Não é novidade para ninguém que eu não sou um jogador assíduo de jogos de tiro em primeira pessoa. Apesar de gostar muito de jogos com temáticas relacionadas a guerras, a saturação do gênero no mercado durante a sétima geração de consoles (PS3, Xbox 360 e Wii), deixou um gosto de mesmice em minha boca. Jogos lançados pareciam cópias uns dos outros, com campanhas curtas e multiplayer baseado em mata-mata entre equipes.
Minha visão mudou apenas em 2013, quando conheci o terceiro game da franquia Sniper: Ghost Warrior. Trazendo uma gameplay alinhada com realismo tático e diversas opções para resolução de uma missão, ele atraiu minha atenção e, a cada novo lançamento, uma pequena chama de esperança acendia dentro de mim. Era quase como se eu esperasse que mais produtos assim fossem mostrados ao mundo. E eu sei que é impossível, pois comparado a franquias como Battlefield e Call of Duty, Sniper: Ghost Warrior é apenas uma formiga incapaz de fazer algo relativamente grande que mudará a indústria. Porém, isso não impede que Sniper: Ghost Warrior Contracts 2 encha os olhos de todos que se permitam experienciar as sensações maravilhosas que o título proporciona.
Desenvolvimento: CI Games
Distribuição: CI Games
Jogadores: 1 (local)
Gêneros: Ação, tiro
Classificação: 18 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, PC
Duração: 7.5 horas (campanha)/15 horas (100%)
A viúva vingativa
O enredo de Sniper: Ghost Warrior Contracts 2 parece ter sido criado de última hora. Assumimos o papel de Raven, um experiente atirador de elite que sempre é enviado para cumprir as mais difíceis e arriscadas missões. Devemos caçar e eliminar a viúva do ex-ditador da região de Kuamar, um território localizado entre a Síria e o Líbano, que prometeu vingança após a morte de seu marido.
Repleto de clichês e diálogos de qualidade duvidosa, Sniper: Ghost Warrior Contracts 2 peca no desenvolvimento dos personagens que, com exceção de Raven, são bonecos com ausência total de carisma e sentimentos. Isso não significa que nosso personagem se torne um memorável protagonista do mundo dos games. Podemos dizer que ele foi 10% melhor aproveitado que os demais.
Armamento pesado e gadgets sofisticados
Antes de iniciarmos uma nova missão, devemos selecionar quais equipamentos e armas serão utilizados no mapa. Um rifle de precisão e armas secundárias equipadas com abafadores de ruídos são indispensáveis para qualquer atirador de elite que se preze. Com a ajuda de miras e acessórios especiais, acertar um tiro à longa distância parece brincadeira de criança.
Ao todo, temos 8 rifles de precisão disponíveis. Alguns requerem pontos de experiência e dinheiro para serem desbloqueados. Cada rifle possui vantagens e desvantagens no campo de batalha. O RIIHIMAKI M10, por exemplo, possui uma taxa de disparo maior que os demais, porém, seus acessórios são caros. Já o UK 50 tem uma taxa de disparo inferior aos demais e seu alcance é o maior entre as opções de longo alcance. As mesmas regras aplicam-se às armas secundárias, a diferença é que sua utilização é quase inexistente, caso o jogador opte por enfrentar as missões de maneira silenciosa.
Temos à nossa disposição gadgets de infiltração como o drone Muav ‘Falcon’, que nos permite identificar inimigos, distraí-los e até mesmo envenená-los após alguns upgrades. Não são apenas equipamentos furtivos que podem ser utilizados, caso não queiramos passar despercebido pelos guardas, e é possível pegar algumas granadas de fragmentação, uma boa quantidade de explosivos C4 e fazer uma festa de explosões dentro do mapa. Mas claro que contratos concluídos em modo furtivo rendem um pagamento maior no final da missão.
A satisfação de acertar um tiro na cabeça dos inimigos é elevada ao máximo durante as belíssimas trajetórias de bala. Quando atiramos com o rifle de precisão em um alvo distante, acompanhamos todo o caminho até o impacto com um maravilhoso slow motion. Por conta dos detalhes, é possível que pessoas sensíveis se sintam desconfortáveis com tamanha violência gráfica. Braços arrancados e cabeças explodindo são comuns após um disparo. A física é impecável, e o vento impacta a trajetória dos disparos, objetos lançados simulam perfeitamente o que aconteceria na vida real. Tudo isso, somado aos incríveis efeitos sonoros, enriquecem a jogatina.
Impactos negativos
Infelizmente, nem tudo são flores em Sniper: Ghost Warrior Contracts 2. A campanha, apesar de contar com mapas extensos e diversas possibilidades de conclusão dos objetivos, é muito curta. Além disso, a inteligência artificial deixa a desejar. Alguns inimigos não se protegem direito, ficando expostos para um tiro à longa distância. Eles se aglomeram e muitas vezes ignoram corpos próximos, o que possibilita que pilhas de inimigos sejam eliminadas em um único lugar.
A ambientação, apesar de variada e rica em detalhes gráficos, é bem morta. Senti falta da presença de algumas espécies naturais da região, como cervos e algumas espécies de pequenos mamíferos. Exploramos um mapa gigantesco, repleto de árvores, rios, lagos e cavernas, porém, somente algumas aves podem ser avistadas no horizonte.
Outro ponto a ser observado é o dano de queda não estar corretamente programado. Em alguns momentos, um salto de 5 metros pode deixar o jogador com a saúde comprometida, já em outros saltos maiores, nenhum dano é sofrido. Não é um erro que atrapalha tanto, mas o deslocamento rápido pode ser comprometido.
Experiência incompleta
Sniper: Ghost Warrior Contracts 2 tem diversos pontos positivos que o colocam como uma boa opção para os fãs de jogos stealth. Mas, a curta duração da campanha pode afastar uma boa parcela do público, pois ela é exclusivamente single player. Nem mesmo missões cooperativas existem. Além disso, a sensação de que algo está faltando é grande, principalmente para quem teve contato com os títulos anteriores. Os desafios e objetivos secundários são repetitivos e não me deram vontade de completá-los, pois as recompensas oferecidas não seriam tão relevantes para a compra de equipamentos melhores.
Por fim, o novo título da série, lançado pela CI Games, parece mais um pacote de expansão do que uma sequência digna de Sniper: Ghost Warrior Contracts. Aguardar uma promoção ou um bundle com o primeiro game é a decisão mais assertiva no momento.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong