The Lightbringer é aquele que, segundo a lenda, trará de volta a luz para seu mundo, livrando-o da presença maligna que o corrompe. Neste jogo de plataforma 3D, com elementos de combate e puzzle, o protagonista é guiado pelas fases pelo espírito de sua irmã. O jogo também traz elementos de collectathon, com segredos e elementos colecionáveis distribuídos por toda parte.
Desenvolvimento: Rock Square Thunder
Distribuição: Zordix Publishing
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Puzzle, Aventura
Classificação: Livre
Português: Legendas e interface
Plataformas: Switch, PC
Duração: 4 horas (100%)
Isto não são pedras: são monolitos
The Lightbringer parte de uma premissa simples que se desdobra à medida em que a história progride. O garoto, personagem principal, segue os passos de sua irmã e ouve sua voz como um guia para atravessar cada fase. O mundo que atravessa é povoado por algumas poucas pessoas e muitas ruínas, com símbolos misteriosos decorando as estruturas de pedra. Desde o começo, entretanto, é possível notar que ele se encontra corrompido por uma espécie de lama viscosa, um lodo com vida própria que se manifesta como inimigos e como correntes que aprisionam os monolitos que servem de ponto de chegada em cada nível.
O herói está sempre sozinho, mas sua jornada não é solitária: a voz de sua irmã sempre aparece em versos rimados (ao menos no original em inglês) e fornece mensagens motivacionais e dicas de como superar obstáculos e resolver enigmas. Nas primeiras fases, essa guia serve como um tutorial, mas depois é responsável por dar mais informações e tornar a história mais substanciosa e surpreendente. Além dela, o jogador pode encontrar alguns sinos, que funcionam como colecionáveis que dão mais informação sobre o mundo. Não é à toa que o sino, tratado como personagem, é nomeado Lore, termo que em inglês se refere à história pregressa e aos elementos que, ainda que não atuem diretamente no jogo, dão sentido àquele mundo.
Este lodo devanece-se graças às tuas ações
A jogabilidade de The Lighbringer é simples e intuitiva: um pulo duplo, uma cambalhota (que serve para escapar de inimigos) e um botão de corrida são os controles de movimento. Além deles, logo no começo, o jogador ganha acesso a um bumerangue, que se torna a principal forma de atacar, além de interagir com alvos no cenário e elementos quebráveis.
O bumerangue é arremessado com um dos botões, mas também pode ser carregado, para ir mais longe. Ao manter um botão pressionado, o direcional direito se torna uma mira, obrigando a mão direita a se colocar de uma forma bastante desconfortável no controle. Embora esse tipo de arranjo não seja comum, nas últimas fases (as mais difíceis), isso pode ser necessário. Felizmente, é possível configurar livremente as ações de cada botão, permitindo que o jogador busque o esquema que considere mais confortável.
Há quatro mundos em The Lightbringer, sendo que os três primeiros se dividem em quatro fases e um chefe. Cada um deles traz uma temática que interfere no estilo visual e na jogabilidade: ilhas, nuvens e gelo. Também é possível entrar em áreas subterrâneas dentro de cada nível. O mundo final, um pouco mais curto, combina os elementos anteriores para os maiores desafios do jogo. As fases são relativamente lineares em sua maioria, mas contêm algum nível de exploração para resolver todos os desafios disponíveis.
Os níveis estão repletos de colecionáveis: numerosos pontos de luz verdes, alguns poucos e difíceis cristais vermelhos, poções de vida e os já citados sinos que fornecem fragmentos da história. Para que a fase seja considerada “completa” no menu, é preciso capturá-los todos em uma única jogada, premiando a exploração e punindo os erros. Cada vez que se cai na água, se é atingido por um inimigo ou por um elemento hostil das fases, se perde um coração. Quando todos desaparecem, uma tela de game over obriga a começar aquele nível do início.
Não deixe este fracasso te desmotivar
O tamanho das fases e a possibilidade de game over são definitivamente o ponto mais frustrante do jogo. Isso se dá porque os níveis não são curtos e podem levar, em uma primeira exploração, quase meia hora para chegar até o final. Um momento de desatenção ou uma seção, que por qualquer motivo leve o jogador a deixar para trás alguns corações, pode colocar tudo a perder. Em minha experiência, quando isso acontecia, era hora de fechar o jogo e deixar o sentimento ruim decantar por algum tempo.
Jogos difíceis são ótimos, principalmente quando produzem a vontade quase obsessiva de superar os obstáculos e finalmente vencer. Não é o caso de The Lightbringer, cuja dificuldade se transforma em um tipo de frustração desmotivante. É aí que os problemas aparecem e incomodam mais.
Ainda que seja visualmente bem acabado, em alguns momentos parece haver uma discrepância entre o que se vê e os contatos com inimigos ou plataformas. Até mesmo a passagem por uma porta, carregando um item necessário para resolver um desafio, foi problemática e demandou algumas tentativas e erros que não dialogavam com o que se esperava pela imagem. A câmera tem o movimento horizontal ao controle do jogador, mas o ângulo vertical é fixo, o que chega a atrapalhar em alguns momentos. Esses pequenos erros e inconsistências passam despercebidos, a menos que sejam os responsáveis por perder quase 30 minutos de progresso.
Na versão do Nintendo Switch, ainda percebi uma inconsistência no salvamento do progresso. Em alguns momentos, a fase seguinte era liberada mesmo sem ter vencido a anterior; em outros, uma fase recém-completada aparecia registrada sem nenhum item coletado. Esse possível bug acabou servindo para minimizar a frustração de perder um nível, já que dava a possibilidade de seguir adiante sem precisar voltar imediatamente à fase inacabada. Dois erros não fazem um acerto, nem é possível ignorá-los, mas acabaram amenizando o problema.
Fiat Lux
The Lightbringer não traz nenhuma grande novidade aos gêneros com os quais dialoga, mas isso não torna a experiência menos agradável. Talvez hoje collectathons tenham perdido parte do interesse dos jogadores, especialmente se não oferecem motivação para meticulosamente completar cada fase. No caso de Lightbringer, o tamanho do jogo não torna a atividade monótona ou repetitiva, fazendo dele uma boa opção para quem quer ter a experiência de um plataforma em 3D que é difícil, mas possível.
Em alguns momentos, a frustração é inescapável, seja pela opção dos desenvolvedores de criar fases longas sem pontos de salvamento intermediário, seja por alguns bugs que certamente passaram despercebidos (e espero que sejam resolvidos em atualizações futuras). Tampouco a história traz muita inspiração, mas não é esse o foco da experiência. O importante é que é agradável controlar o personagem principal e resolver os desafios de cada mundo. O belo visual e uma trilha e efeitos sonoros bem feitos acompanham e ajudam a mergulhar naquele mundo de desafio e mistério.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong