Quando falamos de jogos que retratam o inferno, temos a ideia de algo difícil, sofrível, punitivo, que fará o jogador chegar nos limites das suas habilidades. Hell Pie vai por outro caminho, trazendo uma narrativa recheada de um humor pesado e escatológico para servir de pano de fundo para uma exploração plataforma em um mundo 3D que gratamente entrega muito mais do que promete.
Desenvolvimento: Sluggerfly
Distribuição: Headup
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Plataforma
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataforma: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S
No lugar errado, na hora errada
Para que as coisas no Inferno sempre andem dentro da linha, existe a Sin Inc., que regulamenta os processos do submundo, bem como as ações dos sete pecados capitais. Nate é o “demônio do mau gosto” e, por algum grande azar do destino, atende um telefonema do chefe em pessoa, o Satã. O Comandante das Trevas, achando que estava falando com o cozinheiro do lugar, pede para que ele não esqueça de fazer sua torta de aniversário.
Nate, achando que seria um mero garoto de recados, vai falar com o cozinheiro, que entra em desespero ao se tocar de que esqueceu o aniversário do Coisa-Ruim. Para que não haja mais uma demissão, que no Inferno é algo bem mais drástico do que só ter que deixar o prédio, o cozinheiro pede a ajuda de Nate para juntar os ingredientes desta iguaria satânica.
Agora, cabe ao demônio nanico a tarefa de entrar em quatro territórios distintos e resolver missões para conseguir que a torta do Mochila de Criança fique pronta antes que o pior aconteça.
Uma dupla improvável em um universo bizarro
Para realizar seus objetivos, Nate tem habilidades como escalar paredes, pulos duplos, investidas e dashes. Essa é uma lista bem básica, mas que se torna bem mais divertida quando encontramos Nugget logo no início do jogo.
Nugget é um pequeno querubim que levamos acorrentado no nosso chifres e pode ser utilizado como arma e acessório ao melhor estilo Kratos. Ou seja, podemos usar ele para bater nos inimigos, como corda de escalada e até mesmo usar seus gases para atordoar inimigos. Essa variedade de movimentos podem ser melhorados com alguns upgrades, como aumentar o número de vezes que podemos nos balançar pelo ar ou até a duração da nossa habilidade de escalada.
Não há nada de inovador aqui que já não tenhamos visto em outros plataformas, mas não dá para negar que a jogabilidade é bem implementada e bastante rápida de dominar. A única coisa que prejudica em alguns momentos é a posição da câmera, a qual não colabora com o ângulo da ação.
A única coisa chata em Nugget é que ele não cala a boca, tendo diversas observações sobre qualquer coisa. O que ele fala não é o problema, mas seus balões de conversa aparecem nos locais mais incômodos possíveis, o que cria diversos pontos cegos.
Nate também conta com uma variedade de chifres, que lhe conferem poderes diferenciados. Eles variam entre poder correr, esmigalhar grandes rochas e achar pontos de interesse pelos locais, mas infelizmente eles são muitíssimo mal aproveitados ao longo da aventura, ao ponto de até esquecermos de cada um deles após serem adquiridos.
Quanto aos cenários, eles casam perfeitamente com a proposta de humor mais pesado da narrativa. Logo, além das diversas localidades bizarras, como o interior de uma baleia ou a mansão de um traficante claramente inspirada em Scarface, o jogador também irá se deparar com diversos trocadilhos escatológicos, piadas com peido e objetos fálicos. Isso não é um defeito, mas marca muito o tom +18, o que não pode agradar quem já não é fã desse tipo de humor.
Uma boa sacada para o fator replay está no número de colecionáveis disponíveis em cada um dos quatro territórios. Temos que ficar de olho em gatinhos da sorte, que servem de ofertas para o pecado da Avareza; latas de café, que funcionam como pontos de habilidade para Nugget; e os pequenos unicórnios que oferecemos em sacrifício para conseguirmos novos chifres. A ideia de todos eles serem funcionais é ótima, apesar de alguns deles serem difíceis de visualizar por causa do tamanho, o que faz eles se “fundirem” ao cenário em alguns casos.
Outra observação na parte visual, além da já citada câmera, fica por conta de um bug que ocorre sempre que perdemos uma vida. Ao voltarmos ao último checkpoint acionado, os inimigos que aparecem começam se locomover de maneira travada, e isso continua acontecendo mesmo se eles forem eliminados, causando uma certa confusão em entender se eles realmente foram abatidos ou não.
Por fim, o mapa não é lá muito útil, uma vez que ele não mostra a localidade dos itens colecionáveis, nem mesmo mediante a algum poder desbloqueável. No fim, ele só serve para termos uma leve noção dos pontos de interesse gerais de cada região e contabilizar o que já foi coletado.
Vá para o Inferno… e divirta-se!
Por mais que Hell Pie possa aparentar se apoiar muito em sua proposta escrachada e para maiores de idade, ele consegue entregar o básico de uma experiência plataforma de maneira bastante interessante. Algumas coisas ainda precisam ser polidas e melhoradas, mas, no geral, essa é uma aventura que vale algumas horas de diversão sem culpa.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Hell Pie
Prós
- Jogabilidade criativa e bem aplicada;
- Ótimo level design
- Alguns colecionáveis são difíceis de visualizar
Contras
- Alguns balões de fala do Nugget ficam no meio do caminho
- Os inimigos ficam travados em algumas ocasiões
- A câmera cria muitos pontos cegos
- O humor e as piadas podem ser forçados para quem não curte algo mais “pesado”
- Os chifres são muito subutilizados