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Review Lost Ember (Switch) – Em busca da Cidade de luz

Em Lost Ember somos apresentados a um mundo dominado pela natureza, onde a fauna e a flora são algo pulsante e exuberante. Dos seres humanos encontramos apenas vestígios, como ruínas de templos e zigurates, que nos indicam uma organizada civilização antiga. Desenvolvido e publicado pelo estúdio indie alemão Mooneye Studio, o jogo foi lançado inicialmente em novembro de 2019 para PC, PS4 e Xbox One. E no último dia 24 de setembro chegou também para o Nintendo Switch.

Desenvolvimento: Mooneye Studio
Distribuição: Mooneye Studio
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Exploração, Puzzle
Classificação indicativa: Livre
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: 4.5 horas (campanha)/ 15.5 horas (100%)

A brasa perdida

O jogo começa apresentando um ritual fúnebre
O jogo começa apresentando um ritual fúnebre.

O jogo começa apresentando um ritual fúnebre e a relação de um soldado do imperador dessa civilização antiga – os Yanranas – com sua filha, Kalani. Mais à frente passamos a encarnar o papel de uma loba negra, que nada mais é do que o espírito encarnado de Kalani. Uma “brasa perdida” (lost ember) que não conseguiu fazer a passagem para a Cidade de Luz (uma espécie de Paraíso) e que voltou ao mundo como uma besta selvagem.

Durante toda a nossa jornada somos auxiliados por um companheiro espectral e com a sua ajuda Kalani vai coletando fragmentos de sua própria história de vida, revive momentos chaves que antecederam sua morte e, dessa forma, aos poucos, vamos juntando todo o grande quebra-cabeça que explica o motivo de sua permanência no plano terrestre.

A história – apesar de previsível para o jogador mais atento – é bela, delicada e possui algumas reviravoltas. Ela consegue prender a nossa atenção do início ao fim. Aqui, na verdade, somos jogados numa jornada de perdão e autoconhecimento. Nosso companheiro espectral se encarrega de narrar os fatos apresentados em tela. Algo que pode, inclusive, ser desativado pelo jogador, caso queira abraçar uma jornada mais subjetiva, sutil e contemplativa.

Coletando os vestígios do passado

Ao longo do jogo vamos rememorando um pouco da história de Kalani e seu povo
Ao longo do jogo vamos rememorando um pouco da história de Kalani e seu povo.

Mas, do que se trata o jogo? Lost Ember é um game de aventura e exploração onde devemos desbravar o vasto mundo selvagem atrás de informações sobre o passado de Kalani e a relação da personagem com o seu pai.

Ao longo de nossa jornada podemos encontrar alguns colecionáveis como relíquias da civilização antiga e cogumelos que nos ajudam a abraçar um pouco mais da cultura dos Yanranas. Não há aqui quebra-cabeças complexos que o faça empacar no jogo ou inimigos a abater com golpes poderosos. O game é um passeio, quase uma história interativa. Trata-se de uma experiência totalmente narrativa e contemplativa onde devemos apenas seguir em frente, de um ponto ao outro, no mundo inóspito que fomos apresentados.

Na verdade, toda a dinâmica do jogo consiste em coletar fragmentos das memórias de Kalani para com isso compreendermos a trama como um todo. Nossa simpática loba pode assumir a forma de vários animais do mundo que vamos desbravando. Esse poder é um dos poucos elementos de puzzle existentes, pois certas áreas só são possíveis de acessar com determinado animal. Nada muito complicado. Muito pelo contrário! É algo bem intuitivo e tranquilo. Dessa forma, trilhar o caminho rumo ao desfecho da trama do jogo requer que a gente assuma a forma de vários animais que topamos no caminho, como tatus, peixes e aves.

Cada um desses animais entregam uma experiência de gameplay diferente, apesar dos comandos serem parecidos. Ir alternando o controle por diversas aves de um bando enquanto eles sobrevoam cachoeiras e florestas, por exemplo, é algo visualmente bonito e muito divertido de fazer. Os comandos são simples e diante da ausência de um game over ou de um desafio um pouco maior, até dá para relevar algumas falhas na resposta dos controles que vez ou outra acontecem.

No papel da loba podemos – além de assumir a forma de outros animais – correr, saltar, focar para descobrir alguns vestígios específicos pelo cenário e uivar. Esse último comando serve tanto para nos comunicarmos com nosso companheiro espectral como para rememorar nossas lembranças em partes específicas do cenário, que se apresentam em forma de fogueiras ou pontos luminosos.

Belo visual

O visual de Lost Ember é muito bonito.
O visual de Lost Ember é muito bonito.

O visual do game é muito bonito. Os desenvolvedores nos apresentaram um mundo tridimensional com texturas suavizadas em cel-shading que lembram um pouco (só um pouquinho) os cenários de Breath of the Wild. Não há um mapa, nem quaisquer outras informações na tela. É apenas a loba, o seu companheiro espectral, suas recordações e a natureza.

Nesse ponto, Lost Ember me lembrou um pouco outro jogo, lançado também em novembro do ano passado, chamado Spirit of the North, desenvolvido pela Infuse Studio e publicado pela Merge Games. Porém, a presença dos diversos animais e do nosso companheiro espectral atenuam a sensação de solidão, diferente do joguinho da raposa vermelha. Aqui o mundo é mais orgânico e vivo. As aves voam em bandos, os tatus se escondem em tocas, os cardumes tentam vencer a correnteza dos rios e por aí vai. Além disso, podemos interagir com todos esses animais na medida que conseguimos assumir a forma de qualquer um deles.

As melodias de Lost Ember são belíssimas. Trata-se de composições originais e orquestradas que dão o tom certo ao jogo. Digo isso porque elas não são repetitivas, silenciam em pontos cruciais e ajudam na nossa imersão na vastidão desse mundo selvagem. Em linhas gerais, as músicas casam bem com a narrativa e ajudam – como tem que ser – a contar a história. Como um bom elemento de gameplay, elas são suaves, tocantes e crescem no jogo em momentos certos.

Apesar do belo trabalho dos desenvolvedores no design do jogo, Lost Ember possui alguns problemas na versão do Nintendo Switch como algumas quebras de polígono (dependendo do ângulo da câmera); erros de colisão que fazem com que partes do corpo da loba entrem em pedras e paredes; alguns leves travamentos; e quedas de framerate em certos pontos do jogo. Estou citando esses problemas porque foi algo que presenciei durante minha jogatina, mas é bom frisar que de forma geral eles não chegam a atrapalhar nossa experiência.

Experiência na medida

Vale a pena se aventurar pelas ruínas da antiga civilização Yanrana e acompanhar a jornada da “brasa perdida”.
Vale a pena se aventurar pelas ruínas da antiga civilização Yanrana e acompanhar a jornada da “brasa perdida”.

Com um belo visual, músicas orquestradas, desafio leve e um gameplay focado na narrativa, Lost Ember se apresenta como uma boa opção agora também para os donos do Switch. A sutileza da história é algo que contagia e que te prende. Somos instigados a descobrir mais sobre o passado de Kalani, o motivo dela retornar ao mundo como uma besta selvagem e não ter ascendido à luz como faísca de um fogo, para assim entrar na Cidade de Luz. Apesar do foco na narrativa, toda experiência foi muito bem medida e o jogo termina antes de ficar chato ou repetitivo. Mesmo com alguns problemas técnicos, o game brilha, fazendo valer muito a pena se aventurar pelas ruínas da antiga civilização Yanrana e acompanhar a jornada da “brasa perdida”.

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Bia Bock

Lost Ember

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Belos gráficos
  • Cenários grandiosos
  • Músicas orquestradas
  • História cativante

Contras

  • Problemas de polimento
  • Pouco conteúdo