Do final dos anos 90 ao início dos anos 2000, vimos uma explosão de jogos de estratégia em tempo real (os famosos RTS), nos quais o jogador controla uma pequena quantidade de heróis com habilidades únicas. Seja Commandos, Desperados ou Robin Hood, o gênero fez um particular sucesso nesta época, até se tornar mais nichado.
Em 2016, Shadow Tactics tentou ressuscitar o gênero, porém são poucos jogos que permaneceram nessa mesma pegada. O mais novo deles é The Stone of Madness (Pedra da Loucura), desenvolvido pela The Game Kitchen, mesmo time do jogo de ação e plataforma 2D, Blasphemous.
Desenvolvimento: The Game Kitchen|
Distribuição: Tripwire Interactive
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Estratégia, Aventura
Classificação: 16 anos (violência extrema, nudez, temas sensíveis)
Português: Legendas e interface
Plataformas: PS5, Switch, PC, Xbox Series X|S
Duração: 25 horas (campanha)
Uma estética única e sombria, aos moldes de Blasphemous

Trazendo a estética cristã espanhola, o jogo se passa no sombrio 1799, quando um padre é injustamente preso por um inquisidor. Agora, com a ajuda de personagens um tanto diferentes dos protagonistas que estamos habituados a controlar em outros jogos, precisamos encontrar uma forma não só de fugir, mas também de descobrir e revelar os segredos que se passam dentro do monastério.
Nesse RTS inteligente e cheio de mistérios, controlamos um padre, uma velha surda, uma menina sapeca, um brutamontes com deficiência intelectual e uma mulher que não foge de uma boa briga.
Esse rol de personagens diferentes e esquisitos vem acompanhado de uma bela arte feita à mão, com cenários isométricos de tirar o fôlego – tudo trazendo a mesma sensação sombria e macabra em um monastério, no maior estilo artístico de Blasphemous.
Habilidades e traumas

Diferente dos clássicos RTS, The Stone of Madness traz muitos elementos de RPG à mesa, inclusive falas e cenas mais frequentes durante as missões.
Apesar desse fator aprofundar a história, ele reduz consideravelmente o passo e a velocidade do jogo. Em todos os capítulos, a ação passa por diversas paradas para ocorrer uma conversa com NPC, diferente de Commandos ou Shadow Tactics, onde a ação e a estratégia ocorrem com mais frequência e por momentos mais longos.
O impacto é ainda maior quando o tempo para realizar as ações é muito curto. Os personagens tem um tempo limite para explorar e avançar no jogo. Quando o dia acaba, o jogador pode aproveitar a noite para dar uma explorada extra no cenário. Porém, The Stone of Madness fica consideravelmente mais difícil devido aos guardas e os espíritos chamados de Anima que perambulam nesse horário – e esse tempo é bem curto.
Ao fim de cada dia, os heróis voltam à cela, onde é possível realizar algumas ações especiais de cada personagem. Isso traz uma atmosfera ímpar, ao voltar todo dia para uma base onde o jogador pode planejar, comprar e fabricar novos itens, entre outras ações limitadas de cada personagem.
Difícil mas recompensador

Seguindo a tradição nesse gênero, The Stone of Madness também é muito difícil – ainda mais considerando que cada personagem possui uma fobia que reduz sua sanidade mental e evita que possa realizar certas ações em determinados momentos.
Leonora (a moça que não foge de uma luta), por exemplo, não consegue fazer nada próximo do fogo, enquanto que Eduardo (o brutamontes com deficiência intelectual) não pode ficar no escuro, contrastando o que cada um pode e não pode fazer e deixando o jogador em verdadeiros apuros em muitos momentos do jogo.

As fobias dos personagens trazem fortes limitações, deixando o jogo extremamente difícil. Isso é bom, porque obriga o jogador a usar praticamente todas as habilidades que cada personagem tem. Além disso, é possível adquirir experiência para expandir as habilidades individuais, assim criando novas possibilidades e ações – mas isso não quer dizer que o jogo ficará mais fácil.
No entanto, The Stone of Madness brilha em seus caminhos não lineares. Apesar de não serem tão variados, as alternativas de ação abrem caminhos inteligentes e novas possibilidades para chegar ao objetivo final, trazendo uma sensação muito boa ao se arriscar em encontrar esse novo caminho, especialmente quando o jogador escolhe uma rota que traz recompensas, como um atalho ou itens para ajudar na aventura.
É nichado, mas você deveria experimentar
The Stone of Madness traz o bom e velho RTS na mesa, e adiciona diversos elementos que enriquecem a trama e a jogabilidade. Mesmo que esses fatores reduzam o passo e a velocidade do jogo, The Stone of Madness continua sendo um grande jogo de estratégia, inteligente e cheio de charme em sua arte.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Julio Pinheiro