Aerial_Knight’s Never Yield é um runner automático em 3D que nasceu como um projeto pessoal de Neil Jones, um artista e desenvolvedor de games também conhecido como Aerial_Knight. O jogo não oferece muitas inovações em um gênero que tende a ser simples e casual, mas procura compensar esse aspecto com uma história enigmática, ambientação e uma trilha sonora incrível.
Desenvolvimento: Aerial_Knight
Distribuição: Headup Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: Switch
Duração: 2 horas (100%)
Nunca se dê por vencido
Aerial_Knight’s Never Yield consiste em 13 fases, além de um prólogo que funciona como um tutorial. Há apenas quatro movimentos possíveis, cada qual registrado a uma direção. É possível controlar o personagem com qualquer um dos joysticks ou com os quatro botões principais de cada lado do controle. Wally, o personagem principal, corre automaticamente quando o jogador aplica o comando adequado para fazê-lo desviar dos obstáculos que surgem.
Apontar o direcional para baixo aciona o deslizar rente ao chão. Para o lado esquerdo, é realizado um salto lateral a média altura, capaz de quebrar certas grades. Para cima ocorre um salto completo e, para a direita, o personagem acelera para fugir de perseguidores, reduzir seu tempo e quebrar portas de vidro. Cada obstáculo que surge no caminho possui uma aura luminosa em quatro cores, correspondendo aos movimentos e auxiliando o jogador a decidir suas ações.
Ao longo das fases há alguns checkpoints, que servem para recolocar o jogador após um fracasso. O tempo do percurso faz as vezes de pontuação, sendo que o relógio não deixa de correr mesmo se o jogador falhar em um trecho e precisar refazê-lo. Esse tempo fica registrado em uma coluna na lista de levels, mas não há indicação da dificuldade escolhida pelo jogador. São três possibilidades: no modo normal e no difícil, antes de cada obstáculo ocorre um efeito de câmera lenta (mais intenso no modo normal) e um sinal luminoso que antecipa o tipo de obstáculo que vem a seguir. O chamado modo “insano” retira essas facilidades e adiciona mais obstáculos.
As fases e os comandos limitados se tornam repetitivos, mesmo que em alguns momentos variações importantes deixem o jogo mais interessante. O destaque se dá nos últimos níveis em que, como uma dificuldade extra, a câmera que geralmente se coloca ao lado do jogador assume outras posições e perspectivas, rompendo ainda que momentaneamente o movimento da esquerda para a direita.
No Switch, o Aerial_Knight’s Never Yield não vem com um sistema de conquistas que poderia incentivar os jogadores a tentar melhores tempos em cada fase. A falta de um ranking online também reduz o interesse na pontuação. Como incentivo, há apenas roupas distintas que o personagem pode escolher, mas não há qualquer indicação de como cada uma é desbloqueada.
Tóquio, Michigan
Aerial_Knight’s Never Yield começa a mostrar seu diferencial na ambientação. Os espaços por onde passa o personagem principal formam uma representação futurista inspirada na iluminação neon e densidade de Tóquio e na cidade de Detroit, no estado do Michigan, Estados Unidos. Detroit é uma cidade com uma história de intensa industrialização e crescimento de problemas sociais relacionados à desigualdade social e racial. Não é à toa que Wally é um protagonista negro (o que, infelizmente, ainda é raro).
Cada fase é precedida por uma cutscene que, aos poucos, vai desenvolvendo a narrativa. Segundo o autor, há uma história pensada por trás da ação, mas ela é apresentada propositalmente de forma aberta, sujeita a interpretações variadas, ainda que deixe pontas soltas ao longo do caminho e inclua elementos de ficção científica e distopia. A narrativa é apenas um pano de fundo para a fuga do personagem por ambientes internos e externos, a superação de obstáculos e a perseguição que sofre por carros (de polícia? de corporações?) e drones sem identificação.
É possível identificar a temática da perseguição de um personagem negro que busca salvar-se e revelar segredos de quem tem posições de poder como mais um elemento que dá personalidade ao jogo. Aerial_Knight’s Never Yield se destaca dos demais games do gênero justamente por colocar-se no mundo real: um jogo que tem cor, endereço e voz.
Hip Hop e correria
Esses aspectos se amplificam quando percebemos um elemento fundamental da experiência: a trilha sonora. Composta de faixas originais que combinam as batidas percussivas do hip hop com melodias de instrumentos de metal, o jovem artista Daniel Wilkin dialoga perfeitamente com a estética daqui. Na realidade, a música amplifica e melhora muito a experiência, a ponto de fazer com que ela lembre a de um jogo musical.
A melodia é abruptamente interrompida com sons de um disco parando de girar quando ocorre um erro. Esse parece ser o pior castigo, porque interrompe não apenas o fluxo da correria, mas também da música. Há um descompasso aí presente no nível normal e difícil, pela presença da mecânica da câmera lenta antes de um obstáculo. Depois de algumas fases, me vi enfrentando o modo insano (que nem é tão difícil assim) justamente para evitar o slow motion. Esse recurso parece começar antes do que devia e, acompanhado pelo ritmo constante da música, é preciso tomar cuidado para não fazer o movimento cedo demais; ou errar e tornar preciso recomeçar do último checkpoint; ou causar um descompasso gráfico, com o personagem superando os obstáculos passando por dentro (e não por cima) deles.
Never Yield
Aerial_Knight’s Never Yield não oferece nada muito novo que o faça se destacar em um gênero saturado. Se a narrativa não empolga particularmente, indica ao menos que se trata de uma obra com personalidade: não é um runner genérico. Tanto a interessante concepção gráfica, o diálogo com o mundo real e particularmente a composição musical servem para tornar a experiência curta de jogo agradável. Como obra autoral de dois jovens artistas, o Aerial_Knight’s Never Yield serve como um cartão de visita, e mostra como vale a pena acompanhá-los em futuros projetos.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong