Vale conferir um clássico portado com gráficos feios e bugados? Life is Strange 2 veio à luz do Nintendo Switch em fevereiro de 2023. Mesmo com deslizadas aparentes, ferindo em algum aspecto a experiência final da pessoa jogadora, ele ainda é o mesmo jogo de 2018: jogabilidade lenta, com foco narrativo e extremamente crítico em diversas situações do seu belo, tenso e triste enredo.
Aviso: há spoilers leves, sobretudo do primeiro capítulo no texto a seguir.
Desenvolvimento: DONTNOD ENTERTAINMENT
Distribuição: Square Enix
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC, PS4, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: 16 horas (campanha)/20 horas (100%)
Tragédias inesperadas
É na cidade de Seattle (EUA), em que Sean e Daniel Diaz vivem com seu pai Esteban. Sean tem 16 anos e Daniel 9, e depois que sua mãe, Karen, os deixou após o nascimento de Daniel, existe certa melancolia na casa e seu pai dá duro todos os dias no trabalho para sustentá-los. Todos eles são mexicanos-americanos.
O jogo, aliás, apresenta cada personagem com muita calma e cuidado, fazendo-nos interessar por eles e pela trama que se constrói aos poucos. O trabalhador e dedicado pai, o atencioso e tímido irmão mais velho, e o caçula criativo e refutador. Há uma profundidade muito encantadora neles.
Tudo corre bem numa bela tarde de Halloween até que um confronto entre Daniel e o arrogante filho do vizinho deles interrompe a rotina e, devido a provocações pesadas que já vinha fazendo, começa uma briga acalorada contra Sean.
Nesse tempo, Esteban percebe a briga e um policial que se aproxima armado para separá-los e corre para defender os filhos. Com o despreparo total do policial, um acidente terrível acontece e ondas explosivas são ativadas por Daniel, matando o policial e destruindo parte da rua em que vivem.
Nessa catástrofe absurda, Sean se apavora com toda a situação e foge rapidamente com o irmão, iniciando uma jornada e uma fuga sem fim. E que jornada… Life is Strange 2 nos oferece uma das melhores e mais impactantes histórias já vistas nos videogames, fazendo jus à grandeza da franquia.
Life is Strange consiste em controlar e tomar decisões de um ou mais personagens protagonistas inseridos em narrativas interessantíssimas, controlando-os em cenários 3D, explorando diferentes espaços, pegando colecionáveis curiosos e dialogando e/ou interagindo com NPCs (tão bem elaborados quanto os protagonistas) no entorno.
Um port aceitável?
Seria de muita ingenuidade nossa se esperássemos gráficos muito bonitos, como são os de outras plataformas. O novo port do título garante consistência na jogabilidade e a mesmíssima narrativa de sempre, mas deixa muito a desejar em seus aspectos visuais e técnicos.
Life is Strange 2 no Switch não chega a ser sofrido de feio. Tampouco as texturas com pouca definição e qualidade, além de falhas de iluminação, de antisserrilhamento e de sombras, estragam a imersão completamente. O que realmente frustra é: momentos em que há muita demora da renderização de objetos e personagens, a qual finaliza no meio de cutscenes e da exploração em cenários, no geral.
Outro ponto muito ruim do port é a demora dos loadings. É mais fácil finalizar uma parte ou um capítulo e ir fazer outra coisa, pois os carregamentos de todos são demorados demais, o que acaba deixando a experiência meio entediante até o final (ou será os SSDs que já nos deixaram mal acostumados?).
A essência dos lobos
Life is Strange 2 carrega muito significado, e é um título quase que obrigatório para qualquer pessoa jogadora ou não-jogadora. Ele tem um ritmo muito próprio e encanta a cada minuto narrativo que se passa, sendo uma experiência bastante reflexiva, rica em detalhes e em pequenas coisas da vida real, além de não ter medo da crítica social.
Por falar em crítica, são “pedradas” incessantes contra as políticas e a sociedade norte-americana, que costumam ser tão insensíveis, cruéis, racistas e predatórias com estrangeiros, e até pessoas que se desviam de seu padrão de convivência, muito pautado em normas comerciais e ideários tradicionais. Tais críticas nunca envelhecem. E a franquia sempre se reinventa, trazendo múltiplos temas importantíssimos que têm um peso considerável nas problemáticas mundanas.
É brilhante como o jogo tangibiliza a vida real com contos simples e o quão tocantes cada um pode ser para nós, que somos, majoritariamente, consumidores passivos de histórias realistas de pessoas minorizadas pelo sistema. Desde a crítica ao capitalismo que acaba com empregos e, consequentemente, aniquila a satisfação e o prazer de viver dos cidadãos até a liberdade de um grupo de jovens nômades, que topa qualquer trabalho para ganhar seu sustento diário. Fica nas entrelinhas como seria boníssima e feliz a vida fora de um sistema desumano em que vivemos hoje, sem tantas as opressões que este as impõe.
Além de tudo, a trilha sonora do game é incrível, permeando muito bem essa narrativa tão linda e emocionante, contando com músicas licenciadas do Phoenix e do Bloc Party, por exemplo, e belíssimas instrumentais da original.
Conjunto da obra
Ainda que repleto de bugs e feiuras gráficas, algumas capazes de subtrair sua imersão nesse mundo, e loadings muito demorados, Life is Strange 2 carrega o estado da arte da franquia.
Vale muito a pena jogar para conhecer cada segundo de uma narrativa brilhante, especial e muito crítica com relação à sociedade americana, que ainda é tão problemática, discriminadora e cruel, sendo vítima do capitalismo. Só é recomendável, realmente, jogar em qualquer outra plataforma, se possível (e se preparar para finais emocionantes).
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong