Em fevereiro de 2024 fomos agraciados pela remasterização da primeira trilogia da musa dos games Lara Croft pelas mãos da empresa Aspyr, a qual, em sua maioria, foi muito bem aceita pela comunidade gamer. Exatamente um ano depois, chega a segunda trilogia rebatizada como Tomb Raider IV-VI Remastered, que finaliza a era clássica da série originalmente produzida pela Core Design. O pacote, contudo, traz jogos que estão longe de serem unanimidade entre os fãs mais antigos.
Desenvolvimento: Aspyr, Crystal Dynamics
Distribuição: Aspyr
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 14 anos (violência)
Português: Dublagem, legendas e interface
Plataforma: Switch, PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
Duração: 39 horas (campanha)
Três jogos com suas particularidades

O primeiro jogo dessa nova coletânea é também o mais bem avaliado da trilogia. O quarto título, batizado como The Last Revelation, começa com uma Lara de 16 anos em uma expedição no Camboja, guiada por um amigo de seu pai chamado Werner Von Croy. Depois de uma tragédia, os dois se reencontram anos mais tarde no Egito e acabam se tornando inimigos.
O quinto título, Chronicles, trata de histórias contadas por amigos da arqueóloga, já que eles estão reunidos após seu enterro simbólico, pois ela foi dada como morta ao final da aventura anterior. Como o jogo é sobre crônicas da Lara, há uma maior diversidade de cenários que vai de Roma, Irlanda, Nova York e Sibéria – diferente do que aconteceu em The Last Revelation, que se passa quase completamente no Egito. O jogo também foi o último título da série lançado no PS1.

Já o último jogo produzido pela Core Design e o primeiro da era PlayStation 2 foi The Angel of Darkness, que trouxe uma Lara gótica fugindo da polícia em Paris, acusada de matar seu mentor Von Croy. Diferente das tumbas e cenários dos outros jogos, que em sua maioria acontecem de dia, aqui temos ruas e vielas de uma metrópole, com a trama quase sempre acontecendo à noite.
Toda a era clássica remasterizada

Agora temos todos os Tomb Raiders com gráficos estupendos. A Aspyr manteve o mesmo esquema da coletânea anterior, utilizando o motor gráfico original para recriar cenários e uma Lara com curvas de fato. Em vários momentos, você realmente se admira com o capricho em determinadas áreas, com visuais e direção de arte de cair o queixo. Tem até a poeira do Egito em Tomb Raider IV.
Dessa vez, a empresa foi além e incluiu funções que agregam à jogatina. Além do questionável controle moderno, que continuo achando que não combina com esses jogos (o controle da era Legend seria uma adaptação bem melhor), temos o modo FPS moderno, que garante 60 fps mesmo com os gráficos originais.

Outra novidade é a possibilidade de criar vídeos usando o modo foto. Você escolhe uma sequência de ângulos e aquilo é transformado em um vídeo. A câmera é bastante livre, o que permite criar vários vídeos divertidos. Por outro lado, há limitações. O Switch, por exemplo, não permite gravar vídeos; essa função não está disponível no sexto título e, para quem está jogando pela primeira vez, pode ser algo que enjoa rápido. No fim das contas, você só quer jogar.
Uma adição interessante é o áudio dublado em português em The Angel of Darkness, vindo diretamente da versão de PS2. É curioso ver como esse jogo já tinha dublagem numa época em que isso era raríssimo por aqui. O problema é que a dublagem soa amadora, com entonações estranhas e áudio baixo em várias cenas, o que acaba comprometendo a experiência.
Ficou devendo

Tomb Raider IV-VI Remastered foi lançado com erros que acredito que serão corrigidos com atualizações, como vários cenários mais escuros que os originais e que muitas vezes farão você ter que jogar com gráficos antigos para poder enxergar. Além disso, há algumas texturas borradas aqui e ali.
Mas o seu calcanhar de aquiles de fato é o controverso Anjo da Escuridão que, mesmo trazendo melhorias (sendo o único título em que controles atuais ajudam), dublagem e áreas que antes não estavam disponíveis no original, continua com muitos bugs. Grande parcela dos NPCs não sofreram nenhuma melhoria, deixando-os idênticos, como eram originalmente. Quando alternamos os gráficos, há momentos em que quase não identificamos qual o gráfico original e qual o remasterizado – se é para remasterizar, que seja completo, não pela metade.
Uma coletânea de jogos que dividem a fanbase

Há pontos altos e baixos nesta remasterização, mas tudo fica ainda mais conflitante quando olhamos para os jogos individualmente. The Last Revelation, de longe, é o melhor dessa leva, trazendo novos movimentos para a gameplay, como balançar de uma borda para outra enquanto pendurada, além de cenários marcantes. Chronicles é um jogo com fases mais fragmentadas, mas funciona bem por trazer os puzzles mais fáceis de toda a era clássica, o que torna o jogo agradável para marinheiros de primeira viagem.
Já The Angel of Darkness é aquele jogo que traz uma ideia ousada (temos até um segundo personagem jogável servindo de dupla para a Lara), mas a execução é péssima e seu conserto seria ter um remake ao invés de um remaster. Não se engane: não há atualizações que corrijam escolhas ruins, pois ele é um jogo de gameplay mais burocrática do que os próprios jogos da era PS1, sendo que o bom senso seria o contrário, não?
Ainda não estava pronto
Fica uma sensação mista ao jogar essa trilogia. Há momentos muito bons nos capítulos IV e V, mas o gosto amargo que o remaster de Tomb Raider VI deixa é grande. É provável que o pacote melhore com atualizações, como aconteceu com a primeira trilogia, mas não era isso que esperávamos, ainda mais agora que a Aspyr parecia caminhar para entregar mais uma remasterização excelente. Parecia.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Julio Pinheiro