Street Power Soccer é, como o próprio atleta no fundo verde diz durante o tutorial, um jogo sobre mostrar que o futebol pode ser algo muito mais estiloso do que simplesmente fazer gols. É inegável o fato de que tudo por aqui possui um nível de inspiração em FIFA Street ou até mesmo títulos menos pé no chão como NBA2K Playgrounds, apesar de que Street Power Soccer se leva a sério – e até demais.
O jogo se apoia muito em figuras famosas do futebol freestyle – particularmente, desconheço 100% -, mas todos acabam saindo com uma aparência similar e bizarra ao mesmo tempo por causa do estilo gráfico caricato escolhido. Mas será que um elenco de peso é capaz de sustentar um produto como este?
Desenvolvimento: Gamajun
Distribuição: Maximum Games
Jogadores: 1-2 (local e online)
Gênero: Esporte, Multiplayer, Arcade, Party
Classificação indicativa: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch, Xbox One
Duração: Sem registro
Beleza e sonoridade
Detentor de uma trilha sonora bastante variada, o mais novo lançamento completamente acrobático da Maximum Games grita, através de seu ritmo dançante, pela franquia de futebol de rua da EA, mas longe de ter o mesmo apelo e ramificações de gameplay.
Se tratando do jogo em si, Street Power Soccer já mostra sua bela apresentação e direção de arte desde o início, através dos menus de seleção de modos, com músicas altamente conhecidas como Rythm of the Night em sua versão remix – além de outros grupos famosos como Black Eyed Peas e até estilos musicais como o funk carioca. Porém, a interface se atrapalha um pouco na escolha de navegação entre os pontos de interação imersivos demais, que fazem uso de textos escritos sobre o cenário, em certas situações, causando um pouco de confusão na hora de mexer a opção selecionada, principalmente em ser claro sobre quando usar o analógico ou o dpad para movimentar o seletor.
Nos modos de jogo single player temos 5 opções que, estranhamente, não falam por si só e não apresentam qualquer explicação sobre como funcionam, mas farei o favor de explicar aqui:
- Become the King: o modo tutorial/história do jogo com a presença do atleta francês Sean Garnier, onde ele conta mais de sua vida e sobre como começou no futebol freestyle por causa de uma contusão, enquanto te ensina a fazer peripécias com a bola através de um tutorial minimamente bacana que concede uma pontuação ao jogador – mas bem que podia também ser dinheiro para gastar na loja. Aqui você vai passar por todos os modos de jogo sem perceber. Ou seja, é um preparo para o que está por vir, e recomendo bastante a não pular, apesar das telas de carregamento darem algumas dicas de comandos.
- Street Power Matches: partidas de até 3×3, o modo padrão de jogo onde o objetivo é marcar gols fazendo uso de poderes, dribles estilosos e itens consumíveis que surgem no campo. Apesar de ser o modo com o qual mais me diverti, não existe uma personalização fora a bola, campo e personagens. As regras são fixas e não podem ser alteradas.
- Trick Shoot: o modo onde você acerta objetos ou alvos através de chutes com efeito, angulação e rebotes. Uma forma diferente de jogabilidade, mas não possível de se jogar no multiplayer.
- Freestyle: o momento de brilhar, um show dado através de truques feitos com a bola no ritmo certo, com jogabilidade bem parecida com jogos de dança. É possível fazer diferentes truques dependendo da posição do personagem. Em pé ou sentado, por exemplo.
- Panna: uma espécie de duelo 1×1 em um campo pequeno, onde a missão principal é dar uma “caneta” no adversário através de quick time events, e então fazer um gol. Possivelmente o modo mais fraco e sem emoção.
- Elimination: modo exclusivo para 2 jogadores, onde a quadra é “cortada” pela metade. A cada gol marcado, o time adversário tem um jogador eliminado dando lugar ao próximo no banco.
Já no menu de multiplayer, temos o online, o versus e o cooperativo local (mesmo console). Todos para no máximo dois jogadores e restritos ao Street Shoot Matches. Infelizmente nos lobbies do online não foi possível encontrar uma alma viva sequer, portanto não sei dizer o quão bem funciona a infraestrutura dos servidores – ou se a comunicação é peer-to-peer.
Adicionalmente, existe uma loja com itens cosméticos que utilizam um dinheiro interno do jogo. Dinheiro este que é adquirido através de desafios cumpridos, e esta lista com tarefas a serem feitas se renovam diária e semanalmente.
O problema é que não é possível visualizar os desafios durante uma partida no menu de pausa, portanto confie em sua memória para lembrar o que deve ser feito e boa sorte. Além disso, é um sentimento de inutilidade não ganhar um tostão sequer vencendo partidas. É uma decisão bastante questionável a de vincular o dinheiro ganho apenas aos desafios, não oferecendo recompensa nenhuma pelo esforço à curto prazo com os jogos vencidos.
Jogabilidade mediana e bizarra
Street Power Soccer gira em torno de elementos que me lembram a série Playgrounds da 2K, porém com bem menos apelo. Existem itens consumíveis que ficam surgindo periodicamente no campo e fornecem uma habilidade temporária, além de medidores de força no canto inferior da tela que servem para ativar um superpoder bastante genérico de cada personagem – uma espécie de habilidades imbatível que torna o gol garantido.
Porém, o erro foi se levar a sério demais, o que acaba criando situações e animações bastante “vergonha alheia”, intensificada mais ainda pelos aspectos borrachudos dos personagens do jogo e suas danças bizarras de comemoração. Em Playgrounds a gente perdoa esse tipo de coisa, já que a proposta é trazer jogadores com proporções absurdas e aplicar um estilo exagerado de jogo.
A jogabilidade por aqui, em geral, não é de todo mal, mas passa a sensação constante de imprecisão. Você não se sente no controle do personagem. Em todo o tempo também me senti com dificuldades de entender onde eu estava ou quão perto precisava me aproximar do adversário para roubar a bola. E isso ocorria mesmo com o comando que faz o jogador ficar virado em direção à bola ou o jogador detentor dela. Fora que não podemos jogar sem os poderes, e somos obrigados a ter estes elementos mais arcade durante toda a partida.
Em meio a tudo isso, é complicado saber tabmbém qual jogador você está controlando às vezes, já que uma infeliz decisão de design resolveu colocar setas brilhantes em cima de cabeça de cada personagem do time e deixá-la apenas mais acesa caso o jogador em questão seja escolhido. Não existe nada embaixo dos pés indicando ou um feedback visual indicando de forma clara o controle daquele personagem, causando confusão por causa destas setas e uma câmera que às vezes se perde no campo.
Falta de polimento
Mesmo pegando o jogo antes do lançamento, esperei até o glorioso dia para checar se haviam corrigidos os problemas que vou citar a seguir. Primeiro, citado no parágrafo anterior, é a câmera que não consegue se manter fixa na bola durante o jogo. Muitas vezes o adversário pega a bola e visor fica travado no centro do campo, então obviamente você leva um gol. E não há outras opções de posicionamento da câmera do jogo além do padrão.
Também existe um bug ao rolar a apresentação do atleta. Caso a internet caia ou você dê uma checada rápida no menu do Switch e volte, a dublagem estará completamente sem sincronia com as legendas e a cena porque o jogo resolveu sincronizar o seu sistema de salvamento interno com a nuvem. Também tive um problema onde este mesmo arquivo de save resolveu sincronizar no meio de uma partida offline contra a inteligência artificial, e do mais absolutamente nada fui jogado para o menu principal – mais de uma vez.
Fora o fato de que ao você realizar um gol, o time adversário simplesmente “buga” e sem a menor explicação começa a dançar e comemorar o seu feito. E não é proposital, já que segundos antes todos estavam de cabeça baixa pelo gol levado. Curiosamente isso acontece apertando o B, um comando provavelmente mapeado para alguma ação de teste. Além disso, tem momentos onde o modelo 3D do menu principal para na famosa posição “T”, mostrando que perdeu suas configurações e foi restaurado ao padrão.
Irritante também não ser disponibilizada uma segunda opção de controles. Parece que apenas jogadores de FIFA foram considerados, o que acabou resultando no chute com o botão A de forma fixa. Não existe uma forma de remapear os botões. São aqueles ali e acabou. Por fim, após o final da partida é comum apertar o A para pular o replay, correto? E você acaba que por finalizar a partida voltando para o menu acidentalmente, porque o comando reconheceu antes da tela de resultados surgir de fato.
Mediano e frustrante
Street Power Soccer é bastante mediano e que foi lançado com muitos bugs e problemas de imprecisão. Parece que o fato de 30 fps também algum input lag consigo, e provavelmente o jogo roda de forma mais fluída em plataformas onde 60 fps é o mais comum – não pude confirmar, só tive acesso à versão de Switch. Falando mais sobre esta versão, os gráficos no modo portátil são horríveis e perdem o aspecto de cel-shading dos personagens, sem falar na resolução bastante baixa. Colocando o Switch na dock, o jogo se transforma completamente.
De um modo geral, o jogo é uma mistura de FIFA Street com NBA 2K Playgrounds bastante sem emoção, com a inclusão de poderes sem uma explicação plausível e de forma que fica deslocado e muito forçado na proposta.
Não existem campeonatos, jogos personalizados nem nada do tipo. Tudo se trata de um grande tutorial, online morto ou um modo livre, onde sua busca principal fica sendo o cumprimento de desafios para ganhar dinheiro e comprar itens cosméticos na loja sem ter um porquê. O fato de que o game se leva a sério demais somente piora a situação. São 5 modos disponíveis, mas nenhum consegue sustentar o ritmo de Street Power Soccer – apesar da trilha sonora magnífica.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores