Resident Evil Village Capa

Review Resident Evil Village (Xbox Series S) – Perfeitamente equilibrado

Lançado um tempo até que relativamente curto após seu anúncio, o mundo inteiro teve o privilégio recente de experimentar a mais nova obra da Capcom: Resident Evil Village. Depois da franquia receber games de altíssima qualidade, a expectativa para o oitavo jogo era alta e, digo por mim mesmo, conforme esse meu texto aqui.

Resident Evil Village foi acompanhado de um interessantíssimo trabalho de marketing, também comentado no link acima, e somado ao fato de que todo novo Resident Evil já gera altas expectativas, o hype foi levado às alturas. Mas, sendo um lançamento tão aguardado pelas suas miríades de fãs, a sequência de Resident Evil 7 alcançou aquilo que prometeu? 

Desenvolvimento: Capcom
Distribuição: Capcom
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror, Ação, Tiro
Classificação: 18 anos
Português: Legendas, interface e dublagem
Plataformas: PC, Xbox One, Xbox Series X/S, PS4, PS5
Duração: 10 horas (campanha)/35 horas (100%)

Vila estranha com gente esquisita

As primeiras telas do jogo mostram o quão belo ele é.

Um estadunidense jovem-adulto, com penteado marcante, viaja até uma pequena vila localizada em um canto esquecido da Europa para resgatar uma garota que foi sequestrada por um culto com propósitos escusos. Lá, ele é recepcionado por habitantes locais e invade um castelo para alcançar seus objetivos. Além de enfrentar os moradores e algumas criaturas bizarras, ele é acompanhado por um misterioso mercador que o ajuda em sua jornada enquanto deve passar pelos desafios que encontra. E não, não estou falando de Resident Evil 4. As semelhanças com o quarto jogo da franquia não param por aí, e são tantas que muitas delas ficarão de fora desse texto.

Mia não sabe o que a espera nessa noite.

Logo no começo, a pacata casa dos Winters (Ethan e Mia, de RE7) é invadida pela equipe de elite de Chris Redfield, momento em que o suposto herói assassina Mia Winters a sangue frio, na frente de seu marido e filha, para depois sequestrá-los. Logo depois, Ethan Winters aparece misteriosamente num local chamado Vila e descobre que é possível resgatar sua filha Rosemary (ou só Rose, como eles a chamam aqui). Passar disso é considerado spoiler.

Chris Redfield surpreende a todos com suas ações.

O enredo de Resident Evil Village é brilhante. Ele possui um crescimento constante, sem diminuir o nível em nenhuma parte, isso sem levar em consideração os momentos que o próprio jogo te dá para explorar, descansar sua mente ou simplesmente contemplar a obra. Mas, até nessas horas o game possui seu brilho, pois os triunfos alcançados pela exploração também fazem parte do ritmo constante da história. O crescente enredo está muito bem atrelado à jogabilidade, dando uma sensação constante de evolução da própria história, do aprendizado de Ethan e do jogador, de uma forma que nenhum deles é desrespeitado.

Entretanto, Resident Evil Village cresce tanto que chega um momento em que é necessário recuar um pouco, como o ditado de “dar passo para trás a fim de pegar impulso e ir mais longe”. Porém, ele faz exatamente o contrário: utilizando aquilo que já apresentou, a história arrebata tudo para trás e dá um salto enorme, matando tudo aquilo que poderia ser muito melhor aproveitado em uma sequência ou até spin-off, jogando fora aquela boa sensação de “quero mais”. Apesar de tudo, isso ocorre de uma forma interessantemente contextual, gerando momentos divertidíssimos de pura ação sem perder o foco no horror de sobrevivência.

A estranha vila está cercada de grandes construções, inclusive o castelo.

Aqui, Ethan deixou de ser o próprio jogador, que foi a proposta do Resident Evil anterior, para ganhar personalidade e individualidade, algo muito bem vindo para os propósitos de Village, que explora não só ele, mas a família Winters como um todo. E eles não são os únicos a receber atenção, pois os antagonistas também recebem um merecido destaque. Esse foco, entretanto, é tão bom que dá uma sensação de “quero mais” por alguns momentos, mas infelizmente acaba rápido. 

Falando um pouco mais dos antagonistas, Mãe Miranda, a líder da vila e do culto, é acompanhada de quatro Lordes que a ajudam: Alcina Dimitrescu, Karl Heisenberg, Donna Beneviento e Salvatore Moreau. Todos eles, inclusive Miranda, têm sua personalidade bem explorada narrativamente, e é tão legal que dá vontade de conhecer mais ainda sobre cada um.

Ethan é recepcionado por criaturas estranhas.

No fim das contas, a história faz parte de um ciclo bem interessante, deixando várias e várias possibilidades para o futuro sem desrespeitar o que começou antes e o que iniciou-se nele mesmo, e até mesmo possuindo vários ganchos que atiçam o jogador para o que pode a vir acontecer na franquia. O saldo é super positivo, e a única coisa triste é que a história acaba.

E pro inferno ele foi, pela segunda vez

Village possui muitos momentos inspirados em Resident Evil 4.

Mais do que todos os outros da franquia, provavelmente, a jogabilidade de Village é muito contextual à sua história, como dito acima. Ethan ainda é um civil sem noção de combate, com um amadorismo bem visível, mas também é possível notar sua evolução de um jogo para outro – principalmente na jogabilidade.

Village continua na mesma pegada do anterior, Survival Horror em primeira pessoa. Ainda tem inspirações do sétimo jogo, como a defesa, armas cadenciadas, inimigos desengonçados e a cura como uma garrafinha, por exemplo. Mas, as semelhanças param por aí, pois Resident Evil Village possui uma ambientação e proposta bem diferentes do anterior, isso sem perder a essência daquilo que o torna um Resident Evil (comentado no meu texto anterior também).

Ethan cresceu, já é um pai de família e deve protegê-la a qualquer custo, motivação que dá a ele mais forças para continuar, pois, na dificuldade normal, em comparação ao seu antecessor, Ethan aguenta mais ataques, sua defesa é mais eficiente e ele até consegue dar socos e empurrões. Mas essa evolução acompanha também os inimigos, que são mais agressivos e aparecem em maior quantidade, fora o fato de que existem algumas criaturas gigantes com armas enormes.

Village possui ótimos momentos de fuga.

Além de ter se expandido muito na história, Village fez com que sua jogabilidade também crescesse. A exploração aqui é ótima, auxiliada por algumas indicações muito bem-vindas no mapa, que também está diferente e possui ótima visualização. Existe backtracking, ainda que pouco, tanto para o avanço da história como para a simples exploração. E, falando dela, as idas e vindas são muito interessantes, pois locais já visitados possuem novos desafios, como mini chefes e/ou novas hordas de monstros.

Falando assim, dá a entender que o jogo é pura ação, com vários inimigos ao mesmo tempo. Mas, não, Resident Evil Village é composto por segmentos variados, que também são contextuais. Cada segmento possui um tom diferente, mas não de uma forma a ponto de parecerem produtos distintos. Existem momentos de terror, de fuga, de ação, de exploração e de tudo isso junto.

É possivel ver as criaturas espreitando.

Village tem um ótimo equilíbrio em termos de ação e tensão e, por mais que exista tempo para a variedade, o jogador é acompanhado por um constante sentimento de aflição, mesmo que tenha as mais fortes armas e bastante munição. Ou seja, o maior companheiro aqui é o sentimento de angústia antes de abrir qualquer porta, pois nunca se sabe quando alguma criatura irá aparecer.

O jogo possui criaturas variadas.

Resident Evil Village possui uma área central que interliga todos os lugares, funcionando como um hub. É o local em que ocorre a maioria da exploração do game e idas e vindas com novos itens, que liberam novos acessos. Mas a jogabilidade não se resume a isso, pois existe uma questão minuciosa de administração de recursos.

Um senhor de alta classe com dinheiro na mão

As armas, assim como muitos outros itens, são belíssimos.

Ethan possui um arsenal invejável, digno de Leon S. Kennedy em suas aventuras pela Espanha. Mas, é necessário cuidar de suas posses, pois não são em todas as ocasiões que ele encontra munição pelo jogo: é necessário criá-las. 

Dessa vez, o sistema de fabricação de itens é primordial, pois é muito mais fácil encontrar a matéria prima do que o produto final e, obviamente, munições de armas mais fortes consomem mais itens, então é necessário que o jogador fique atento não somente às suas preferências, mas também às necessidades do momento.

O simpático e agradável Duque.

Os inimigos, quando morrem, deixam alguns itens, em uma taxa de probabilidade que alterna conforme a jogabilidade e necessidade do jogador, semelhantemente ao que acontece em Resident Evil 4: caso você esteja com pouca vida e sem item de cura, as probabilidades de um inimigo deixar alguma coisa para recuperar as energias são maiores, e o mesmo acontece com a munição. Além de recursos, inimigos deixam outras coisas ao morrer, como dinheiro e tesouros. 

A verba acumulada no game pode ser utilizada no Empório do Duque, administrado pelo simpático mercador que se apresenta somente como Duque. É impossível não compará-lo ao mercador do quarto jogo da franquia, mas ambos são marcantes às suas próprias maneiras. Enquanto o Mercador de Resident Evil 4 se destacava em suas falas e sotaque exagerado, o Duque se sobressai devido a sua grande simpatia e utilidade, comparada ao seu próprio tamanho.

As áreas internas e externas do jogo são um primor.

No Empório do Duque é possível vender seus itens e tesouros, comprar munição e equipamentos, cura, explosivos, armas e aprimorar as que Ethan já possui. O fato de melhorar o armamento é muito bem vindo e realmente ajuda na campanha, pois existe uma dificuldade crescente nela conforme o fim se aproxima.

Além disso, uma das coisas que o Duque aprecia é uma boa comida, então ele pede que Ethan entregue o resultado de suas caçadas para que, assim, ele possa preparar algumas receitas especiais que, além de agradar seus paladares, dá algumas melhorias definitivas ao herói, como aumento de vida e defesa. No fim das contas, além de ter uma simpatia de seu próprio tamanho, o Duque é um apreciador de comidas diferentes, fora o fato de que ele sempre fala a importância da boa alimentação.

Mas que Vila linda

Resident Evil Village possui cenários de cair o queixo.

A Reach for the Moon Engine, conhecida mais como RE Engine, tem sido vastamente utilizada pela Capcom desde seus primeiros testes com a demonstração Kitchen, um dos preparativos para o Resident Evil 7. Na época, por mais que os objetos e cenários apresentassem um nível absurdo de perfeição, as pessoas, principalmente sua movimentação e suas feições, sempre causavam uma grande estranheza, sem naturalidade nenhuma.

Conforme os anos foram se passando, os desenvolvedores e designers aprenderam cada vez mais a utilizar o motor gráfico. Com 2 anos de diferença, Resident Evil 2 Remake já apresentava uma grande melhoria, sendo que evolui a cada novo jogo. Atualmente, a empresa já está bem mais acostumada com a engine e produz resultados de uma qualidade imensa. Seu ápice é visto em Resident Evil Village.

As feições dos personagens estão mais naturais do que nunca.

Por mais que os jogadores estejam habituados a verem jogos cada vez mais bonitos, cada um à sua maneira, no quesito de foto-realismo Village é, talvez, o mais belo. Toda a ambientação, qualidade de texturas, iluminação, ambientes internos e externos, representam uma perfeição de cair o queixo.

Em relação aos ambientes externos, é perceptível uma fuga às pressas em cada lugar, tanto no posicionamento dos objetos quanto na destruição do cenário, principalmente nas casas do vilarejo. A distribuição das coisas consegue representar o que cada morador estava fazendo antes de ser necessário fugir.

Quando se trata de edificações, como o Castelo, é notável o trabalho feito de forma minuciosa junto a arquitetos especializados em construções épicas medievais, pois existe um nível absurdo de detalhamento em todos os cantos.

Cada detalhe é um destaque a parte nos cenários do jogo.

Cada escada, cada porta, janela, balaústre, luz, parede, gárgula, enfim, os mais variados objetos que compõem uma construção desse nível foram magistralmente feitos por uma equipe que, definitivamente, entende o que estava fazendo. Realmente, é difícil encontrar palavras para descrever a beleza daquele lugar.

Como se não bastasse a perfeição no que se trata de ambientação e cenários, os personagens, tanto humanos como armas biológicas, também estão no mesmo nível. As feições e a movimentação dos personagens dão uma impressão de naturalidade. A captura de movimentos feita aqui, somado ao fato dos desenvolvedores já estarem habituados ao motor gráfico, resulta em personagens cada vez mais vivos, deixando longe a sensação de Vale da Estranheza que o sétimo jogo causava.

Em relação ao trabalho de áudio de Resident Evil Village, todo o design de som é brilhante. A experiência de jogar com fones de ouvido de uma boa qualidade impressiona, principalmente com o Surround e Alcance Amplo ligados, pois assim é possível ouvir todos os sons e saber de onde estão vindo, mesmo que seja de baixo ou de cima, até para um simples estéreo. 

A dublagem está ótima, é perceptível que foi feita de uma forma bem séria.

A dublagem também está ótima, tanto em inglês como em português, assim como o sons das criaturas, com destaque para todo o trabalho sonoro de um certo momento de terror – só quem jogou sabe.

Em relação à trilha sonora, Resident Evil Village possui músicas extremamente contextuais que encaixam super bem aos momentos do jogo e brilham até mesmo fora, apesar de possuir algumas composições que só funcionam dentro do game. Longe de ser a obra prima apresentada em Resident Evil: Revelations, a trilha aqui possui seu brilho próprio sem perder em nada para as outras obras musicais da franquia.

Existe razão nas coisas feitas pelo coração

Village é super equilibrado entre Ação e Terror.

Resident Evil Village é, no geral, perfeito. Para mim, alcançou o primeiro lugar na série. Ele acerta em tudo que tenta fazer, e faz ainda mais, superando algumas expectativas e, quando chega em um mau momento para a história, torna-se um ótimo momento para a jogabilidade. É o game mais equilibrado da franquia e, quiçá, da minha vida inteira.

Não existe um lugar que dê preguiça de continuar avançando, pois não existem momentos chatos por aqui. A perfeição é atingida ao mesclar terror com ação em doses corretas, dando ao jogador as possibilidades certas nos momentos ideais.

A misteriosa fábrica possui uma ambientação assustadora sem perder o ritmo.

Em relação às questões artísticas, tudo acaba sendo um show à parte. A ambientação visual e sonora é capaz de levar o jogador a ser o próprio Ethan, talvez mais do que o Resident Evil anterior – em que essa era a proposta. 

Para fechar com chave de ouro – e também por estarem faltando sinônimos da palavra “perfeito” e derivados -, o pós-game é divertidíssimo. Além de existir o muito bem-vindo modo Mercenários, as possibilidades alcançadas depois do encerramento são interessantíssimas, além de que elevam o fator replay a algo próximo do visto no quarto jogo da franquia.

Ainda existem ambientes fechados.

Recomendo-o para todos os amantes de games em geral, principalmente aos fãs da franquia, pois Village acrescenta muito em seu próprio universo. Recomendo-o também para quem gosta de ação, suspense e terror. Na verdade, todas as pessoas que têm noção de videogame devem jogar Resident Evil Village, pois ele é capaz de agradar a todos os públicos. 

Encerro, então, com a célebre frase de Thanos no UCM: “perfeitamente equilibrado, como todas as coisas devem ser”.

Cópia de Xbox Series X/S cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Resident Evil Village

10

Nota final

10.0/10

Prós

  • Equilíbrio perfeito de ação e terror
  • História com ótimo fechamento e ganchos para o futuro
  • Pós game que mantém o jogo vivo

Contras

  • Decisões dúbias para alguns momentos da história