Silent Hill 4: The Room conta a história de Henry, um rapaz que se mudou há cerca de 2 anos para o quarto 202 do apartamento onde vive. O protagonista vive de forma pacata, até que certo dia começa a ter um pesadelo que passa a se repetir por noites seguidas. Em um dado momento após estes sonhos terríveis, Henry acorda e ouve seu telefone tocar enquanto uma voz sussurra “me ajude…”. Ao notar que o aparelho na verdade estava com o seu cabo partido, o rapaz se assusta e vai atender um chamado à porta. Chegando lá, nota que alguém deixou uma mensagem dizendo “Não saia. – Walter”, além de que também colocou vários cadeados na porta impedindo qualquer forma de sair dali.
A seguir, um barulho estrondoso ecoa no banheiro e, chegando lá, Henry descobre que existe um buraco em sua parede. Com muito medo, ele desce no buraco e percebe que foi levado para um local completamente sombrio, muito similar ao metrô próximo de seu apartamento mas com aspectos que dão calafrios até em sua alma.
Desenvolvimento: Konami
Distribuição: Konami
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Terror
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataforma: PC
Duração: 9 horas (campanha)/10.5 horas (100%)
Mudança de foco
Tenho uma história bastante particular com Silent Hill 4: The Room. Este foi um dos jogos que vieram juntos com meu primeiro PS2 (usado) que minha mãe me deu quando eu tinha cerca de 12 anos. Meus pais eram divorciados e apenas ela me deixava jogar esses títulos mais “violentos”. Apesar de não ser destinado à minha idade, eu me divertia muito com a ambientação e a história que Silent Hill 4 me contava, mesmo com meu entendimento extremamente limitado do idioma inglês que era baseado em 50% videogames e 50% dicionários de português-inglês. Por isso, de certa forma Silent Hill 4: The Room tem um lugar especial em meu coração por esse aspecto pessoal, bem ao lado de Silent Hill de PS1 que me introduziu ao universo de terror criado por Keiichiro Toyama.
O quarto título da série é um tanto controverso em relação aos anteriores. Como o foco de Silent Hill 4: The Room acabou sendo bem mais em ação, fãs mais antigos da franquia se afastaram devido aos rumos que o jogo da Konami estava tomando. Vindo de um legado de enredos de terror e bastante desconforto psicológico através de uma ambientação tenebrosa, SH4 ainda mantém o espírito marcante de terror e sobrevivência que fez o nome da franquia Silent Hill decolar.
Seu universo é altamente não recomendado para crianças e adolescentes – sim, hoje digo isso -, já que envolve derivações de cultos religiosos, sacrifícios humanos e os elementos mais creepys que alguém possa imaginar em video games. Um dia com Silent Hill e suas noites serão mal dormidas.
Os cenários são grotescos e bizarros, as criaturas possuem um design amedrontador e parecem ter saído diretamente de um pesadelo ao ativar o famoso ruído que indica perigo, enquanto a história se mantém cativante e faz o jogador sempre querer mais mesmo que o medo esteja falando mais alto. Explorar os ambientes também continua sendo uma tarefa divertida e imprevisível, mas que recompensa o jogador com itens úteis para sobreviver e eliminar ameaças. Confesso que dar uma “pernada” por aqui é até mais interessante do que nos títulos anteriores, já que em SH4 não existe um mundo aberto – perfeito para se perder – que te fazem caminhar por vários minutos enquanto consulta um mapa desenhado à mão.
Revisitando cenários
São vários os ambientes por onde Henry passa, e nenhum deles são dignos de um local para passar suas férias. Em SH4 o inferno psicológico nos coloca em cenários de floresta, o próprio metrô, uma prisão, apartamentos e até mesmo o famoso hospital – uma figurinha carimbada em Silent Hill. Porém, como dito acima, as fases não têm um escopo amplo, por isso é bem comum estar confinado em pequenos ou médios locais com passagem (com loading) entre um e outro. Felizmente, o caminho entre os mundos normalmente é tido por meio dos buracos nas paredes do apartamento de Henry, o que torna o backtracking menos tedioso.
No quarto jogo da série existe um reaproveitamento bem grande de todas as fases, o que sinceramente me cansou bastante na época por ter essa obrigação de revisitar várias vezes o mesmo cenário em momentos diferentes. Porém, jogando atualmente consegui perceber que tudo era bem mais curto do que parecia naqueles tempos de PS2, e provavelmente porque agora eu entendo o que se passa no enredo e sei o que precisa ser feito – UFA!
Silent Hill 4 também traz um antagonista misterioso que deixa pistas aqui e acolá sobre seus planos. A missão de Henry passa a ser a descobrir o paradeiro desse possível vilão e principalmente desvendar o que se passa em seu próprio apartamento, já que aparições de espíritos começam a surgir ao avançar na história. Apartamento este que também possui um papel bem importante na jogabilidade como um todo, cujo local troca a visão de Henry de 3ª para 1ª pessoa e te faz ter uma falsa sensação de segurança por causa disso.
Aliás, recomendo fortemente jogar neste momento utilizando o teclado e mouse, já que os controles são uma verdadeira tragédia se você optar por um joystick – abordo melhor mais em frente. Os controles do protagonista já não são lá um grande exemplo de movimentação e precisão, mas o suporte até mesmo aos periféricos mais famosos (controles de Xbox One S e PS4) não são reconhecidos de forma eficiente.
O port 2020
Quando ninguém esperava, a Konami resolveu lançar Silent Hill 4 para PC. Bom, a versão de 2020 conta com algumas melhorias de resolução com suporte até 4K, porém o framerate se mantém em 30 fps como a versão de 2004. Apesar de ser possível conectar um controle e jogar no PC, foi um verdadeiro pesadelo fazer o mapeamento dos comandos.
É sério. Caso esta configuração seja feita dentro do jogo, o sistema vai desvincular um botão caso ele seja atrelado à uma ação diferente – e isso em nem todos os casos -, o que é engraçado já que no arquivo de configuração do joystick nas pastas do jogo isso não acontece.
Mas a pior parte é que não há uma forma nativa de fazer com que SH4 reconheça o analógico direito de seu controle, portanto imagine como é ter que se virar na visão em 1ª pessoa no apartamento de Henry utilizando os gatilhos para olhar para cima e baixo. Resumindo: não é só rodar o .exe no Windows e jogar, porque existe este empecilho que praticamente me fez desistir de experienciar o port usando um controle. Parece exagero da minha parte? Tente para comprovar o que estou dizendo.
Terror à moda antiga
Silent Hill 4: The Room funciona extremamente bem ainda hoje, tanto por causa de sua jogabilidade quanto pelo fato de trazer uma forma de contar história única juntamente à sua personalidade grotesca. Preciso desabafar aqui e dizer que não existe nenhum produto na atualidade que consiga tapar o buraco que a franquia Silent Hill deixou em mim, e olha que tive contato até mesmo com o último jogo (2012), o Silent Hill Downpour – péssimo, aliás.
Como um amante da série, fico bastante feliz por ter a oportunidade de re-jogar este grande clássico em 2020 com resoluções atualizadas, ao mesmo tempo que me entristece por ele ter sido lançado exclusivamente para PC quando temos vários consoles no mercado que seriam plataformas perfeitas para receber esta grande obra.
Esta review foi feita com uma cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Bia Bock