Concord é o mais novo jogo de tiro da Sony, criado pelos americanos da Firewalk Studios. O título é um hero shooter que coloca 10 jogadores em confrontos online, oferecendo uma boa jogabilidade e um foco narrativo incomum para o gênero. No entanto, a falta de características distintivas, o alto custo do pacote e o estágio inicial do conteúdo prejudicam totalmente o potencial da experiência.
Desenvolvimento: Firewalk Studios
Distribuição: PlayStation Publishing LLC, Sony Interactive Entertainment
Jogadores: 10 (online)
Gênero: Tiro
Classificação: 12 anos
Português: Interface, dublagem e legendas
Plataformas: PC, PS5
Duração: Sem registros
Hero shooter com narrativa
No jogo, controlamos Freegunners, aventureiros que trabalham como pistoleiros de aluguel e que ganham a vida com trabalhos que ninguém quer aceitar. Eles fazem parte da tripulação da nave da Estrela-do-Norte e entram em confrontos contra rivais por motivos ainda pouco elucidados pela narrativa. Sim, pela narrativa.
O grande diferencial de Concord é que, apesar de ser um hero shooter focado em partidas online, o jogo também possui uma história e lore extensiva. A trama é desenvolvida por meio de cutscenes que serão lançadas ao longo das temporadas – ou seja, não é possível ir jogando e progredindo na história. Para ver o que acontecerá na trama, será necessário retornar ao jogo no decorrer do tempo.
Inicialmente, não há um grande desenvolvimento sobre tudo que está acontecendo na história ou até mesmo nas relações entre os personagens. Então, a princípio, não há nada que possa servir como uma razão clara para voltar ao jogo e acompanhar os próximos eventos. Sabemos apenas que cinco membros da tripulação lutam contra outros cinco de uma rival e que cada Freegunner representa uma função diferente nas batalhas, todas necessárias para que o time vença.
Afinal, o próprio nome do shooter vem de uma forma simplificada do termo “concordância” em latim, então é fundamental agir em harmonia com a equipe para suceder. Não por acaso, o jogo concede vantagens dependendo da organização do coletivo, o que põe uma ênfase bastante estratégica na escolha dos personagens. Os 16 membros do elenco nesse lançamento também podem ser alternados com versões diferentes deles mesmos, com outras habilidades e vantagens, através do sistema de variações e de criação de tripulações, que permite a seleção personalizada dos herois disponíveis no meio das partidas, já que somente 12 deles podem participar do time.
Um jogo de tiro online como qualquer outro
No geral, Concord possui uma boa jogabilidade. A gameplay é mais metódica do que a de outros shooters, com uma movimentação lenta e pesada, além de um TTK (tempo para matar) substancialmente longo, o que abre espaço para reagir facilmente às investidas inimigas. Concord tem suporte ao crossplay, então as bases de jogadores do PC e do PS5 estão unidas, garantindo tempos de criação de partidas rápidos e curtos, apesar da baixa popularidade do game.
A jogatina é dividida em modos de pancadaria, centrados em partidas casuais focadas em eliminações e com ressurgimentos rápidos, além do modo de superação, que, como o nome sugere, é destinado a superar os oponentes com táticas e estratégias enquanto se capturam e defendem objetivos. Por fim, há o modo de rivalidade, que é o tradicional competitivo com até sete rodadas, exigindo um constante trabalho em equipe, em duelos sem respawns. Concord também oferece alguns modos para um jogador, focados em completar missões de treinamento, além de um guia em texto que explica tudo que precisa ser aprendido sobre o jogo.
Entretanto, o conteúdo oferecido não é exatamente distintivo em relação a outros jogos de tiro em primeira pessoa. Um dos melhores modos, por exemplo, é praticamente idêntico ao “baixa confirmada” da franquia Call of Duty, no qual é preciso coletar dog tags dos rivais para que suas mortes contem para o placar. De certa forma, tudo nesse jogo é apenas mais do mesmo, sem nenhuma grande inovação – só a roupagem estética é diferente, mas isso é insuficiente.
Gráficos sem personalidade
Visualmente, Concord não chega a ser um jogo feio. As texturas têm boa qualidade, a ambientação é bem detalhada, e as animações, tanto das armas quanto dos personagens, são espetaculares. A versão de PC oferece uma performance satisfatória, suportando até a geração de quadros da AMD, que garante uma taxa de frames alta. Essa função é extremamente bem-vinda, uma vez que, apesar de ser bem otimizado, Concord é consideravelmente mais pesado do que outras alternativas do mesmo gênero.
Embora o shooter acerte no lado técnico, ele erra na direção artística. Concord tenta claramente adotar um estilo inspirado pelos Guardiões da Galáxia, da Marvel, mas acaba entregando apenas uma estética fotorrealista genérica que mais se assemelha a uma adaptação live-action tosca de Hollywood do que tudo. Provavelmente, esse é um dos principais fatores que fizeram com que o jogo não chamasse tanta atenção do público desde o anúncio de seu lançamento, feito em uma State of Play.
Oito anos atrasado
Adicionalmente, Concord está chegando ao mercado de forma semelhante a como Overwatch chegou há oito anos. O jogo custa R$ 200, oferece um pacote com pouco conteúdo e justifica esse valor ao não incluir passes de batalha nem outras formas de monetização recorrente, pois a liberação de cosméticos está associada ao cumprimento de objetivos específicos durante as partidas. Porém, de 2016 para cá, muita coisa mudou no mercado de jogos, incluindo uma transição em massa de games multiplayer AAA para modelos gratuitos, adotado até pelo próprio shooter da Blizzard.
Atualmente, já existem várias alternativas dentro desse sub-gênero de hero shooters que estão bastante abastecidas em termos de conteúdo e que não possuem uma barreira de entrada alta como a de Concord, que é agravada pelo fato dos jogadores de console precisarem pagar pela assinatura da PlayStation Plus além do valor do jogo em si.
Muitos desses games que competem com o shooter da Firewalk também já eliminaram seus problemas de balanceamento, algo que ainda não ocorreu com Concord. Dependendo da composição do time e do personagem escolhido, isso pode causar partidas injustas, com personagens pouco eficazes que demoram demais para desempenhar suas funções no campo de batalha.
Flopou
Concord tem ideias interessantes e está longe de ser um jogo ruim, mas é inegável que ele chegou tarde ao mercado. Todos os outros hero shooters já estão em um estado ideal, enquanto a Firewalk está engatinhando. A pergunta é uma só: por que se importar com o game, se não existem muitos motivos para isso? Nem a narrativa, que poderia ser um grande diferencial, chama atenção o suficiente. É louvável que o jogo não tenha passes de batalha e ofereça um sistema de progressão sem pegadinhas, mas boa parte da comunidade não se importa com isso – muito pelo contrário, dado o sucesso desse modelo de negócios e a preferência geral por experiências gratuitas.
Pode ser que o jogo melhore no futuro, claro, dependendo principalmente da vontade da Sony em continuar investindo no título. Mas o custo alto, o balanceamento inconsistente e a ausência de gráficos distintivos fazem com que Concord seja lançado já sem muita relevância, representando um desafio dobrado para seus responsáveis, que terão que cativar mais jogadores ao mesmo tempo em que tentam agradar os pouquíssimos que gostaram do que viram antes do lançamento. Como esse é um jogo de serviço, resta aguardar até que ele esteja sendo vendido por um preço acessível, numa versão que realmente valha a pena jogar… ou não.
Uma breve atualização, dias depois que esse texto foi originalmente escrito: em nota divulgada através do blog oficial do PlayStation, a Sony informou que desligou os servidores do título no dia 6 de setembro de 2024 – ou seja, um pouco mais de duas semanas após o lançamento do título, que teve seus serviços iniciados oficialmente no dia 20 de agosto. Ninguém que comprou o jogo saiu no prejuízo, já que a publisher irá reembolsar o dinheiro investido na compra do game, ao mesmo tempo em que diz que irá explorar melhores opções para atingir mais jogadores no futuro. Entretanto, só o tempo dirá como Concord voltará ao mercado – se é que realmente voltará.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno
Concord
Prós
- Boa jogabilidade
- Desempenho no PC é agradável
Contras
- Valor alto
- Visuais poucos distintivos
- Balanceamento ruim
