Enfim chegamos à nova geração de consoles. Após sete anos de mercado, tanto o Xbox One quanto o PlayStation 4 finalmente darão espaço para seus sucessores. Bom, pelo menos em tese, já que os consoles da oitava geração continuarão recebendo jogos até pelo menos o final de 2021.
No Brasil e no mundo, quem deu o pontapé inicial para a nova geração foi a Microsoft, apresentando duas linhas de consoles (algo comum no mundo da telefonia, mas novidade na indústria de games): uma de entrada (o Xbox Series S) e outra mais poderosa (Xbox Series X). No início de novembro tive acesso ao Xbox Series S, e nas próximas linhas vou tentar esboçar um pouco do que achei do pequeno notável da Microsoft.
As dimensões do baixinho
Como consumidor eu tive todos os consoles da Microsoft desde o lançamento do primeiro Xbox lá atrás, em 2001. Obviamente, não necessariamente no ano de lançamento dos mesmos, mas em alguma janela de tempo pude tê-los em mãos. Acredito que todos acompanharam os anúncios e o lançamento dos novos consoles, no último dia 10 de novembro. O fato é que os primeiros Xbox são literalmente gigantes. Li algumas impressões iniciais e Tweets de amigos e influenciadores que tiveram acesso antecipado ao Series S. E sempre que as pessoas falavam do console, atentavam para o seu tamanho. Toda vez que lia um comentário do tipo eu revirava os olhos: “que bobeira, isso!”, dizia.
Então eis que chega o console em minha casa, numa caixa linda em formatinho de baú. Abro e vejo uma coisa miudinha lá dentro. Olhei pra minha esposa e fiz o mesmo comentário que todo mundo está fazendo e que me fazia revirar os olhos: “olha, como ele é pequeno!”. As dimensões dele, de fato, saltam à vista. O Xbox Series S é cerca de 60% menor que seu irmão maior. Possui 6,3 cm de largura, 27,5 cm de altura e 15,1 cm de comprimento. Ele é o menor Xbox já desenvolvido e pesa menos de 2kg. O design dele também chamou muito atenção quando foi apresentado ao mundo, apresentando uma grande grade circular preta em meio ao seu corpo branco (que rendeu vários memes), que serve como dissipador de calor. Falando nisso, o sistema de refrigeração do Series S é excelente, o console é extremamente silencioso e pouco esquenta mesmo depois de horas de jogatina.
Transição gradual de geração
O grande diferencial desse início de geração é a forma como a transição está sendo feita. Quando adquiri o Xbox One em 2014, por exemplo, não pude aproveitar nenhum jogo do meu antigo Xbox 360 (ao menos naquele momento). Tive que construir minha biblioteca de jogos do zero. A nona geração se inicia com um certo ar de continuidade. Toda a biblioteca do Xbox One é compatível com os novos aparelhos. Além disso, podemos aproveitar os jogos do Xbox 360 e Xbox original lançados pelo programa de retrocompatibilidade. Isso sem mencionar o serviço do GamePass, que conta com um catálogo bem robusto de títulos com gêneros dos mais variados. Então, jogos não irão faltar. Pelo menos das gerações passadas. Digo isso porque não há nenhum jogo first party da nova geração disponível. O game que seria colocado como system seller, junto ao Xbox Series X/S, Halo Infinite, foi adiado para algum momento de 2021.
Ao ligar o console já percebemos se tratar de um produto novo. O Series S inicia em questão de segundos. A antiga tela de boot verde dá lugar à uma preta mais sofisticada. A configuração inicial do console pode ser feita totalmente pelo novo aplicativo do Xbox (disponível para os celulares Android e IOS). Assim, logar em sua conta, determinar as definições de idioma, rede e afins, podem ser feitas de forma prática e rápida, em poucos passos. A dashboard do Xbox Series reforça a ideia de continuidade que mencionei mais acima. É a mesma da família Xbox da oitava geração. A única diferença mais aparente é o papel de parede animado.
Essa aposta da empresa pela transição suave, apresentando uma experiência similar à da geração passada, tem seus prós e contras. É muito bom poder contar com um acervo pomposo dentro de um sistema já familiar para os donos do Xbox. Mas, isso quebra um pouco a ideia de estarmos diante de um produto novo e singular em comparação ao antigo. O próprio nome escolhido transmite um pouco dessa confusão. Quero lembrar aos amigos que a proposta do novo console (como qualquer produto) tem que ser bem transmitida para todos os consumidores, não somente para os fãs da marca. Recentemente, vi um anúncio numa grande varejista online, ofertando o Xbox One S ao lado do Xbox Series S. E ambos com o mesmo preço. Papais e mamães não tão antenados na indústria, que quiserem presentear seus filhos, podem acabar se confundindo.
Sem 4K, mas ainda belo
De forma bem resumida, o Xbox Series S conta com um processador AMD octa core de 3,6 GHZ, uma GPU RDNA 2 personalizada de 4 TFLOPS, uma memória RAM GDDR6 de 10GB e um SSD de 512GB. Na imagem abaixo temos a configuração completa do baixinho. Por mais que essas especificações sejam importantes – e inferiores ao hardware do Xbox Series X e PlayStation 5 – quero atentar para o que elas representam na prática.
Uma das grandes promessas dessa geração é a resolução 4K nos jogos e a taxa de quadro por segundo travadas em, no mínimo, 60fps. O Xbox Series S, no entanto, não consegue gerar nativamente gráficos em Ultra HD, apresentando uma resolução máxima de 1440p para uma taxa de quadro que pode chegar em 120fps. Para isso, é necessário ter um TV ou monitor com HDMI de 120hz. Como minha TV possui HDMI de 60hz, não pude fazer maiores testes em relação a isso. Mas, os jogos suportados rodaram sem nenhum lag ou travamentos em 60fps.
Quanto a resolução, em TVs compatíveis, o que o pequeno faz é um upscale. Ou seja, ele simula a imagem em uma resolução mais alta, redimensionando o que se vê na tela, mas sem apresentar a mesma qualidade do 4K nativo. No início dessa geração, no entanto, essa resolução tem sido usada de forma dinâmica. E nem todos os jogos do Xbox Series X e PlayStation 5 apresentam gráficos em 4K constante, por exemplo. Pensando na experiência do usuário, passou a ser comum uma opção de configuração de performance, tal qual vemos em PCs.
De toda forma, mesmo não apresentando o 4K de forma nativa, as cores das imagens geradas pelo console são bem nítidas e vívidas. O HDR possui papel muito importante na fidelidade apresentada em tela. Outra novidade para os consoles de nova geração (já utilizada nos PCs) é o Ray Tracing, um algoritmo que capta com mais fidelidade à iluminação, simulando o trajeto de focos de luz. O salto na resolução de games rodando no novo console, em paralelo ao Xbox One, são notavelmente melhores, mesmo aqueles que não foram otimizados. Se pegarmos aqueles que receberam o pacote de otimização, as coisas melhoram ainda mais. Nesse sentido, jogos como Gears 5, Ori and the Will of The Wisps e Forza Horizon 4 – que receberam o upgrade gratuito, batizado de “entrega inteligente” – ficaram ainda mais belos. Esse serviço foi uma forma prática de se matar o mal da transição da sétima para a oitava geração: os remasters. Mas, convém mencionar que nem todas as publishers se prontificaram a disponibilizar esse upgrade de forma gratuita, infelizmente.
Quem resolver migrar do Xbox One X para o Xbox Series S, talvez não consiga perceber tão avidamente essas diferenças. Grande parte dos jogos do One X receberam pacotes de otimização para rodar os jogos com resolução e fluidez melhores em relação ao modelo do console padrão. Mas, essas otimizações ficaram exclusivas para o Xbox Series X. Para os donos do Xbox Series S – salvo alguns jogos otimizados, como os que citei acima – temos as melhorias “naturais” ao se rodar um jogo da geração passada num hardware novo e nada mais.
O diferencial da nova geração
Apesar da resolução para alguns ser uma espécie de parâmetro que distancie a antiga geração da atual que se inicia, o grande diferencial na verdade está no tempo de carregamento dos jogos, que é infinitamente menor. O foco do Series S está na experiência. A promessa da Microsoft era apresentar um hardware de entrada para a nova geração, capaz de rodar os novos jogos de forma competente e rápida. Se em termos gráficos o pequeno notável fica atrás de seu irmão maior, na velocidade de carregamento ele consegue competir ombro a ombro com ele. E isso se dá graças ao uso do SSD.
A nova tecnologia de armazenamento – já muito utilizada nos PCs – ajudaram a diminuir drasticamente as chatas e demoradas telas de carregamento. Em meus testes Gears 5 levou menos de oito segundos para iniciar a campanha. O aclamado RPG The Witcher 3 iniciou em menos de sete segundos e as fast travels pelo mapa eram instantâneas. O adventure cyberpunk, recém lançado, Observer System Redux, tinha uma tela de carregamento inferior a quatro segundos. Em suma, todos os jogos, mesmo os que não receberam pacote de otimização tiveram sua tela de carregamento diminuída. Elas ainda existem, mas são três ou até quatro vezes mais rápidas que os da antiga geração.
Outra novidade da nova família Xbox é a função Quick Resume. Através dela podemos colocar jogos em suspensão, alternar entre eles e retomar a jogatina no exato momento em que paramos anteriormente sem que o jogo seja fechado. Pode parecer bobeira, mas é algo que faz muita diferença, principalmente para aqueles que gostam de jogar várias games ao mesmo tempo. O Quick Resume funciona até mesmo em jogos que estão instalados no HD externo do Xbox Series S. Ou seja, não é algo atrelado unicamente ao SSD. A nova função, no entanto, ainda carece de alguns acertos. O sistema não te apresenta exatamente quais jogos estão em suspensão. E vez ou outra um jogo que foi colocado em segundo plano acaba sendo reiniciado quando retomado.
Armazenamento e acessórios
Salvo as questões do design, a nova abordagem da Microsoft, em apresentar ao consumidor dois modelos diferentes com hardware diferentes, trouxeram algumas mudanças significativas. A que logo podemos notar é de que o aparelho de entrada – e isso é bom reforçar – não possui drive de disco. Assim, se você gosta de mídia física ou possui uma coleção que gostaria de aproveitar na nova geração, o Xbox Series S definitivamente não é para você.
Em suma, isso quer dizer que todos os seus jogos só podem ser adquiridos somente na loja online do Xbox via download. Dos 512GB que vem estampado na caixa do aparelho, apenas 364GB do SSD está livre para instalarmos jogos. Para quem gosta de jogar muitos ao mesmo tempo, talvez isso seja um problema. Mesmo assim, eu consegui instalar no SSD Gears 5, Forza Horizon 4, Ori and the Will of the Wisps, Observer System Redux, Mortal Kombat 11, Dark Souls, Dark Souls 3, The Witcher 3, Resident Evil 7, Fortnite, Star Wars Jedi: Fallen Order e ainda me sobrou 10GB de espaço disponível.
Uma opção é a instalação de um HD externo e ficar alternando os jogos do dispositivo para o SSD. Eu utilizei o mesmo HD que usava no Xbox One. Os jogos instalados nele foram reconhecidos imediatamente e aqueles que não possuem as melhorias da “Entrega Inteligente” rodam pelo HD externo mesmo, sem precisar fazer o procedimento. De toda forma, a transferência do HD externo para o SSD é bem rápida. Os 19.6GB de Dark Souls 3, por exemplo, foram transferidos em menos de cinco minutos.
Um ponto positivo dos novos Xbox é a possibilidade de usarmos todos os acessórios que utilizávamos no Xbox One (com exceção do finado Kinect), dos controles, a sua bateria original recarregável e até mesmo volantes como o Logitech G920. Por falar nisso, visualmente o novo controle do Xbox possui muitas semelhanças com o modelo do Xbox One S/X. As diferenças são sutis. Temos uma superfície texturizada na parte de trás do controle – onde nossas mãos se encaixam ao segurá-lo – e nos gatilhos (LT e RT). O direcional digital (D-Pad) também sofreu uma ligeira modificação. Em vez do formato em cruz, ele herdou o layout do D-Pad do controle Elite da Microsoft, como um prato facetado. Apesar de barulhento (os cliques ecoam numa casa silenciosa) ele é muito preciso, mas pode incomodar alguns. Principalmente, para os amantes de jogos de luta.
O input lag do controle também é menor, apresentando respostas mais rápidas em tela que melhoram nossa experiência em shooters, por exemplo. Segurando os controles do Xbox One e do Xbox Series (as versões S e X são as mesmas, só se diferenciando na cor), quase não notamos diferença de peso. A principal mudança física está na adição do botão Share (algo que os controles do PS4 e Nintendo Switch já possuíam), para podermos tirar uma captura de tela do jogo eu fazer um pequeno clipe de vídeo. As imagens podem ser capturadas em até 4K HDR e os vídeos em 720p ou 1080p. Os clipes de vídeo, nos testes que fiz, ficaram muito escuros, mesmo desativando o HDR. Em uma rápida pesquisa vi se tratar de um bug e que a Microsoft está trabalhando para a correção do mesmo.
Para quem é o Xbox Series S?
Inicialmente, o aparelho é indicado para aqueles que pularam o Xbox na antiga geração, para quem não tem uma boa TV 4K, para pessoas que só tiveram contato com o Xbox One Fat (e as melhorias gráficas são perceptíveis) ou para aqueles que estão ansiosos para entrar na nova geração. O preço, apesar de elevado para os padrões do trabalhador brasileiro (R$ 2.799,00), é muito competitivo. O leque de possibilidades e variedade vinda da dupla “Series S + Gamepass” é um grande fator de compra, ainda mais com os jogos chegando em R$ 350,00. Enfim, o Xbox Series S é sem dúvida um excelente console. No entanto, só poderemos dizer com todas as letras se ele irá conseguir acompanhar seu irmão maior e o coleguinha da Sony nos próximos anos. Potencial, ele possui. Caberá às desenvolvedoras extrair o máximo do hardware do pequeno notável. Bem-vindos à nova geração!
Revisão: Jason Ming Hong