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Review Telling Lies (PS4) – Investigando mentiras

Em 2015, Her Story foi lançado e acabou sendo um sucesso inesperado de crítica e público, e, como uma resposta a esse sucesso, Telling Lies foi lançado em 2019.

O novo jogo conta com algumas semelhanças de mecânicas e visuais, só que ele é mais ambicioso e com mais linhas de investigação. Ele tem mais investimento, então, também fica melhor né? Bom, é o que vamos ver.

Desenvolvimento:  Sam Barlow, Furious Bee Limited
Edição: Anapurna Interactive
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Simulação
Classificação indicativa: 16 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Xbox One, Switch e iOS
Duração: 4 horas (Campanha)/14 horas (100%)

Atores mais que reais

O modo como ele conta história é através de vídeos gravados por pessoas reais, ou FMV (Full Motion Video). Esse tipo de técnica foi ficando menos utilizada ao passar dos anos, até ser substituído pelo hiper realismo gráfico muito presente nos jogos AAA, ou por gráficos estilizados no meio indie. Mas o que o FMV permite, e que os outros estilos artísticos não conseguem, é a representação realista, afinal, é um vídeo de um ator.

E é aí que Telling Lies brilha, saindo na frente de qualquer outro jogo no quesito de atuação, e entregando cenas dignas dos melhores filmes ou séries que você já viu.

Os vídeos que assistimos são gravados das videoconferências, mas vemos somente uma das partes, tendo um lado A e um lado B, se quisermos entender todos os contextos das frases e situações temos que encontrar os dois vídeos.

Não posso falar porque essas videoconferências estão sendo gravadas, quais são os personagens e as motivações básicas de cada um, pois qualquer informação que eu passar é spoiler em um jogo onde a maior parte dele é história.

Só posso falar que gosto em suas devidas proporções de cada personagem e que eles são muito bem desenvolvidos, tem cada cena absurda que a minha vontade é de sair comentando com todo mundo, mas como quero que vocês tenham essas experiências eu vou me conter.

Eu nunca me senti como um detetive em nenhum jogo, investigando pessoas e situações, não até Telling Lies. Eu anotava tudo o que achava relevante para a trama em um bloco de notas e ia resolvendo os seus mistérios, mas esse sentimento só foi possível pelo seu sistema de busca e suas barreiras propositais.

Sistema de busca e as suas barreiras

Telling Lies começa e te joga na Área de Trabalho de um computador com o sistema de busca aberto, onde a maior parte do jogo acontece, e uma palavra sendo digitada.

Você pode buscar por uma palavra ou frase e aparecerão vídeos, os quais você deve assistir, e então pesquisar por mais até acabar a história. A ideia é que cada vídeo revele um pouco mais sobre o mistério que existe, e cada palavra ou frase buscada podem te levar para uma nova linha de investigação.

Mas, para não ficar muito fácil de se resolver, o jogo põe algumas barreiras. A primeira e mais interessante de se descobrir são as partes dos vídeos. Os arquivos das videoconferências estão todos separados em 2 partes, um lado da chamada fica em um vídeo e o outro lado em outro vídeo.

Quando uma das partes da conversa é visto isolado do contexto, fica muito estranho, então parte importante do jogo é saber quem está falando com quem. Existem alguns vídeos que quando você descobre a sua cabeça explode.

Outra barreira essencial para o ritmo do jogo é o sistema de busca. A cada palavra ou frase buscada só podem aparecer 5 vídeos, ou seja, você pode buscar uma palavra que ache que vai incriminar muito algum personagem, mas provavelmente não vai aparecer nada, porque o banco de dados desse sistema vai ter muitos vídeos. Então o que o game designer quer é que você assista um vídeo, anote as coisa que te chamarem a atenção e siga investigando.

E a maneira que o roteiro desse jogo tem que ser pensado é um absurdo, cada palavra muito importante não pode aparecer no começo do jogo e nem pode ser óbvia, esse sistema de busca é bom e limita a sua evolução, mas isso só acontece com um roteiro desse nível de cuidado.

E tem outra parte que deveria ter tido essa mesma atenção no desenvolvimento, afinal, passamos a maior parte do jogo nela. E eu to falando do reprodutor de vídeo.

Pior player do mundo

Quando fazemos uma busca no banco de dados e clicamos para reproduzir, em qual parte do vídeo você acha que ele vai começar? Do começo né? Só que nesse jogo não funciona assim. Por exemplo, pesquisei a palavra Porta, analiso um dos vídeos e vejo que ele tem 5 minutos de duração, quando seleciono para reproduzir ele começa aos 4 minutos, no momento em que ele fala a palavra que eu pesquisei.

É muito bizarro isso, o vídeo pode ter 9 minutos e se a palavra que eu busquei está no final, eu só vou ver o final do vídeo.

Tem até a opção de retroceder dentro do player e quando eu vi isso pela primeira vez eu pensei “Não vai ser tão difícil assim, só clicar pra voltar aqui na velocidade mais rápida e ta show”, mas mesmo com a velocidade mais rápida ele é lento, você vai pegando uns spoilers do próprio vídeo enquanto volta.

A impressão é que o game designer não queria que a gente assistisse tudo, se ele não queria teria maneiras melhor de se resolver isso. É uma decisão burra de ter manter isso dentro do jogo, porque claramente todo mundo que clicou pra ver o vídeo quer ver ele todo e não um fragmento.

Telling Lies tinha tudo para ser considerado uma obra prima, tem uma boa história e ótimas atuações, mas a dificuldade em assistir os vídeos desde o começo é uma barreira muito grande e nos impede de aproveitar o mistério da maneira ideal.

Tenho esperança que seu criador entenda com as críticas o que realmente fez Her Story ser bom, e o que faltou para seu novo projeto chegar onde deveria.

Esta review foi feita com uma cópia de PS4 adquirida pelo autor

Telling Lies

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Roteiro
  • Atuações

Contras

  • Player de vídeo
  • Cenas Pós-créditos