou mais popular, com um combate em uma arena grande 3D, no qual era possível trocar o personagem, executar combos e habilidades vendeu os jogos do ninja loiro para uma tonelada de pessoas ao redor do mundo. The Hinokami Chronicles, porta um pesado DNA dos produtos Ultimate Ninja da franquia Naruto, e isso é inegável.

Aqueles que não estão inseridos no mundo das animações nipônicas podem, muito bem, achar que se trata de um “Naruto Novo” vendo cenas da gameplay de Demon Slayer, e isso não é ruim, mas só foi um bocado mal trabalhado, igualmente aos jogos de Naruto. Temos batalhas em grandes arenas 3D nas quais podemos utilizar um golpe especial (no botão Y) e um golpe chamado de Ultimate Art, o qual só pode ser utilizado quando temos energia o bastante. Não existe a possibilidade de criar combos diferentes, como em outros jogos do gênero, o que deixa o game com uma vibe “esmague um botão em uma hora exata”. Apesar dos problemas, a jogabilidade consegue nos divertir por algumas horas, mas, com o tempo, até os belos ataques ultimate se tornam chatos de assistir.

Belas animações e falta de personagens

A Cyberconnect2 teve a oportunidade de colocar personagens jogáveis interessantes no game, contudo, não o fez. Demon Slayer tem pouquíssimos personagens (ao todo são 18 modelos jogáveis), sendo que 8 deles são somente versões dos personagens principais. Felizmente, mais dois personagens, desta vez vilões, foram anunciados para um DLC gratuito, completando duas dezenas de personagens jogáveis (incluindo os que são apenas versões). Cada personagem possui pelo menos uma skin, que, em sua maioria, não muda muita coisa visualmente. 

Vale citar também que muitos personagens têm movesets, ou seja, movimento semelhante ao de outros, o que estraga ainda mais a quantidade de heróis disponíveis para a jogatina. Não é difícil dizer que, nesse sentido, o título é realmente decepcionante. 

Os caminhos em busca da cura 

Modo Historia repetitivo e chato

Como dito acima, o jogo nos leva pela história completa do anime e, dada a beleza de The Hinokami Chronicles, temos a impressão de realmente estarmos vivendo na animação. No modo História, passamos por oito capítulos recheados de cutscenes e batalhas. Para desbloquear os personagens, é preciso passar por esses oito capítulos. Dentro desse modo, além das batalhas, temos algo muito parecido com um RPG mal feito, e nele controlamos Tanjiro e seus amigos por mapas de cidades, mansões ou montanhas, tendo que obter Kimetsu Points – que servem para comprar recompensas ou completar sidequests). Tanjiro se move como uma lesma, somente para dar a impressão que os lugares são enormes, e isso deixa tudo muito chato. Os jogadores menos interessados em conquistas irão, com certeza, direto para a tarefa principal e, mesmo assim, terão que bater um ou dois demônios fracos que vão aparecer no caminho e só servem para deixar tudo ainda mais entediante. 

Os combates do modo história em Demon Slayer são todos bastante parecidos, se assemelham a boss fights. É preciso saber desviar dos golpes dos inimigos e atacar no momento certo. Em vários momentos não parece que estamos num game de luta, dada a natureza mecânica e previsível das ações da CPU no modo história. O que me surpreendeu positivamente foi a fidelidade ao anime, e até mesmo músicas icônicas foram usadas nos mesmos momentos da narrativa, deixando a atmosfera bem bacana.

Modo Versus é interessante e entediante.

O título é um jeito válido daqueles que não conhecem Demon Slayer descobrirem, com precisão, o enredo contado na série animada. Mas, sendo sincero, é o pior jeito para isso, pois o anime está disponível, é brilhante e não te obriga a vagar por uma cidade para desbloquear o próximo capítulo. 

Um dos modos do game é o modo Versus, que pode ser jogado online, contra CPU ou num multiplayer local. Ele é divertido, mas cansa muito rápido, dada a escassez tanto de personagens jogáveis quanto cenários. Para aqueles que querem o competitivo em linha, infelizmente, não terão boas experiências aqui. Durante os matches online, sofremos com lag, travamentos, quedas e o tempo de resposta (chamado input lag) é muito grande, deixando tudo muito confuso e quase impossível de jogar. 

Por último, dispomos do Training Mode, no qual temos a oportunidade de treinar nossas habilidades em desafios que nos recompensam com Kimetsu Points. Esse modo é divertido e, querendo ou não, nos ensina as mecânicas. 

O respiro final 

Sendo bonito, com vozes originais e trilha sonora decente, temos aqui um jeito okay de descobrir o enredo do fenômeno chamado Demon Slayer, porém, num produto muito fraco. Não sei se ele foi prejudicado pela pandemia ou se foi feito às pressas, por conta dos acionistas, mas a verdade é que Demon Slayer: The Hinokami Chronicles é uma daquelas obras feitas somente para ganhar dinheiro dos fãs, sem nenhuma nova boa ideia ou um algo a mais. É um game totalmente ordinário, que pode nos divertir por algumas poucas horas, mas logo se torna enfadonho. 

O primeiro jogo da franquia Demon Slayer chegou aos consoles e ao PC como um golpe fraco e desajeitado e, infelizmente, não deve fazer jus ao sucesso da franquia. Contudo, ele pode sim agradar os fãs mais fervorosos do anime e, sem dúvida nenhuma, é muito bonito esteticamente. Se jogado num console de geração atual, como Series X ou PS5 numa TV 4K, você, possivelmente, terá a experiência mais bonita de Demon Slayer, mas, sinceramente, com todos esses fatores negativos, pode ser que nem assim valha a pena. 

Cópia de Xbox Series X cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Demon Slayer: The Hinokami Chronicles

6.5

Nota Final

6.5/10

Prós

  • Dubladores oficiais do anime
  • Estilo de arte igual a da série animada
  • Fácil de conseguir os 1000g no Xbox

Contras

  • Modo história com gameplay ridícula
  • Pouca variedade em personagens jogáveis
  • Poucas arenas e modos de jogo
  • Podia ir mais além no enredo