Townscaper não é um jogo, mas uma ferramenta minimalista e relaxante de construção de uma cidade. Cabe ao jogador inserir blocos de construção como bem quiser e observá-los tomar a forma de uma vila insular, ao estilo arquitetônico norueguês. Esse brinquedo experimental se alimenta da imaginação e incentiva a criatividade.
Desenvolvimento: Oskar Stålberg
Distribuição: Raw Fury
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Simulação
Classificação: Livre
Português: Sim
Plataformas: Switch, PC
Duração: 3 horas (campanha)
Preenchendo o vazio
Imagine-se o leitor, sozinho no meio de um oceano de águas imóveis e sem nada no horizonte. Nesse cenário amplo, um toque na tela ou em um botão do controle cria uma plataforma no meio da água. Ao clicar novamente, uma casinha colorida surge e passa a ocupar a paisagem. Novos cliques vão adicionando calçadas, escadas, prédios e casas. Ampliam-se as construções já existentes; as casas simples se tornam casarões que lembram igrejas ou castelos; surgem faróis, palafitas sobre as águas, jardins.
Por trás de controles simples, parece existir um mecanismo complexo que dá vida aos blocos. Não se trata apenas de empilhar construções iguais, mas criar padrões geométricos tridimensionais que são lidos e se manifestam de forma diferente na tela. É aí que Townscaper se mostra especial, ao preencher de detalhes belos e inesperados essa grelha tridimensional dentro da qual o jogador pode atuar.
Ao aproximar a câmera, é possível ver pássaros brancos nos telhados, bandeirinhas penduradas entre prédios, mirantes, fontes, canteiros de flores e bancos de descanso. Townscaper se encarrega de deixar explícita a imaginação de uma criança que brinca de empilhar blocos e encaixar peças, construindo seus próprios mundos e povoando-os de histórias e personagens.
O produto final dessa brincadeira – as cidades – ainda são totalmente despovoadas, o que lhes dá um ar misterioso e um pouco melancólico. Por um lado, gostaria que o jogo povoasse essas construções de pessoas, mas, por outro, aprecio o espaço que se abre para imaginar as vidas e histórias que habitariam aquele mundo de fantasia que criei.
Sei Bella Come Il Sole
Embora simples, Townscaper oferece recursos interessantes para facilitar seu uso. Sem dúvida, o modo mais confortável para construir as cidades é com o Switch em mãos. Os toques na tela funcionam com precisão e é a forma mais eficiente de construir muitos blocos em série, criando a fundação da cidade ou suas grandes estruturas. Com os controles, seja na TV ou no modo handheld, a experiência funciona bem, mas pode ser um pouco mais lento incluir cada um dos blocos.
Townscaper se inicia com o cenário pronto para ser preenchido, mas é possível também abandonar um projeto na metade e deixá-lo salvo enquanto se inicia um novo. Até onde explorei, não cheguei em um eventual limite de save slots, de modo que essa não parece ser uma limitação. Há dois menus, de cada lado da tela: no da esquerda, o jogador seleciona a cor de suas construções a partir de paletas pré-estabelecidas; no da direita, há as opções de salvamento e outros recursos estéticos.
Townscaper incentiva a produção de imagens das criações: há muita liberdade com a câmera e um controle no menu à direita que permite mudar levemente o aspecto das construções. Dentre esses recursos, o mais interessante é um plano que permite controlar a posição do sol e, consequentemente, a iluminação da cidade. É possível simular sombras, alvoradas, entardeceres e até o período noturno. Tudo é belíssimo, mesmo que o sol não seja visível nessa simulação.
Ninguém nunca pensou no que há para além do rio da minha aldeia
Como descrever um jogo sem jogabilidade? A única maneira é explicar suas possibilidades, dentro daquilo a que se dispõe. Como um simulador de cidade, Townscaper é belo e relaxante, um brinquedo que permite se perder na imaginação. Ainda assim, é possível sentir falta de algumas coisas: desafios ou cenários específicos poderiam mostrar para os mais impacientes as possibilidades escondidas dentro do algoritmo e aumentar a quantidade de pessoas interessadas. Um sistema de compartilhamento de cidades seria extremamente interessante, permitindo que a imaginação seja dividida e consequentemente se amplie. É uma pena ser preciso buscar em fóruns na internet, canais de vídeo e postagens nas redes sociais o resultado da criação de outras pessoas. Mergulhar na imaginação alheia daria recursos para que Townscaper fosse ainda mais imersivo.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Townscaper
Prós
- Relaxante e inspirador
- Qualquer cidade criada é bela
- Muita liberdade de criação com controles mínimos
Contras
- É preciso criar os próprios objetivos para manter o interesse
- Não há ferramentas dentro do jogo para compartilhar cidades
