Embarque na viagem de uma vida, ao acompanhar Whit Anderson em uma jornada surreal em que ele pode assistir momentos de sua vida, com uma virada: cada nova decisão feita pode alterar permanentemente o curso de seu destino. O que você mudaria em sua vida, caso tivesse a oportunidade?
Desenvolvimento: Armature Studio
Distribuição: Armature Studio
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: 16 anos
Português: Não
Plataformas: PS4/, PS5
Duração: 16.5 horas (campanha)
O passado é prólogo
Ao resgatar sua fiel companheira canina de um trágico destino em meio à uma tempestade colossal, Whit Anderson se vê isolado de todos os seus entes queridos, ao mergulhar no abismo e ressurgir em um mundo extraordinário onde futuro e passado se entrelaçam e o poder de mudar seu destino está em suas mãos. Com essa premissa, a Armature Studio nos apresenta um jogo, de escolhas, narrativo que mescla os acontecimentos corriqueiros da vida com um mundo etéreo onde o personagem consegue reviver os eventos que marcaram sua jornada e o levaram a ser o que ele é atualmente – e pode escolher livremente os rumos de sua vida dali em diante.
Cada capítulo de Where the Heart Leads nos coloca em um momento específico da vida de Whit Anderson e sua família. Acompanhamos a infância de Whit e seu irmão Sege se metendo em encrencas na fazenda da família, sua adolescência e a paixonite pela vizinha Rene, as agruras da faculdade e os problemas e angústias da vida adulta. Cada capítulo apresenta uma história fascinante repleta de NPC interessantes, notas com informações e curiosidades sobre a bucólica cidade de Carthage e seus moradores peculiares espalhadas pelo cenário e, principalmente, muitas escolhas.
É uma premissa bastante conhecida dos jogos narrativos, em que as escolhas importam e, em Where the Heart Leads, isso é elevado à enésima potência. Escolhas simples podem gerar mudanças enormes na vida de Whit ou das pessoas ao seu redor. Isso pode (e deve) fazer com que os jogadores passem uma boa quantidade de tempo encarando uma bolha de texto, tentando não arruinar a vida de Whit e sua família com uma escolha malfadada.
A narrativa e a construção de personagens são fundamentais à estrutura de Where the Heart Leads e são nesses aspectos que ele mostra a que veio, com diálogos ricos e filosóficos dividindo momentos com piadinhas infames e a boa e velha fofoca das cidades pequenas. Cada diálogo traz uma informação que pode ser útil ao longo da jornada de Whit, e conversar com todos os habitantes disponíveis é uma ótima estratégia para tomar boas decisões ao longo da jornada – e necessário para acessar algumas narrativas secundárias que aparecem somente em alguns episódios.
Realidade ou Fantasia?
A construção da narrativa de Where the Heart Leads é de extrema qualidade, o que o destaca em um gênero estruturado na capacidade de contar uma boa história, porém, nem tudo são flores na cidade rural de Carthage. O jogo apresenta um loading inicial bastante demorado, nos padrões vistos em GTA 5 e em Final Fantasy 15 no PlayStation 4, e, uma vez que tudo é carregado, a demora não se justifica, pois diferente dos títulos anteriormente citados, os gráficos cartunescos e paisagens em aquarela de Where the Heart Leads não deveriam demorar tanto assim para surgirem.
Outro ponto que pode incomodar a maioria dos jogadores é durante a interação com outros personagens, a qual requer que o balão indicando a possível interação se transforme em um X quando Whit se aproxima dele, porém, esta distância nem sempre está bem calibrada, podendo lte fazer circular um personagem até que o X apareça, algo que obviamente pode se tornar frustrante.
Um elemento sempre presente em Where the Heart Leads é o texto escrito. Ele não possui dublagem então todo o diálogo ocorre através de balões de texto que aparecem acima dos personagens – tal qual nas histórias em quadrinhos. Assim, a necessidade absoluta de uma boa capacidade de leitura é um fator a se considerar, especialmente pela falta de localização para o português. Nesse sentido, uma das ferramentas mais interessantes e úteis é o log de Texto, no qual a transcrição dos últimos diálogos exibidos está acessível ao apertar L2, o que vem a ser um ótimo recurso ao retomar a jogatina após uma pausa, pois aqui não é informado de maneira direta quais tarefas precisam ser feitas, sendo extremamente necessário o uso do log para esse fim.
A cidade fictícia de Carthage vai além de um simples cenário para se tornar um personagem secundário em Where the Heart Leads. Acompanhamos as mudanças não apenas no núcleo familiar de Whit, mas também nos NPCs e na cidade que vai se transformando ao longo dos episódios, partindo de uma cidadezinha rural estagnada no tempo para uma cidade em modernização e expansão.
Uma escolha acertada dos desenvolvedores foi a utilização do estilo de aquarela para os cenários que, por si, já traz uma aura bucólica e um tanto surreal de cidades rurais. Já uma escolha controversa foi a representação dos personagens, que, à exceção de Whit e sua companheira canina Casey, são apenas silhuetas translúcidas o que passa a estranha sensação de que estamos falando com seres etéreos – o que faz perfeito sentido na premissa geral, mas ainda assim causa estranheza e pode dificultar a conexão de algumas pessoas com os personagens.
Uma montanha-russa de emoções
O que mais chama a atenção em Where the Hearts Leads é a ideia de que absolutamente toda decisão traz consequências, e o conjunto dessas decisões se torna a vida que o jogador escolheu para Whit. Nessa trama não há poderes mágicos que nos permitam voltar no tempo e desfazer nossas escolhas, e o efeito borboleta pode ser visto em toda sua glória quando um simples telefonema pode transformar totalmente a vida de um dos membros da família, para o bem ou para o mal – e tudo depende de você.
Não existem escolhas certas ou erradas, e devemos usar apenas o bom senso para a maioria das decisões, o que pode levar a muitos minutos observando a tela nos perguntando o que faríamos em determinada situação. É um tremendo feito narrativo construir toda uma história a partir de inúmeras sucessões de escolhas sem parecer algo mecânico e forçado, e a Armature acertou em cheio, pois Where the Heart Leads é bastante fluido e os diversos saltos temporais não parecem cortes abruptos na narrativa, e sim suaves transições entre os atos.
Apesar dos tropeços em algumas mecânicas, Where the Heart Leads nos apresenta uma história cativante e que fará muitos refletirem sobre as próprias vidas e as escolhas que os levaram até ali. Where the Heart Leads é recomendado aos apreciadores de walking simulators e a todos que apreciam uma excelente história com diversas reviravoltas surpreendentes e muita emoção.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores.
Revisão: Jason Ming Hong