Indiana Jones and the Great Circle não é o primeiro título que tenta adaptar a franquia de filmes para os videogames, mas certamente é a melhor tentativa até agora, chegando a se comparar com a trilogia dos anos 80. O segredo dessa adaptação não está em uma gameplay transformadora mas sim nos detalhes: as formas como os personagens falam, os cenários, animais e quebra cabeças.
Desenvolvimento: MachineGames,Lucasfilm Games
Distribuição: Bethesda Softworks
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 16 anos (violência e drogas)
Português: Interface, dublagem e legendas
Plataformas: PS5, PC, Xbox Series X|S
Duração: 15 horas (campanha)/38 horas (100%)
Caçando relíquias perdidas

As escolhas de narrativa do jogo são miradas em nostalgia. Começar com uma recriação da primeira sequência de Os Caçadores da Arca Perdida é, em parte, desnecessário para esta história, mas mostra exatamente onde os criadores querem acertar. Outras sequências são cheias de referências que encaixam muito bem com os filmes e posiciona-o como igual.
O primeiro impacto que tive desde o anúncio está na perspectiva: Indiana Jones é jogado em primeira pessoa assim como os outros jogos da Machine Games, o que pode afastar jogadores em potencial, principalmente aqueles que têm problemas com enjoo e tontura com este tipo de câmera.

A desculpa para isso é que aumentaria a imersão, fazendo você se sentir como Indy, o que em certa parte é verdade, mas, ao mesmo tempo, a câmera muda para a terceira pessoa em certos momentos, como escaladas. Para mim, o real motivo é que isto separa Indiana Jones and the Great Circle de outros que se inspiraram na franquia por anos, como Uncharted e Tomb Raider, ambos jogados em terceira pessoa. Isso faz com que não tenhamos a sensação de que esse jogo não é só um Uncharted com skin de Indiana Jones.
Caras novas e reluzentes

O personagem principal está muito bem representado na aventura, apesar de não contar com o ator Harrison Ford no papel, e sim apenas sua imagem no modelo 3D. A performance de Troy Baker no papel é muito bem feita e não parece apenas uma imitação barata.
A apresentação da aventura principal é incrível, os personagens são muito bem feitos e contam com uma boa captura de movimentos faciais. Uma controvérsia do lançamento inicial é de que o jogo necessita de ray tracing mesmo nas configurações mais baixas, o que no lançamento para PC o tornou mal otimizado. O uso desta tecnologia é claro quando vemos certas cenas que lembram muito o uso de sombras na fotografia que é visto nos filmes, com a icônica silhueta do herói. No PS5, a performance está muito boa, rodando a 60 quadros com poucos momentos de quedas na taxa, sem uma seleção entre modos gráficos de performance ou fidelidade.
Os personagens coadjuvantes da trama são bem construídos. Como de costume, Indiana ganha uma companheira para essa aventura, Gina, que tem uma ótima introdução e desenvolvimento. Outros amigos de Indiana durante a jornada também são interessantes e os diálogos durante o as sequências são muito bem utilizados.
Tente achar tudo que conseguir

A estrutura é feita com áreas abertas, não exatamente um mundo aberto, mas em locais massivos. Essas áreas são extremamente detalhadas e cheias de mistérios, com diferentes itens para descobrir. O termo “collectathon” é usado para descrever essas situações, em que existe um mapa com vários colecionáveis diferentes para satisfazer um checklist.
A exploração também leva à descoberta das missões secundárias, que foram uma grande surpresa. Cada missão secundária é tão bem produzida e interessante quanto a história principal e me surpreende que sejam opcionais, já que elas enriquecem muito a mitologia contada.

Com áreas tão grandes, um dos grandes desafios é como o personagem se movimenta. Não há veículos ou outras ajudas do tipo, e a movimentação é feita apenas a pé e utilizando o famoso chicote que acompanha o protagonista.Existe um sistema de viagem rápida com placas que estão no cenário, que precisam ser achadas e são usadas para viajar entre locais no mapa – que é mostrado no livro que você sempre carrega. Mas como o foco está na exploração, em alguns momentos os grandes locais já estavam gravados na minha mente, me causando uma sensação de familiaridade enorme com o que antes era estranho.
Passe despercebido ou não

Um foco da exploração está na furtividade. Em todas as locações, existe um incentivo (e eu diria que em algumas fases, a obrigação) de se utilizar dessa ferramenta para atravessá-los. Este incentivo está presente na forma como vários itens estão espalhados no cenário: você precisa de ferramentas como pás, martelos ou vassouras, e até armas não convenientes como um mata-moscas, para desacordar os inimigos com apenas uma ação. O uso de disfarces para utilizar diferentes táticas de infiltração também é muito evocativo.

Na falha de uma abordagem silenciosa, o combate tem uma tendência a se desenrolar no mano a mano, com um sistema que combina esquivas e defesas em tempo certo para derrotar os adversários. Armas de fogo também aparecem, incluindo o clássico revólver, mas eu sinto que o uso delas não é recomendado, já que alertam soldados ao seu redor e dificultam a sua vida no geral.
Exclusividade e localização

O lançamento para PS5 é envolto em uma leve controvérsia, já que a produção foi feita por um estúdio que pertence à Microsoft Gaming – que tem um console próprio, o Xbox. A perda da exclusividade para um console de uma empresa rival, por conta principalmente das baixas vendas do Xbox Series S|X, agitou um pouco o público. Para mim, só existem vantagens para esta mudança, pois mais pessoas ganham acesso a um jogo incrível sem precisar comprar um hardware específico para isso, e eu gostaria que outras empresas também chegassem a essa mesma conclusão.
Entretanto, um aspecto que ainda incomoda em alguns títulos da Microsoft é a falta da seleção de idiomas, utilizando automaticamente o idioma nativo do seu console. Isso impede com que possamos ter, por exemplo, áudio em inglês mas com legendas em português. Eu aprecio bastante o esforço do estúdio em oferecer uma dublagem em português, mas gostaria que houvesse ao menos uma forma de escolher sem que fosse necessário alterar o idioma do sistema.
Uma aventura digna do nome
Indiana Jones and the Great Circle é, sem dúvidas, um título essencial para quem curte o gênero de aventura, fazendo jus ao seu material original. Talvez uma das únicas falhas que eu apontaria seria o longo tempo de gameplay, mas com o alto nível de carinho empregado nas missões secundárias, fica difícil não recomendar que você passe pelas 25 horas necessárias para completar o jogo em sua totalidade.
Cópia de Playstation 5 cedida pelos produtores
Revisão: Júlio Pinheiro