Tormented Souls Capa

Review Tormented Souls (Xbox Series S) – Aquele maravilhoso terror B

Conheci os jogos do gênero terror quando muito criança, graças aos meus pais que sempre jogavam Silent Hill e Resident Evil diariamente na TV do nosso quarto após um longo dia de trabalho. Anos depois, com um pouco mais de idade e coragem, decidi que já tinha estômago o suficiente para me aventurar no mundo do Survival Horror, um estilo dentro do gênero terror que não se faz mais tão abundante como costumava nos anos 90.

Em uma tentativa clara de resgatar os sentimentos que muitos tinham com produtos desse tipo no passado, o indie Tormented Souls chega aos consoles atuais – os consoles da geração anterior tiveram seu port adiado – com uma proposta de trazer o clássico horror de sobrevivência e apresentá-lo aos menos familiarizados com o subgênero.

Desenvolvimento: Dual Effect Games, Abstract Digital
Distribuição: PQube
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror, Ação, Puzzle
Classificação: 16 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Xbox Series X/S, PC, PS5
Duração: 8 horas (campanha)/14 horas (100%)

Indo atrás do que não deveria 

Caroline Walker e sua estúpida decisão
Caroline Walker e sua estúpida decisão

Em Tormented Souls, somos Caroline Walker, uma moça que começou a ter terríveis pesadelos com duas irmãs gêmeas. Após receber uma foto das irmãs e a informação de que ambas desapareceram, a protagonista começa a ter a sensação de que devia ir atrás do endereço descrito na captura do momento a fim de obter respostas: a mansão em Winterlake, que foi transformada em um hospital medonho. Claramente, essa foi a decisão mais estúpida possível, na minha opinião, como em todo jogo de terror. Sério, quem vai atrás de respostas para um negócio desses? Polícia existe para quê?

Após chegar ao local de destino, Caroline desmaia e acorda várias horas depois, completamente nua em uma banheira, tendo uma mangueira comprida enfiada em sua garganta. Após remover o objeto e quase vomitar, a moça coloca suas roupas e decide olhar-se no espelho após sentir que há uma faixa cobrindo seu olho direito. Assim que sente que algo está diferente em seu corpo, ela remove a cobertura e fica aterrorizada ao ver que seu olho foi removido. Completamente assustada (apesar da atuação não transparecer tanto isso), a protagonista continua sua missão em investigar a morte das gêmeas – só mais uma terça-feira.

Elementos já vistos, mas ainda divertidos de se ter

Gravadores, para substituir as máquinas de escrever
Gravadores, para substituir as máquinas de escrever

Assim como clássicos do Survival Horror, em Tormented Souls, felizmente, existem várias formas de nos defender, equipando armas para enfrentar inimigos espalhadas pelos corredores da mansão Winterlake. Há também os famigerados itens de cura, representados aqui por morfina e kits médicos, cada qual com uma intensidade diferente no quesito eficácia. Como não podia faltar, podemos salvar o progresso em gravadores de áudio – como nos clássicos do subgênero -, os quais exigem uma fita que desaparece depois do uso, exatamente como acontecia nos antigos Resident Evil.

A principal arma será a pistola de pregos, que precisa ser recarregada com pregos encontrados por aí. Além disso, mais à frente conseguimos montar uma escopeta feita a partir de canos (é isso mesmo que você leu), a qual permite disparos bem mais poderosos do que a simples arma mecânica anterior. A movimentação, apesar de oferecer os famosos controles tank, também permite controlar a personagem livremente pelo analógico, fazendo com que ela corra 100% do tempo.

O escuro guarda perigos letais
O escuro guarda perigos letais

O escuro será um dos piores inimigos por aqui, sendo que ficando alguns poucos segundos em qualquer ambiente completamente sem luz resultará em sua morte. Acabei morrendo de bobeira na primeira vez, porque não havia percebido isso, já que pensei que ainda estava na tela de loading depois de atravessar uma porta. E falando em portas, é uma bênção não existir aqui as famosas animações entre uma sala e outra como antigamente em RE, o que economiza valiosos segundos ao sair correndo através da mansão.

Os puzzles também são bem divertidos e muito bem bolados. A maioria das resoluções dos quebra-cabeças são bem intuitivas e facilmente será possível ligar as peças e saber onde usar o quê, como chaves com descrições apontando para qual cômodo usá-las. Alguns outros puzzles não exigem combinações de itens nem nada do tipo, mas simplesmente um raciocínio lógico, como o carrinho que usei para prender a porta do elevador que não possuía um botão para abrir as portas no andar de baixo.

Puzzles divertidos e intuitivos
Puzzles divertidos e intuitivos

Finalmente, o mapa tenta fazer um trabalho diferenciado ao não apontar exatamente onde estamos, mas apenas ilustrar o andar no qual Caroline se encontra. Em alguns pontos dos cômodos existe o mapa daquele lugar, o que ajuda a entender mais ou menos onde você está, para que torne a localização mais amigável. É um detalhe bobo, mas achei a execução muito bem-vinda.

Não posso deixar de lado também as atuações. Apenas a protagonista com sotaque canadense conseguiu me salvar um pouco da sensação de que os atores estão lendo as falas dos personagens. Além disso, algumas músicas de fundo em certos ambientes são completamente deslocadas, como a primeira vez em que encontramos o padre. Mesmo assim, a experiência não é machucada por causa desses pontos fracos, ainda mais se considerarmos que se trata de um indie que possui orçamentos limitados – mas o idioma Pt-Br está disponível.

Aquele frio na barriga que eu gosto

Tormented Souls é um tipo de jogo que adoro e do qual tenho muitas saudades. Já não se fazem Survival Horrors como antigamente, muito menos em uma perspectiva em terceira pessoa, que permite ver o personagem. Hoje em dia, é mais comum vermos produtos como Outlast e afins, tentando de forma falha trazer mais imersão aos jogadores os colocando em uma visão de primeira pessoa, tirando qualquer tipo de possibilidade de defesa e focando apenas em fugir e se esconder, o que simplesmente não suporto – fora os jumpscares, que são tentativas ridículas de amedrontar.

Se você, assim como eu, gosta do que sentia ao jogar os antigos Resident Evil e Silent Hill, Tormented Souls é um prato cheio para matar a vontade de experienciar algo que realmente procura trazer uma ambientação de terror, em vez de abusar de sustos bobos. Os puzzles são excelentes e intuitivos, e o combate é muito bem executado. Apesar da história ser bem boba e a atuação dos personagens deixar a desejar, todo o resto consegue colaborar para trazer o que o bom e velho Survival Horror precisa: medo e desconforto.

Cópia de Xbox Series S cedida pelos produtores

Tormented Souls

9.5

Nota final

9.5/10

Prós

  • Duas opções de movimentação
  • Puzzles intuitivos e divertidos
  • Mapa faz um trabalho bem feito
  • Armas para se defender de inimigos

Contras

  • Atuação dos personagens é ruim
  • Gráficos e animações deixam a desejar
  • Quick resume do Xbox não habilitado