Depois de quase dois anos desde seu lançamento nos consoles da Sony, God of War Ragnarök finalmente está chegando ao PC. Produzido pela Santa Monica Studio, o game continua a aventura de Kratos e Ateus em uma jornada épica ambientada num universo fantasioso deslumbrante. No entanto, apesar de oferecer uma boa jogabilidade e um port sólido, a experiência é prejudicada pelo ritmo lento da narrativa e pela linearidade da campanha.
Desenvolvimento: Santa Monica Studio, Jetpack Interactive
Distribuição: PlayStation Publishing LLC, Sony Interactive Entertainment
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Interface, dublagem e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5
Duração: 35 horas (campanha)/54 horas (100%)
Inimigos do fim
Situado três anos após seu precursor, God of War Ragnarök retrata a vida em nove reinos distintos que estão imersos nos efeitos do Fimbulwinter, um inverno longo e severo que precede o Ragnarök. Enquanto lidam com as consequências dos acontecimentos passados, Kratos e seus aliados tentam prevenir esse grande evento apocalíptico da mitologia nórdica que representa o fim do mundo.
O título possui uma apresentação surreal. Tudo é exibido através de um plano-sequência que, na maior parte do tempo, é muito bem dirigido. Entretanto, várias cenas se limitam a mostrar as costas dos personagens, com pouco foco nos belíssimos cenários, que possuem uma escala fantástica. As batalhas contra os chefes são sensacionais e grandiosas, com coreografias magistralmente executadas que entregam uma experiência alucinante – mas só nos momentos em que a trama não está presa em fases lentas e maçantes.
A narrativa põe o desenvolvimento dos protagonistas em primeiro lugar, com foco em Atreus, que agora é um adolescente lidando com seus dilemas pessoais e familiares enquanto seu pai tenta lutar contra a profecia de sua própria morte. É uma aventura emocionante, embora tenha um ritmo inconsistente para um jogo de ação. Em adição a campanha, há um modo roguelite que revisita o passado de Kratos na Grécia, sendo um pacote completo que encerra a saga nórdica da franquia de maneira espetacular, apesar de suas imperfeições.
Novidades na jogabilidade
Com vários quebra-cabeças e eventos de ação rápida, a gameplay de God of War Ragnarök segue a mesma linha de seu antecessor, proporcionando um hack ‘n’ slash cadenciado e compatível com a proposta do jogo, mas ainda com os exageros característicos da série.
Como principal novidade, essa sequência permite que Atreus também seja controlado em certos momentos da campanha. Ele é equipado com um arco e possui um estilo leve, mas agressivo, que resulta em uma jogabilidade tão boa quanto a de Kratos. Além disso, diversos personagens acompanham os protagonistas na aventura, cada um com habilidades únicas que são úteis no combate e na resolução de puzzles.
Uma das principais críticas recebidas pelo jogo quando foi originalmente lançado refere-se justamente aos quebra-cabeças, pois os companheiros davam a solução automaticamente, atrapalhando o progresso de quem queria resolvê-los por conta própria. Ainda assim, vários puzzles são mal explicados, sendo tão confusos a ponto de vídeos com as soluções acumularem mais de 500 mil visualizações no YouTube. Mas, para resolver isso, os produtores implementaram uma opção que permite aumentar o tempo até que a ajuda seja oferecida ou eliminar completamente a mecânica, criando um balanço satisfatório para todos os jogadores.
Linearidade prejudica a aventura
Há uma lista enorme de configurações de acessibilidade que permitem personalizar a experiência de acordo com as preferências de cada jogador, indo além de simples opções de dificuldade. Dá para alterar os aspectos visuais e sonoros do título, adicionando sinais que indicam o momento de realizar uma ação específica ou incluindo dicas adicionais no game. Só não é possível ampliar o campo de visão, que é limitado e resulta em uma jogatina desconfortável em monitores.
Contudo, o fato de God of War Ragnarök ser uma experiência cinematográfica faz com que parte da gameplay seja bastante travada. O jogo sofre de uma linearidade extrema que coloca o evento atual da narrativa acima de qualquer outra ação – por exemplo, não é possível abrir um baú ou escalar até outro lugar enquanto se luta contra inimigos, uma vez que é necessário derrotá-los para voltar a um estado livre, até que outro evento comece.
Essa linearidade afeta até a velocidade que o protagonista pode andar ao mesmo tempo que conversa com alguém, e como há algo acontecendo em praticamente todo instante da jornada, essas restrições ocorrem com frequência. Isso, somado ao ritmo expositivo da trama, aos poucos torna o game cansativo de se jogar, apesar de suas qualidades.
Bem otimizado, mas poderia ser melhor
Os desenvolvedores projetaram God of War Ragnarök com a intenção de levar o hardware do PS4 ao limite, resultando em uma experiência consideravelmente leve para processadores e placas gráficas atuais – em contrapartida, não há suporte a tecnologias modernas, com o ray tracing. O desempenho agrada, e o jogo traz todas as opções esperadas em um título de PC, além do suporte ao ultrawide, upscaling e a geração de frames, que garante uma performance satisfatória até em hardwares mais modestos.
Existem alguns problemas técnicos, como travamentos aleatórios e quedas extremas na taxa de quadros quando os protagonistas caminham em direção a outro reino. A apresentação também é prejudicada por um VSync que não funciona e causa rasgos na tela em qualquer uma das opções disponíveis. Adicionalmente, há falhas no áudio que deixam o volume de certos personagens excessivamente baixo, prejudicando a compreensão dos diálogos – que, vale destacar, contam com uma excelente dublagem em português.
O game não oferece um esquema confortável para o mouse e teclado, fazendo com que o uso de um controle seja a melhor opção. Porém, o suporte ao DualShock 4 não funciona corretamente, porque os botões são exibidos sem uma função real no jogo. Esses pequenos problemas comprometem a qualidade do título, mas, ao menos, a Sony não costuma decepcionar em relação ao suporte pós-lançamento de seus ports, restando apenas aguardar para que essa versão de PC atinja um estado técnico à altura do restante do pacote.
Bonzinho de guerra
God of War Ragnarök é uma obra impressionante, embora possua uma campanha inflada e interminável. Os gráficos são espetaculares, e o plano-sequência demonstra o potencial máximo de um jogo cinematográfico, que poderia ser ainda melhor se não tivesse uma gameplay demasiadamente linear. Mesmo com essas falhas pontuais mencionadas, a versão para computadores dessa grandiosa aventura é uma recomendação imperdível para todos os fãs da saga.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno