Além da morte, um dos fatos certeiros da vida é que a ININ Games irá reviver alguma franquia dos anos 90 com um port ou coletânea. Só que dessa vez ela não só fez isso, mas aproveitou para corrigir uma grande mancada, pelo menos de maneira parcelada.
No ano passado, a publisher lançou o compilado Turrican Flashback, mirando os corações de quem gosta de um desafio hardcore à moda antiga. O problema é que só foram trazidos quatro jogos e mais nada, fora a receita de bolo que a ININ usa para os seus ports, que consiste em: filtros de tela, diferentes formatos de exibição, save slots e a possibilidade de rebobinar.
Quem conhece Turrican ficou bem mordido com a falta de carinho que a franquia recebeu e, agora, para dar o devido destaque que ela merece, a empresa lançou os títulos Turrican Anthology Vol. I e Vol. II. São 10 jogos ao todo, divididos em duas coletâneas que, agora sim, conseguem colocar em evidência toda a glória desta série clássica.
Desenvolvimento: Factor 5, Ratalaika Games
Distribuição: ININ Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Arcade, Ação
Classificação: 10 anos
Português: Não
Plataforma: PS4, Switch
Duração: Sem registro
Prepare-se para encrenca em dobro
Os dois volumes de Turrican Anthology reúnem todos os títulos lançados em suas melhores versões:
Vol. I
- Turrican (1990) – Amiga
- Turrican II: The Final Fight (1991) – Amiga
- Super Turrican (1993) – SNES
- Super Turrican Director’s Cut (2018) – SNES
- Mega Turrican Score Attack (1994) – Mega Drive
Vol. II
- Turrican 3 (1993) – Amiga
- Mega Turrican (1993) – Mega Drive
- Mega Turrican Director’s Cut (2022) – Mega Drive
- Super Turrican 2 (1995) – SNES
- Super Turrican Score Attack (1993) – SNES
Nota do redator: como a única diferença de fato entre os dois volumes são os jogos que eles contêm, ambos serão avaliados como um único conjunto.
Apesar de alguns títulos serem duplicatas, como é o caso de Super Turrican e Mega Turrican, foram preservadas as diferenças gráficas entre cada console, bem como era a performance da época. Esse tipo de lançamento é uma ideia muito acertada, pois coletâneas que possuem todos os títulos, mesmo que com algumas duplicatas, são bem mais interessantes.
Além disso, cada um deles tem sua própria galeria e coleção de sons, incluindo os originais e os remixados, que só são liberados após completarmos seu respectivo jogo. Também é possível ver as capas alternativas, que variavam de acordo com a região de lançamento, bem como os manuais. Alguns deles estão disponíveis em mais de cinco línguas, mas nenhum em português, infelizmente.
Entretanto, a grande inconveniência é o fato do conteúdo estar dividido em dois compilados separados, principalmente pelo preço. Cada volume custa bem mais que diversos títulos considerados de orçamento médio, e isso em ambas as plataformas. Ou seja, quem quiser comprar os dois, vai desembolsar um valor acima de R$ 350, que é o preço cobrado pela maioria dos Triple A do mercado atual, mesmo que em fase de pré-venda.
Pode parecer exagero da minha parte, mas eles são esteticamente iguais em toda sua apresentação, o que fatalmente faz surgir o pensamento de “por que não colocar tudo em um lugar só?”. Mesmo os fãs da franquia se sentirão desmotivados a pagar tão caro para jogar ports com mais de três décadas de vida.
Um cão velho sim, mas com novos truques
Não há muito o que falar em relação ao visual dos jogos da série, tampouco da sua jogabilidade, pois elas foram mantidas de maneira intacta. Isso é ótimo tanto para os puristas daquela época quanto para quem quer se aventurar em Turrican pela primeira vez. A graça real está nas diversas opções existentes para deixar cada aventura ao gosto do jogador.
Quanto aos controles, é possível jogar na configuração original, seja arcade, consoles Amiga, SNES ou Mega Drive, ou em uma configuração mais moderna, utilizando de maneira mais adequada os dois analógicos existentes nos controles de PS4 e Switch. E para quem gosta de uma mistureba, é possível customizar um pouco de cada e deixar do jeitinho que mais lhe agrada.
Por mais simples que isso seja, é bom lembrar que Turrican é uma série com uma dificuldade bastante acentuada e que exige reflexos rápidos, principalmente na hora de pular entre plataformas e atirar. Por isso, é uma mão na roda otimizar os comandos extras, como a do laser que, apesar de poder ser disparado em qualquer direção, não nos permite pular durante seu uso, e a habilidade de nos locomovermos como uma bola, que aumenta a velocidade, mas não pode ser guiada.
Como citado antes, também estão disponíveis os bons e confiáveis recursos presentes em todos os ports da dupla Ratalaika/ININ Games. Podemos adicionar scanlines e bordas arredondadas, para simular um fliperama ou televisão de tubo, ou jogar com tudo liso e em disposição esticada em widescreen (16:9). A opção diferente aqui é a possibilidade de, caso escolhamos a disposição 1:1 ou 4:3, utilizar apenas a totalidade vertical da tela, preencher as laterais da tela com uma espécie de continuidade do mapa, criando uma “falsa” ilusão de que a tela está 100% completa, mas sem ficar esticada como no 16:9.
Outra novidade que dá as caras em Turrican Anthology é a possibilidade de manipular um mapa em segundo plano em tempo real. A qualquer momento, e em qualquer jogo, podemos congelar tudo e ter um panorama do cenário para saber aonde devemos ir. Se isso não for o bastante, também há a opção de tornar visível áreas e itens que normalmente ficariam invisíveis e a trajetória das armadilhas e inimigos na tela. Se por um lado fica mais fácil prever o que pode acontecer, por outro a visão fica altamente poluída. Por isso use apenas por sua conta e risco.
Se ainda assim estiver complicado de avançar, o save state e o rewind estão presentes para te dar uma mãozinha. Cada jogo conta com seis slots diferentes para salvar seu progresso a qualquer momento. Já o rewind é mais para quem quer refazer decisões recentes, podendo retroceder em até 10 segundos no tempo.
A cereja do bolo fica por conta da sessão de trapaças. É possível utilizar os códigos originais para conseguir alguns benefícios que tornarão a aventura menos traumática, mas isso vem com um preço bem pesado: a conquista de troféus é desabilitada. Pois é: você pode trapacear, mas abre mão de aumentar a coleção de conquistas.
É possível ter a experiência com todos os recursos citados no Standard Mode, e aí você é livre para usar os códigos que quiser. Agora, se a sua meta realmente é ter a experiência da maneira como ela foi concebida em sua época de origem, então a sua pedida é o Challenge Mode, no qual você não poderá contar com nada além da sua habilidade e um pouco de sorte.
Para quem quiser conferir a trilha sonora de todos os títulos da coletânea, mas não conseguiu fechar os jogos para liberar a jukebox especial, elas podem ser ouvidas na íntegra na página do compositor oficial da saga, Chris Huelsbeck.
Quase perfeito
Turrican Anthology faz um trabalho quase perfeito em trazer uma franquia inteira de maneira impecável, contando não só com os jogos, mas também com uma belíssima memorabília e diversos recursos que empolgam até os mais exigentes. Infelizmente, a estratégia de dividir o conteúdo em dois volumes (caros) é um tiro no pé que afeta negativamente quem gostaria de ter um primeiro contato ou reviver bons momentos proporcionados pelo soldado prateado.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Turrican Anthology Vol. I e II
Prós
- Todos os jogos da franquia Turrican estão disponíveis, incluindo as versões de diretor
- Diversos recursos como save state, rewind, filtros de tela e cheats
- Uma extensa memorabilia, com galeria, capas alternativas, manuais e as trilhas sonoras originais e remixadas
- Modos de jogo separados para quem quer algo mais leve e quem quer o desafio sem auxílios
Contras
- Tudo poderia estar reunido em um volume só
- A dificuldade pode afastar jogadores novatos
- Preço alto